quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Arte de Desenhar 3: tecnicas de esboços


O ato de desenhar seja uma figura do dito mundo real ou do abstracionismo ( já que não importa o desenho todo ele é figurativo) depende antes de tudo de uma técnica que o artista possui. Mesmo em cursos de desenhos o que o artista geralmente aprende é como por em prática sua capacidade de observação sobre o mundo.
Para os meus alunos do ensino EJA, e mesmo para crianças pequenas, o ato de abstrair formas depende muito mais da percepção individual do que o chamado 'dom' artistico e visto como mágico que muitos podem atribuir.
    
A maioria dos desenhista aprende de forma autodidata copiando os trabalhos de outros artistas de forma não acadêmica. Qual criança não usou uma folha de papel vegetal e copiou aquela imagem do super-herói que viu nos gibis? Quem nunca tentou fazer o retrato de algum parente, mesmo sem saber como?
Esta busca de tentar representar algo mesmo sem uma técnica adequada é importante, pois é apartir de erros  e acertos que você consegue transformar linhas em algo reconhecivel para o olho.

Uma das tecnicas mais usadas pelos artistas e que ajuda muita gente a desenhar melhor é o esboço. O esboço seria um esqueleto préliminar de uma figura humana ou qualquer outro objeto com linhas tenues e determinadas na folha de papel. Ao contrário do que muitos engenuamente pensam, nenhum artista desenha um rosto ou uma paisagem de forma direta.

Com o esboço o erros de retratar uma figura se tornam menores. Logicamente que nenhum olho humano por mais perspicaz que seja não tem a capacidade de retratar em total fidelidade uma figura humana (infelizmente somente a máquina fotográfica consegue tal milagre). O nosso olho capta o que é mais superficial é portanto não conseguiria retratrar com total fidelidade uma figura.

Através do esboço de uma cabeça em forma ovalada e com marcações de onde estaria os olhos, nariz e boca fica mais fácil retratar alguem. O mesmo esboço serve para retratar mãos, pés, braços e outras partes do corpo humano que requer paciência de observação.

Outro ponto importante é que o esboço ajuda na criação de poses (muita gente tem dificuldade com poses mais do que o com rosto). Não é facil desenhar alguem sentado em uma cadeira em determinada direção ou fazer escorços ( poses de frente, debaixo para cima ou de cima para baixo).

Estas mudanças de angulos podem ser experimentadas durante a produção do esboço e somente assim ganhariam naturalidade quando se tornam arte final. Para estes angulos o remédio é mesmo o estudo de perspectiva, na qual você consegue visualmente calcular o tamanho da figura em relação ao fundo de cenário.

Os pintores antigos como Leonardo e Jan Van Eike e Dürer trabalhavam constantemente com esboços e somente assim conseguiam retratos maravilhosos como o da Monalisa.

sábado, 26 de maio de 2012

Escrevendo um romance: 21ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS


©2012 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Aquiles Reencontra Yara

