sábado, 19 de novembro de 2011

Escrevendo um Romance parteIV: 4ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS

©2011 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

A INVASÂO TUPINAMBÁ

Com surpresa ficamos atônitos ao saber que a nossa busca pela relíquia sagrada e seus seqüestradores havia chegado ao fim. Pensei comigo, que tal fato não seria a mão de Deus  guiando os nossos destinos. Monsenhor Aquiles estava preocupado agora em como poderíamos voltar a nossa missão.
Uma nativa então veio até nós. Com o olhar severo e segurando uma lança fez um sinal para que saíssemos da cela. Aquiles concordou com a cabeça, e com o olhar nos ordenou o mesmo. Levantamos e voltamos a seguir em marcha. Michelangelo cochichou que aquele deveria ser o melhor momento de fuga, porém Aquiles disse que não podíamos, por enquanto, fazer nada. Com toda a certeza o monsenhor estava planejando algo.
Quando chegamos no meio do pátio da cidade das guerreiras, a velha líder delas veio até nós com suas filhas. Nas mãos de uma delas estava o crânio de um cavalo e na outra uma cruz. A velha então com voz rouca disse:
-         Este (o crânio) era parte do arauto que arranquei com as minhas próprias mãos. A outra é a sua fé que nos arruinou!
Monge Aquiles vendo estes ‘presentes’ que nos eram oferecidos teve a vontade de engulho. Segurou a respiração e levantou a mão para falar com a velha. A velha entendeu o sinal e deu-lhe permissão para falar:
-         Nós sabemos quem fez este mal a vós! Assim como tu, queremos vingança contra o infeliz (disse Aquiles com voz impostada).
A velha então voltou a falar:
-          Seus irmãos mentiram para nós. Pensamos que fossem os arautos de Tupã, porém eles eram demônios. Falaram para nós esquecermos nossos deuses e queriam que abraçássemos a cruz. Nos deram nomes estranhos: me chamaram de Fúria, as minhas filhas de Diana e Buldica. Não queremos o seu Deus! Não queremos a cruz!
A afirmativa da velha fez com que as guerreiras apontassem suas lanças para as nossas faces. Seriamos perfurados, como as mãos de nosso Salvador no dia da crucificação! Morreríamos sem cumprir a missão...
Houve uma surpresa... Uma pequena nativa veio gritando para a velha e em seguida outras também vieram, gritando em seu idioma. Elas gesticulavam como loucas e apontavam para a mata. A velha então olhou para as outras guerreiras e falando em sua língua pareceu dar uma ordem.
As guerreiras obedeceram e nos deixaram no pátio, enquanto corriam para a mata. Estávamos livres e poderíamos ir embora! Aquiles perguntou para uma das nativas apavoradas o que estava acontecendo. Ela somente disse uma palavra estranha: ’Tupinambá!’.
Enquanto Aquiles tentava decifrar a palavra enigmática, as guerreiras corriam para as moitas armadas com flechas e lanças e com vontade urravam como se estivessem em um combate.
Bonelli apavorado com a multidão perguntou o que estávamos esperando para irmos logo embora. Aquiles e Michelangelo estavam estáticos e não sabiam o que fazer naquele momento.
De repente, uma chuva de flechas e lanças caíram do céu e começou a acertar a aldeia das guerreiras! Bonelli foi ferido na perna esquerda e enquanto Enrico levou um corte de raspão no rosto.
Aquiles disse para corrermos para algum abrigo. Infelizmente os tetos das cabanas eram feitos de feixe de palha e as paredes de barro não eram seguras: as flechas arremessadas perfuravam tudo!
Olhei a minha frente e via nativas caídas ao chão feridas mortalmente pelas flechas. Bonelli reclamava da ferida na perna e amaldiçoava o dia em que entrou no navio para perseguir Átila e seu bando. Aquiles pediu que fizéssemos silêncio. Por um bom tempo não se ouvia nenhum barulho. Nem as moitas balançavam com o vento.
Saímos e percebemos que os números de vítimas da chuva de flechas eram maiores que imaginávamos. A cena fez Aquiles e Michelangelo se lembrarem dos tempos das cruzadas. Enrico então, apareceu segurando nossas espadas e disse para pegarmos e sairmos correndo daquele lugar!
Resolvemos ir pela trilha aberta pelas guerreiras. Nessa hora a dificuldade de orientação era a menor das preocupações agora. Corremos mata à dentro como gazelas que fugiam de leões! Aquiles era o mais velho, mas corria com ânimo de uma criança e nem suava durante as passadas.
Quando achávamos que poderíamos comemorar deparamos com as nativas lutando com os seus oponentes. Eram feras com a boca no lugar do ventre e olhos no peito! Eles devoravam as guerreiras desarmadas com uma facilidade enorme! A filha da pajé, chamada Diana, lutava bravamente e derrotava os monstros com ferocidade. Com certeza, qualquer exercito gostaria de tê-la entre seus soldados. A índia de braços fortes chamada de Buldica usava sua força física para derrubar dois monstros ao mesmo tempo!

