terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Escrevendo um Romance 9ª Parte


CAVALEIROS E EXORCISTAS

 ©2011 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

 ATILA E A MORTE DA MEDUSA

Passaram-se vários meses e Aquiles ainda continuava com Yara perpassando a sua alma. Não comia e nem mesmo dormia há dias. Passava todo o tempo olhando para o nada. Michelangelo e os outros começaram a ficar preocupados com seu líder. Bonelli chegou inclusive a temer que Aquiles poderia atentar contra a própria vida naquelas condições.
O pajé guarani dizia que com algumas ervas poderia espantar o espírito que pesava sobre os ombros do monsenhor. De certa forma Vossa Santidade, como homem de Deus e de formação filosófica e teológica, pensa como eu ser uma bobagem que uma simples erva consiga tal feito.
Mas nas condições que estávamos podíamos recorrer a qualquer coisa para recuperar o animo perdido de nosso líder. Enrico se predispôs a ajudar no que fosse possível. O pajé indicou umas ervas de cor avermelhadas que podiam ser colhidas bem perto da cascata próxima a aldeia.
Na mesma hora lembrei-me e disse para Enrico que foi ali que Aquiles viu a rainha das águas. Adverti que ele deveria ter cuidado, pois poderia ser enfeitiçado assim como o nosso mestre fora. Enrico logo declinou e desistiu de ir a traz da erva. Coube a eu fazer isto, além do mais, no fundo do meu intimo eu queria ver de perto tal divindade.
À tarde fui na cascata e ali peguei as benditas ervas que o velho pajé guarani dissera que estariam. Também, vi o lugar descrito por Aquiles e não vi nada que transparecesse magia ou qualquer estranhamento.
Notei somente que a água do rio era cristalina e refletia a luz da lua. Olhei para a margem e vi meu reflexo na água tão bem quanto se estivesse mirando um espelho. Na mesma hora temi ficar hipnotizado com tal reflexo e como o mito de Narciso morrer afogado de tanto se admirar.
Com as ervas em poder resolvi logo voltar para a aldeia lembrei-me da face distanciada de Aquiles e fiquei com medo de travar olhar com Yara. De repente bolhas começaram a emergir na superfície do rio. Ondulações apareceram como se alguém tivesse jogado uma pedra na água. O vento começou a soprar violentamente e um som como de melodia de flauta chegou aos meus ouvidos.
Agarrei-me ao terço que levo na cintura e pedi que Nossa Senhora mandasse um anjo para me defender, já que nem espada eu tinha. Um tufão apareceu na margem e em seguida dentro dele uma silhueta que foi ficando mais nítida. A estranha silhueta era humana para os meus olhos. A forma era de uma mulher que estava na água portando uma coroa e lindos olhos azuis. Só poderia ser Yara (pensei comigo mesmo).
Ela foi chegando mais perto da margem, até que eu percebi que o seu dorso era de peixe no lugar das pernas. Na hora a cena me deu medo e a vontade de correr foi enorme. Porém, algo disse para o meu intimo para que eu ficasse.
Yara, a rainha das águas, a deusa dos nativos começou a falar comigo:
-         Francisco não tenha medo de mim. Não quero lhe fazer mal. Quero falar contigo!
Fiquei como uma planta. Estático e sem saber o que fazer. Em seguida tomei coragem e respondi a ela:
-         Tu és a deusa dos nativos. O que quer de mim, eu um seguidor de outro Deus? Deseja de mim alguma oferenda?
-         Não quero oferenda tua, pois não é meu seguidor. Sei que teu Deus-homem é a sua força de vida. Quero saber onde estas Aquiles?
-         O que quer com o monsenhor Aquiles? Já não basta o que fez tirando-lhe o sono e deixando ele sentir desejo carnal por ti?!
-         Não fui eu que lhe aticei o desejo e o amor. Foram as suas leis de não sentir prazer que fizeram isto! Se ele amasse, não teria tanta aflição no coração agora!
Como ela poderia dizer tal coisa de meu mestre. Ele é um homem de Deus! E o amor é a nossa lei. Fiquei confuso e depois enfurecido com vil parecer repliquei a deusa dos nativos:
-         O meu mestre abriu mão dos prazeres do mundo para abraçar a Cristo! Não é fácil viver entre dois mundos. Tu és divindade está acima do bem e do mal. Não sentes solidão e nem frio e calor. Tua energia é suprema!
A sereia então passou a mão nos cabelos negros que ostenta e voltou a falar:
-         Vou lhe contar algo que ilustra o amor: Um dia, um cavaleiro de nome Atila veio até a mim, como Aquiles. Ele disse que queria a paz e que estava cansado de empunhar sua espada encharcada de sangue de homens, mulheres e crianças. Senti pena de sua humanidade e de sua contradição. Pela primeira vez entendi porque nós divindades criamos os homens: o homem ama e sofre e isto basta para coloca-lo acima de outras criaturas. Algum tempo depois Atila começou a me visitar constantemente. Todo dia ele deixava um girassol na margem para eu enfeitar meus cabelos. Certa noite, ele chegou com sua armadura brilhante e pensando em me ver perfumou-se todo. Mal sabia ele porem, que quem estava na margem do rio era a mãe da grande Jibóia: metade mulher, metade cobra e com asas de abutre. Ela sustentava na cabeleira um serpentário e veio até Atila para devora-lo. Em reação a seu ataque Atila lutou com ela a noite inteira. Eles batalharam no rio e somente depois que Atila atravessou o coração dela com sua espada pelas costas a mulher cobra tombou!

Ouvi a historia e por um momento torci pela coragem de Atila e o admirei. A sereia continuou seu relato heróico:
-         Quando cheguei vi Atila todo ferido pela luta deitado na margem do rio. Nadei até ele e vi que a seu lado a mãe da jibóia estava sem vida. Na hora chorei por ela, pois, como eu ela fazia parte da mata e não merecia tal destino. Depois resolvi acolher Atila e com os meus beijos em seus lábios devolvi-lhe a vida que estava quase perdida. A paixão me fez aceitar a sua humanidade, mas não os seus erros. Pedi a ele que fosse embora e nunca mais me visitasse. Nunca mais eu o beijaria novamente. Ele se foi e depois soube que ele resolveu recolher o corpo da mãe jibóia e expor-la como troféu para os seus consortes.
A sereia ficou em silêncio. Senti o peso do amor que ela sentia por Atila e percebi que mesmo os deuses podem ter pecados do homem no coração. Depois de ouvir Yara resolvi partir, mas ela disse que Aquiles deveria se restabelecer, pois queria falar com ele rápido. Eu entendi e levei as ervas para curar o meu mestre.

  

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