Já era de manhã quando Aquiles vislumbrou o sol majestoso da ilha. Bem disposto depois de um descanso na cama suspensa dos guaranis, o monsenhor procurou os seus soldados para a grande partida para a aldeia das amazonas. O pajé guarani pediu que ele ficasse para um ritual de despedida. Diana, contudo, estava muito apressada e mais uma vez persuadiu o mestre para este evitar a pajelança e partir sem demora.
Aquiles não quis fazer desfeita ao anfitrião e aceitou participar do ritual. O pajé chamou um dos índios e disse em sua língua para preparar tudo. Resolvi me prontificar para ajudar, mas o pajé disse que ‘os homens brancos deviam esperar, pois os preparativos do ritual somente poderiam ser feitos por guaranis’.
Resolvi então ajudar Michelangelo que estava recolhendo nossas armaduras e outras armas em uma carroça. Também coletou umas ervas e alimentos para a viagem que era longa até a aldeia das amazonas. Bonelli ainda estava consternado pela morte de Enrico. O consolei falando da teologia de Santo Agostinho sobre a cidade no Céu onde tudo é alegria e não existe mais dor. Ele com a voz engasgada disse ter desejado ir para este lugar e assim não mais ter de participar de combates. Entendi a sua tristeza e o deixei com a sua solidão e lembranças do amigo.
Finalmente pude conversar com Diana. Olhei para os seus olhos cor de mel e sua pele ocre e suspirei disfarçadamente. Ela também me fitou e soltou um modesto sorriso. Disse que estava cansada e que logo tudo ficaria bem. Eu perguntei se o alivio venho de nossa partida. Ela viu que eu estava triste e pensou antes de responder. Depois, confirmou que já era hora de partirmos, mas também disse que sentiria saudades, pois, aprendeu a nos respeitar e aceitar nossas diferenças. Fiquei feliz com esta fala dita por ela e senti que poderíamos ainda conversar mais, talvez, quem sabe eu pudesse voltar a beija-la.
Depois dos rituais que participamos, finalmente seguimos viagem. Andávamos muito e Diana estava muito ansiosa. Os guerreiros guaranis resolveram nos escoltar até uma parte do trajeto e depois seguimos sozinhos. Olhei para trás e comecei a sentir falta do rio e das brincadeiras dos índios (no fundo de minha alma, eu já me sentia em casa com eles).
Quando o sol estava no meio do céu havíamos finalmente posto os pés no território das amazonas. Há muito tempo não visitávamos a aldeia das guerreiras. Fúria no pátio nos esperando, enquanto as outras mulheres faziam os seus afazeres do dia. Fúria me pareceu mais envelhecida do que quando partirmos. Sua face põe ainda transparecia serenidade e a sabedoria escapava de suas rugas.
Segurando o seu cajado ela veio até nós e disse:
-         Vejo que voltaram vivos de sua batalha. Conseguiram o que foram buscar?
Aquiles mostrou a caixa, porém manteve em segredo o seu conteúdo e retrucou:
-         Conseguimos e agora viemos cumprir a nossa promessa.
Fúria olhou para Diana e Buldica. Abraçou as filhas e depois de uma longa cena de ternura voltou a falar com o monsenhor:
-         Minhas filhas voltaram sã e salvas! Você é um homem de honra e acredito que das suas palavras saem a verdade. Vamos comer um pouco e depois falaremos de sua partida.
Aquiles aceitou a proposta e pediu para que seus comandados descessem de suas montarias, enquanto descarregávamos. Eu quis voltar a falar com Diana. Segurei em seu braço. Ela olhou para mim. Nos entreolhamos e no fim eu acariciei o seu rosto. Ela fechou os olhos e fazendo uma expressão de desaprovação saiu de perto de mim. Fiquei olhando ela ir embora com suas irmãs para dentro da oca, com a sensação de ressentimento no ar.
Depois do almoço, Aquiles procurou Diana ter a audiência com Yara. Ela disse para ele segui-la até a margem do rio. Os dois então desceram até o riacho onde Aquiles havia muitas vezes falado com a rainha das águas.
O mestre notou que em uma gruta próxima do rio as amazonas construíram um altar e nele colocaram uma imagem de barro de Nossa Senhora. Aquiles nunca conseguiu entender porque os nativos faziam confusão entre a mãe de Jesus e a rainha das águas. Diana sentou-se na margem do rio e invocou a rainha com seu ritual indígena. Depois, o rio se transformou em um lençol de luz resplandecente e como por magia Yara apareceu de nada na margem do rio com sua enorme cabeleira negra e seus lindos olhos azuis.

