sexta-feira, 13 de março de 2015

Moisés: Lenda ou Realidade?


Dentre os personagens da Bíblia, fora Jesus Cristo, Moisés é com certeza o mais conhecido e até reverenciado tanto pelos judeus como pelos cristãos. Sua fama de patriarca da nação hebreia com a fantástica fuga do Egito é considerada uma das mais belas histórias de persistência e fé.
Assisti recentemente ao filme 'Exodus: Deuses e Reis' e simplesmente sai bestificado do cinema ( uma das razões desta bestificação foi que finalmente tenho uma nova imagem de Moisés além daquela dos filmes do Cecil B. DeMille com Shalton Reston abrindo o Mar Vermelho).
Outra razão foi que desde que abracei o ateísmo, sempre imaginei que as figuras biblicas seriam mais humanas e menos 'super-heróis' perfeitos e cheio da arrogância de serem os escolhidos de Deus para salvar almas perdidas. O filme 'Exodus' apenas colaborou em manter a algo que eu já sabia: Moisés poderia (e porque não!?) ser mais lendário que real.

No filme a passagem do Mar Vermelho é gradual e não algo mágico e fantástico como a maioria imaginava pelos filmes antigos e desenhos animados religiosos. E a figura de Moisés é mais de um fanático religioso que acredita falar com Deus do que um santo imaculado. Até Deus ganhou ares de realidade ao meu ver, uma força destrutiva e que muitas vezes parece uma criança carente por afeição dos seus filhos 'ingratos'.
Mais divertido de ver Moisés batendo boca com Deus no filme é ver o olhar estupefato da platéia religiosa que foi assisti-lo!
Muitos amigos meus evangélicos e católicos reclamaram do Filme e chamaram-no de blasfêmia por ele tirar a aura de heroísmo mitológico que acreditam. O mesmo grupo reclamou do filme 'Noé' que também segue uma linha menos mística da Bíblia. Por muito tempo foi atribuído a Moisés a autoria do Pentateuco ( os 5 primeiros livros da Bíblia e que dariam origem ao Torah judaico). Pesquisas recentes mostram, no entanto, que os cinco primeiros livros levaram quase 200 anos para serem escritos.

Isto quer dizer que Moisés teria sido o homem mais velho a viver no planeta. O problema é que na época de Moisés não existia vacina e nem uma medicina tão avançada ( imagine que hoje seja raro alguém morrer de febre tifóide ou disenteria, mas na época em que faraós tinham a espectativa de vida de no máximo 40 anos estas doenças que são vistas como resultado de falta de saneamento básico era o que mais matava naquela época). Junte isto a falta de alimentação e muito trabalho pesado e pronto! Nem Matusalém aguenta.
Para muitos estudiosos os primeiros livros biblicos são de origem anônima e resultado de um apanhado cultural que os hebreus tiveram quando juntaram suas crenças com a dos egipcios, babilonios e sumérios, aliás muitas histórias biblicas como o Diluvio Universal teriam origem na Suméria.
Talvez para agradar um grupo mais conservador a emissora do Bispo Macedo (a Record) fará uma novela sobre Moisés e que com certeza seria mais mitológica e mostrando os egipcios como cruéis e pervesos ( algo que para a historiografia atual não tem mais sentido).

Nestes tempos de Estado Islâmico, falar de religião é como acionar um pavio de pólvora. Mas como eu costumo dizer aos meus alunos: o conhecimento somente surge pelo debate e discussão. Quem disse que futebol, religião e política não se discute, não passa de um covarde!


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