Aquiles no fundo sentiu admiração pela vontade de viver delas, e talvez, por isto tenha mandado que nós entrássemos no combate. Michelangelo disse que não entraria em batalha pelas nativas, pois elas queriam a sua morte caso não tivessem sido atacadas pelas feras. Enrico concordou e disse que não desembainharia a espada. Aquiles retrucou que  antes de guerreiros éramos monges e assim devíamos como filhos de Deus prestar auxilio a quem quer que seja!
Com este argumento que tocou os nossos corações não tivemos alternativa senão atacar os monstros. Bonelli, mesmo ferido, partiu para o ataque. Levantamos as espadas para o alto de nossas cabeças e baixamos suas laminas sobre os troncos das feras! Um jorro de sangue manchou nossas vestes monásticas! Braços e pernas dos monstros caiam ao chão a cada corte profundo.
As guerreiras nos olhavam sem saber o que fazer. Michelangelo disse para haver cooperação ou seriamos todos mortos. As guerreiras entenderam e se reorganizaram para um novo ataque as feras. Era melhor atacar com o aço e pontas de madeiras de maneira unitária do que usar tudo em separado e correndo o risco de sermos eliminados.
Harpia, por ser a mais ágil, arremessou lanças que foram direto na boca dos monstros atravessando as costas! Enrico dava giros com a espada e esta cortava braços que iam caindo como frutas maduras no chão. Sem percebermos um dos monstros feriu mortalmente uma guerreira arrancando um grande naco de carne de suas costelas. Aquiles mostrou a sua perícia ferindo uns três monstros com sua espada e assim fazendo jorrar um mar de sangue!
Os monstros então começaram a recuar.  Um deles, talvez o líder, deu um grunhido tão assustador que os outros debandaram. Ele olhou para nós e partiu com se dissesse ‘isto não ficará assim!’. Olhamos ao redor e o número de cadáveres era tão grande que eu parei de contar no centésimo primeiro: muitas mulheres mutiladas e feras deitadas lado a lado.
Diana nos olhou e ficou esperando algo. Aquiles nos viu em posição de guarda e disse para relaxarmos. Harpia baixou em seguida a sua flecha e as guerreiras remanescentes da batalha fizeram o mesmo. Enfim, Diana baixou também a guarda e como se agradecesse ficou em posição de receber benção. Aquiles entendeu e fez diante dela o sinal da cruz. A trégua entre os monges exorcistas e as guerreiras amazonas havia iniciado.

Helio Medeiros parou de ler a carta. O publico como antes ficou estático. O professor arrumou os óculos que pareciam cair de seu rosto e falou:
-Este relato do primeiro contato dos colonizadores com os nativos como perceberam, mostra uma certa dificuldade de comunicação. Contudo, o que chama realmente a atenção são os relatos de cenas de batalha. As tais criaturas seriam a lendária raça Tupinambá e sua descrição é típica dos colonizadores que estranhavam o visual dos povos que consideravam grotescos. O mesmo se pode dizer das amazonas que mais parecem as walkirias das lendas escandinavas.  

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