Aquiles contemplando a linda face da criatura pulou no rio e foi ao seu encontro. Mais uma vez a cena se repetia: Yara olhava com amor para Aquiles e este devolvia o olhar com o semblante quase patético de devoção.
A rainha colocou a sua mão sobre a de Aquiles e começou a falar:
-         Você voltou! Achei que tinha esquecido de mim.
Aquiles com o brilho nos olhos retrucou:
-         Nunca te esqueci meu amor! Não importa onde eu estiver na minha alma tu ainda és o meu sol.
-         O teu céu ainda é muito escuro para eu brilhar nele. Contudo, diga Aquiles, o que lhe traz aqui?
Aquiles abaixou a cabeça e com um silêncio suspirou fundo. Depois, levantou a cabeça e com os olhos marejados resolveu balbuciar:
-         Eu vim dizer adeus! Não queria partir sem poder contemplar teus olhos azuis e seu rosto de anjo.
-         Vocês homens de pele esbranquiçada procuram capturar os seus deuses com imagens de barro. Por que não fez uma imagem minha para satisfazer os seus desejos?
-         Somente Pigmaleão com ajuda de Vênus poderia dar vida ao que não respira. Barro é somente barro e mais nada!
-         Tu me desejas e sabes que o nosso amor não pode se concretizar. Tu és da terra e eu do mundo espiritual.
-         Se for pecado desejar ficar contigo, morrerei então como pecador.
-         Deixaria teu mundo para viver comigo?
-         Deixaria até a minha fé em meu Deus para ficar ao teu lado!
O monsenhor parecia até enfeitiçado dizendo palavras tão estranhas saindo de sua boca. Porém, a feitiçaria surtiu efeito, pois, a sereia e o homem trocavam caricias e beijos tendo o cronista que lhes fala e a lua como testemunhas.
Por um momento pensei que os dois consumariam o amor em meio a cenário tão exótico. Todavia, Diana teve a sua concentração interrompida. Uma guerreira amazona gritou por seu nome aflita. Aquiles e Yara ouviram os gritos e como resultado a sereia sumiu no rio dando um mergulho. O mestre ficou só e confuso com a situação.
Diana conversava com a amazona quando o monsenhor aproximou e resolveu se intrometer no assunto. Diana olhou para ele e pediu que fosse imediatamente a aldeia. Os dois chegaram esbaforidos quando encontraram a pajé Fúria. Aquiles queria saber o que estava acontecendo. Fúria relatou que um guarani ferido chegou até a aldeia. O monsenhor pediu para vê-lo.
A pajé levou o monsenhor para a grande oca e lá deitado em uma cama suspensa estava o índio guarani. Bastante debilitado e com um ferimento muito feio na costela esquerda. Aquiles percebeu que o ferimento produzido por um instrumento perfurante. Ele então pediu para o índio relatar o que havia ocorrido.
Com muita lerdeza na fala o índio falou em seu dialeto e Diana teria que traduzir o que ele balbuciava. Depois de muito falar o índio arregalou os olhos e enfim entrou em sono eterno. Todos se entreolharam e depois Aquiles pediu para Diana falar o que o índio tinha dito. Com semblante assustado ela segurou no braço forte de Aquiles e disse:
-         Atila atacou a aldeia guarani! Ele dizimou os nativos procurando a relíquia. Agora, ele está vindo para nossa aldeia e pretende fazer o mesmo!
Aquiles ficou petrificado com a noticia de que seu inimigo ainda estava disposto a nos matar.

Helio Medeiros parou a leitura nesse momento. A platéia já envolvida no relato das cartas parecia querer ouvir mais e como uma criança que ouve histórias contadas por uma avó perto da fogueira, pedia desesperadamente pelo que viria a seguir.
O reitor então interveio dizendo que era hora de um pequeno intervalo de vinte minutos. Parte da platéia se levantou e aproveitou o momento para descansar em uma cafeteria próxima da faculdade. Helio dava autógrafos e ao mesmo tempo saboreava um caputino. Ao seu lado estava a professora formosa e o reitor.
Os vinte minutos passaram rapidamente e depois de mais alguns minutos de atraso, Helio enfim subiu ao palco novamente para voltar a ler as cartas de Francisco.

Sessão Sai Capeta: A Invenção do Diabo


Em 2009 resolvi fazer uma pós-graduação. Nem havia 6 meses que eu tinha me formado em licenciatura em Artes Visuais e com medo de me distanciar do universo acadêmico e com uma forte curiosidade de aprender mais coisas legais resolvi pós-graduar.

Na hora de escolher um tema para o termino do curso na minha mente a primeira coisa que me veio foi a obra literária do Dante Alighieri ( A Divina Comédia) e as pinturas do pintor holandês Hieronymus Bosch. Sempre tive um fascinio pelo desconhecido e pelo sobrenatural. Além, de que fui criado em um ambiente católico bem tradicional: me lembro que a minha mãe para nos assustar dizia que Deus estava vendo tudo o que eu fazia de errado; ou que o Diabo iria aparecer à noite para puxar o meu pé na cama por ter feito traquinagens.
 
Enfim, esse ambiente foi a base para eu estudar a imagem do Diabo no mundo artístico. Fiz uma pesquisa sobre o mundo medieval e o comportamento dos homens daquela época (diga-se de passagem não muito diferentes de nós contemporâneos). O estudo me levou a criação da imagem do cramunhão e como a Igreja, ás vezes, se beneficiava do medo que a população tinha para manter um certo poder social e cultural.

Quando digo que o Diabo teve a sua imagem criada, não estou dizendo que Ele não exista. Pelo contrário, nos cristãos vindos da relação paganismo/ judaismo/cristianismo que gerou a fé Ocidental, somos uma mistura de negação e afirmação e de hibrido de crenças peculiares e estranhas.
Os hebreus por exemplo, rejeitavam o bode por ser um animal arredio e mal cheiroso, ao contrário viam nas ovelhas e pombos símbolos positivos divinos e por isto, aparecem em sacrificios para acalentar  Deus em vários trechos da Biblia. Os babilônios e sumerianos tinham divindades que se pareciam com o bode (Bathomet e Baal) que para os hebreus seriam representações do Diabo ( foi da rejeição do judeu ao bode que também surgiu o termo 'bode expiatório').
 
Mais tarde os hebreus terão contato com os gregos e principalmente com os romanos. Os romanos tinham o deus Dionisio como uma das suas divindades preferidas por este representar o vinho e as orgias. Dionisio ( ou Baco) tinha como um de seus servos o Sátiro ( uma mistura de criança com chifres e pés de bode que tocava uma flauta para atrair as ninfas). Os hebreus vendo as estátuas do Sátiro espalhado nas cidades romanas logo se lembraram das imagens de Baal e Bathomet criando em sua imaginação uma semelhança e claro, uma rejeição.

Quando os escravos romanos se converteram ao Cristianismo, muitos deles mantiveram seus costumes pagãos encobertos por valores da nova religião pregada pelos apóstolos e assim surgiriam as estatuas de Jesus ( o que contradizia a fé hebréia de não se fazer obras que retratassem o Deus de Israel, para não provocar a idolatria) e as pinturas icônicas que se tornariam posteriomente propagandas da Igreja Católica para converter e catequisar fiéis no mundo inteiro.

E o Diabo? Bem, o Diabo ganhou as feições de Sátiro e dos deuses babilônicos e sumérios, depois o tridente do titã Poseidon como arma de tortura. Também ganhou o Hades grego como lar e assim temos em nosso incosciente coletivo o Inferno cristão que na Biblia sagrada era citado de forma vaga. Em nenhum momento das escrituras há uma citação fisica do Diabo ( apenas se diz que Ele era bonito e depois ficou feio e só). O resto coube a imaginação de escultores e pintores da Idade Média.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Caricaturas, Charges e Cartuns: deformação e sátira


A ideia da deformidade na arte parece ser algo recente, porém começou ainda na arte icônica do periodo bizantino e passando pela arte renascentista dos países  baixos e do maneirismo italiano. Tanto os ícones bizantinos quanto na arte da renascença dos países baixos os artistas procuram ser mais emocionais do que tecnicos, claro que o pouco naturalismo na pintura dos retábulos icônicos tinham haver mais com o poder de persuação da Igreja do que o paganismo exasperado tipico dos artistas holandeses que procuravam mostrar os detalhes de um rosto e suas imperfeições.
   
Talvez venha daí o que seria chamado mais tarde de caricatura. A capacidade do artista de retratar um personagem mantendo suas nuances mais excenciais para mante-lo reconhecível e ao mesmo tempo colocar exageros anatômicos nele parece a primeira vista algo simples. Contudo, requer um censo de observação único.
 
Mas o que diferencia a caricartura da charge? O que é um cartum? Os três estilos parecem beber da mesma fonte e possuem a ideia de deformação como fator primordial. Como já foi dito acima na antiguidade já se trabalhava a deformidade fisica. Pintores como Bosch e Bruegel e maneiristas como Parmigianino faziam retratos de figuras ilustres e mesmo quando ficcionais com uma deformidade, às vezes, na maioria não intencional. De certa forma a deformidade destes artistas é muito mais uma tecnica de retratação tentando ir em outra direção da visão classica greco-renascença que tinham Rafael como símbolo.

Mais tarde no século XVIII com o surgimento da imprensa na Inglaterra surgem os chargistas: artistas que ilustram uma cena com humor apelando para a deformação de figuras. Estes artistas que pareciam se inspirar no pós impressionismo de Gauguin e Van Gogh pavimentariam o que seria chamado mais tarde de caricatura e cartum.

Ainda no século XX no período entre guerras o movimento expressionista alemão e o Realismo russo teriam como principal caracteristica a deformação e a sátira sobre governos e instituições tradicionais como a Igreja e a familia. Logicamente que a deformação expressionista era mais conectada a melancolia e a angustia sobre um mundo violento, enquanto as obras realistas feitas na Russia e na América do Norte tem o escárnio como fonte.

O escárnio do inicio do século XVIII e do pós guerra e o cinismo do mundo pop seriam as bases do que hoje vemos no cartum: charges em que personagens deformados ilustram um fato cotidiano com um olhar irônico.

No Brasil cartunistas como Henfil ou as charges dos irmãos Caruso e os cartuns de Angeli, são o exemplo mais sólido desta forma de linguagem artistica em nosso país. Sempre de forma contundente tocar o dedo na ferida de nossas instituições publicas e celebridades.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dinheiro, Fama e as ilusões do mundo artistico


A recente venda da obra do pintor Edward Munch por 119 milhões de dolares, reacendeu em alguns grupos que estudam a arte qual seria a relação dinheiro/fama e valor artistico de uma obra. Estava eu fazendo uma analise em sala de aula da famosa obra em questão intitulada 'O Grito', para os meus alunos do ensino médio da EJA, quando um deles lançou a seguinte questão: Por que esta obra tão 'feia' vale tanto dinheiro?

A sinceridade do aluno e sua curiosidade em saber como uma obra de arte pode ganhar tanto valor financeiro, me fez parar a aula e pensar um pouco (não é fácil explicar essas coisas...). Logicamente, que a sua visão estetica da obra tem haver com o senso comum ( para muitos e especialmente os leigos em arte, uma verdadeira obra tem que ser extremamente figurativa e se possivel mais perto de uma realidade quase fotográfica).
  
Não levei a serio o seu julgamento estetico, porém a parte ligada ao valor financeiro que a obra agregou ainda teria que ser respondida. Pensar na obra de Munch e como ela atua no mercado de arte traz outras questões sobre outras obras famosas que vez ou outra os alunos me perguntam: Quanto será que vale a Monalisa? Quanto vale o mictório de Duchamp? Será que ha como mensurar financeiramente a Capela Sistina pintada por Michelangelo?

A relação dinheiro e arte para muitos parece contraditória, ainda mais que na história da arte houve inumeros casos de artista que não ganharam nada em vida com suas obras. Sempre alguem irá citar o triste destino de Van Gogh ou claro, a própria morte de Munch (dizem que ele não conseguia vender suas obras em vida e morreu com elas guardadas em sua casa). Existem inumeros preconceitos ligados a quem se dedica as artes visuais  do tipo 'fazer arte não é futuro para ninguem', 'estudar arte é sinônimo de passar fome', 'meu filho estude Direito ou Medicina, Artes é para vagabundos!'...
  
Se olharmos para o passado do mundo artistico veremos que existiram artistas que em vida conseguiram o reconhecimento antes de sua morte ( Basquiat, Picasso, Andy Warhol, Dalí...) e não podemos deixar de dizer que para os afortunados as obras de arte são mais investimento financeiro quase igual a um imovel. Por isto é tão comum os ricos comprarem  e venderem obras de arte: um comprador de uma obra de arte costuma mante-la guardada longe do publico por alguns anos, até ele poder vende-la pelo triplo do preço que a adquiriu. A especulação em torno da obra muito parecida com a especulação imobiliária provoca tal fenômeno.

Futuramente a obra de Munch daqui alguns anos será leiloada pelo dobro do preço e assim manterá o tão restrito e milionário mercado de arte que desde os surgimento dos mecenas e burgueses sobrevive desta forma.

domingo, 13 de maio de 2012

Andy Warhol e a Art Pop


Em 1987 o mundo da arte perdia Andy Warhol. Considerado por muitos o papa da chamada Pop Art. Filho de poloneses que imigraram para os EUA nos anos 50, Andy Warhol era tido como uma criança introvertida com aparência estranha vitima de uma doença que lhe deu manchas em sua pele muito esbranquiçada.

Para fugir das dificuldades sociais e financeiras, colecionava imagens de ícones do cinema e TV e também era fascinado pelo mundo do mass media. Se formou na area de design e publicidade e passou a trabalhar com o universo que tanto admirava.
Contudo, ele se tornaria o artista plastico famoso e lendário no final dos anos 60, transformando as suas ilustrações e trabalhos de serigrafia e fotos em um retrato da chamada contra-cultura e do underground que emergia nas grandes cidades americanas.
  
Sua escultura feita de caixas de sabão e sua pintura retratando uma lata de sopa, logo chamaram a atenção sendo alvo de escarnio e depois de admiração do seleto mundo das artes. Não demorou muito e Warhol já circulava entre celebridades do cinema, politicos e socielites.

Foi padrinho do artista do grafite Michel Basquiat e de bandas de rock como o Velvet Underground. Também fez filmetes experimentais já prevendo o inicio dos video clipes e das video artes. Fotografou muitos artistas como Dalí e o rei do futebol Pelé.
 
E só para terminar cunhou a frase que se tornou mantra do mundo contemporãneo: ' Todos terão seus 15 minutos de fama!'. Enfim... Graças a Andy Warhol temos os caçadores de fama instantaneos como os BBB's e artistas de obras tão volateis quanto desnecessarias. Não ha como ficar indiferente com os trabalhos de Warhol e de sua controversa função no mundo das artes.

Construindo um Robô Eletrico

resolvi voltar a falar do tema  da confecção de esculturas, pois percebi que muitas pessoas gostam das postagens relacionadas a esta linguagem artistica. Quero agradecer desde já a todos que apreciam o meu trabalho, bem como àqueles que querem saber  como fazer uma escultura seja de durepox, papel marché, sucata...

Para os que gostam da confecção de esculturas apartir de sucata, trago a minha experiência com a construção de um robô caseiro. Eu ja postei a possibilidade de confeccionar um robô com caixas de suco. Este que eu vou mostra-los agora é um feito de motor de barbeador eletrico e com partes de guarda chuva.
Este robô se movimenta através de corrente eletrica e ainda desenha. Para os que querem fazer tal obra dou os seguintes materiais:
-um barbeador eletrico;
-astes de guarda chuva;
-durepox;
-tinta plastica ou esmalte;
- caneta esferográfica;
-escova de dente;
-liga de borracha.
Modo de construção:
Pegue um barbeador eletrico sem lamina, mas com o motor intacto ( ele tem que estar ainda em funcionamento) e use como suporte de seu robô; depois cole em suas laterais astes moveis de guarda chuva (assim terá as pernas do seu robô); depois pinte-o. No meu caso eu transformei o meu robô em uma escultura estilizada; para terminar prenda com uma liga de borracha uma caneta esferográfica na cabeça do seu automato; cole embaixo de seu robô uma escova para assim a sua máquina poder deslizar no chão e se movimentar com facilidade. Pronto está feito o seu robô eletrico que desenha (coloque na frente do robô um pedaço de papel e verá o resultado).

Caso alguem consiga construir algo semelhante ou melhor mande um recado. Eu resolvi chamar o meu robô de Hugo Cabrito (uma homenagem ao filme do Martin Scorsese chamado  'A Invenção do Hugo Cabret').

sábado, 5 de maio de 2012

Escrevendo um romance: 20ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS

©2012 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

NÃO MATARÁS

Passamos pelos portões escancarados do combalido castelo de Atila com a relíquia como espólio de guerra. Naquele momento a comemoração devia ser posta de lado. Os nossos inimigos estavam em nosso encalço e sabíamos que se vacilássemos seriamos presas fáceis.
Os guerreiros guaranis, a pé, cientes do terreno sumiram entre as arvores com uma rapidez inacreditável. Nós que estávamos a cavalo corríamos em um tropel barulhento que fazia uma revoada de pássaros tomarem conta do céu azulado da ilha.
Com o tempo os soldados karanyos de Atila já não estavam seguindo o nosso rastro, com certeza, preferiram cuidar do seu líder mortalmente ferido. Ainda estava recente em minha memória a mão decepada de Atila que o monsenhor cortou com a espada.
O grito do inimigo era quase um trovão que ecoava no salão do castelo e o jorro de sangue manchava o solo. Tive pena de Atila, que agora maneta, não poderá empunhar a espada como antes.
Quando chegamos a aldeia guarani já era noite. A luz da lua fazia brilhar nossas armaduras sujas e amassadas da batalha. Michelangelo e Aquiles desceram de suas montarias e em seguida ajudaram Buldica e Diana. Eu desci do cavalo sentindo que o meu peso parecia maior que antes. Desejei deitar no chão da aldeia de tão cansado.
Um dos soldados guarani veio nos receber junto com o pajé. Este sorriu e como se fossemos deuses ajoelhou-se diante de nossa presença. Esta demonstração de carinho e obediência provocou lagrimas em Michelangelo. Bonelli ainda com a lembrança de Enrico na mente estava cabisbaixo e sumiu por entre os índios. Deve ter ido chorar pelo nosso amigo morto em batalha.
As índias receberam seus maridos guerreiros junto com seus filhos. Na hora fiquei feliz e depois me veio a melancolia de não ter ninguém para me esperar. Olhei para Diana e ela abraçava a sua irmã com ternura (eu gostaria de receber tal abraço).
De repente enquanto divagava alguém tocou em meu ombro. Era o monsenhor que sorrindo veio me cumprimentar pela luta:
-         Francisco! Lutou muito bem para um noviço. Agora vejo que és um homem! A fase de menino se foi com seu habito manchado de sangue.
Olhei para a minha vestes e percebendo o quanto estava sujo de sangue de outros guerreiros veio a minha mente a lei dos Dez Mandamentos: ‘Não Matarás’.
Uma tristeza veio ao meu coração. Meu semblante de guerreiro se foi. O monsenhor Aquiles percebeu e me consolou:
-         Não fique assim! Eu também fiquei em duvida sobre a minha fé depois da primeira batalha. Depois, Deus me aliviou o coração e não senti mais remorso algum.
As palavras de Aquiles me deram alivio. Aproveitei e fui no rio me lavar, pois o cheiro de sangue e sujeira me incomodavam.
Antes de ir para o rio, porém, pude escutar a conversa de Diana e Aquiles: ela queria que o monsenhor cumprisse a sua promessa de partir da ilha, agora que recuperou a relíquia sagrada. Persuadiu o monsenhor dizendo-lhe que a qualquer momento Atila poderia aparecer e retomar o que perdeu com um número maior e mortal de soldados.
Aquiles parecia duvidar de tal revés. Diana, contudo, justificou que mesmo que a aldeia guarani tivesse muitos guerreiros, também tinha muitas mulheres, velhos e crianças e assim seriam presas fáceis para o exercito de Atila.
Depois Diana perguntou se seria justo derramar tanto sangue inocente para o nosso Deus. Aquiles pensou por um momento e concordou com a guerreira amazona. Ele prometeu que depois de um descanso iria levar seus soldados embora. Todavia, ele disse também, que antes de partir gostaria de falar com Yara, a rainha das águas, mais uma vez.
Diana aceitou a proposta e disse que ele teria tal audiência com a sereia. Então, foi para o rio se lavar junto com os outros guerreiros. Depois, do banho o pajé nos convidou para comer a carne de um animal desconhecido que ele chamou de paca e de um outro chamado de tatu. Os índios acenderam fogueiras e com suas flautas de bambu dançaram e tocaram a noite toda para comemorar a nossa vitória.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Os Grandes Mestres da Arte Sequencial


O ato de se expressar por linhas é algo que fez do homem diferente dos animais. Foi desenhando em paredes de cavernas que podemos saber (ou deduzir) como os homens do paleolítico viviam. Antes mesmo de se apoderar da capacidade de esculpir ou pintar, o homem desenhava com carvão e pintava com sangue, gordura e pó de pedras coloridas as figuras da natureza que seu olho captava.

Com a evolução e o surgimento das civilizações e posteriormente do que se poderia chamar de culturas, o ser humano levou consigo a vontade de contar histórias e também de retrata-las seja de forma escrita e principalmente desenhando ou pintando. Se deu durante muito tempo um total valor a comunicação escrita e ao mesmo tempo uma acomodação em relação a ilustração. Porém, o homem somente passou a escrever bem depois de aprender a desenhar.
   
Durante toda a historia da humanidade a arte vem acompanhando e evoluindo com o homem. Se segmentou em movimentos artisticos (Renascença, Barroco, Arte Neo Clássica, Impressionismo, Cubismo...), foi moeda de troca e até mesmo arma de ideologias e poderes politicos. Hoje totalmente assimilada ao cotidiano do homo sapiens quase se tornou invisivel.

E o que esta invisibilidade gerou? Busca de conceitos do tipo, o que é ou não é arte e por aí vai... Esta busca de conceitos apenas serve para dizer que o homem já não consegue ver importância na arte como era no passado. O que houve com os reis que bancavam artistas para se autopromover? Aonde a religião ainda usa a arte?
 
Nos tempos da TV e de outros meios de comunicação, a arte hoje é bancada e destrinchada pela grande midia. Empresas de publicidades, editoras e outras corporações, sabem que  arte ainda tem um poder enorme sobre as pessoas. Pegando os quadrinhos, por exemplo, a arte sequencial não existiria sem a tecnica e a sensibilidade do artista que muitas vezes para adquirir tal habilidade teve que olhar no passado de artistas como Leonardo Da Vinci e Caravaggio como referências.
 
Não basta ter um bom roteirista escrevendo uma boa história, sem um artista para retrata-la a HQ se torna esteril. Nomes como Jack Kirby ( que criou o personagem ícone Capitão América) e verdadeiros pintores dignos de cavalete como Frank Frazetta ou designers como Dave Mckean, transformaram as historias em quadrinhos em verdadeiras obras de arte.
  
Muitos podem ver somente que os gibis seriam algo menor no mundo da arte ou quem sabe um mero produto de consumo. Não deixa de ser verdade que são um produto, mas também, são obras de arte por envolverem todo um caminho que é tipico da arte em termos de composição e planejamento: o esboço que o artista de gibis faz não é em nada diferente do que Michelangelo ou Delacroix faziam. basta olhar os trabalhos de Julie Bell ou de Simon Bisley uma total influência do mundo clássico e claro, do expressionismo do mundo pós-seculo XIX.
 
Mas se ainda estiver uma duvida em relação dos quadrinhos como verdadeiros herdeiros dos grandes mestres da antiguidade, basta dar uma apreciada nos trabalhos de Alex Ross e Felipe Massafera para tal constatação!