sábado, 26 de maio de 2012

Escrevendo um romance: 21ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS


©2012 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Aquiles Reencontra Yara

Já era de manhã quando Aquiles vislumbrou o sol majestoso da ilha. Bem disposto depois de um descanso na cama suspensa dos guaranis, o monsenhor procurou os seus soldados para a grande partida para a aldeia das amazonas. O pajé guarani pediu que ele ficasse para um ritual de despedida. Diana, contudo, estava muito apressada e mais uma vez persuadiu o mestre para este evitar a pajelança e partir sem demora.
Aquiles não quis fazer desfeita ao anfitrião e aceitou participar do ritual. O pajé chamou um dos índios e disse em sua língua para preparar tudo. Resolvi me prontificar para ajudar, mas o pajé disse que ‘os homens brancos deviam esperar, pois os preparativos do ritual somente poderiam ser feitos por guaranis’.
Resolvi então ajudar Michelangelo que estava recolhendo nossas armaduras e outras armas em uma carroça. Também coletou umas ervas e alimentos para a viagem que era longa até a aldeia das amazonas. Bonelli ainda estava consternado pela morte de Enrico. O consolei falando da teologia de Santo Agostinho sobre a cidade no Céu onde tudo é alegria e não existe mais dor. Ele com a voz engasgada disse ter desejado ir para este lugar e assim não mais ter de participar de combates. Entendi a sua tristeza e o deixei com a sua solidão e lembranças do amigo.
Finalmente pude conversar com Diana. Olhei para os seus olhos cor de mel e sua pele ocre e suspirei disfarçadamente. Ela também me fitou e soltou um modesto sorriso. Disse que estava cansada e que logo tudo ficaria bem. Eu perguntei se o alivio venho de nossa partida. Ela viu que eu estava triste e pensou antes de responder. Depois, confirmou que já era hora de partirmos, mas também disse que sentiria saudades, pois, aprendeu a nos respeitar e aceitar nossas diferenças. Fiquei feliz com esta fala dita por ela e senti que poderíamos ainda conversar mais, talvez, quem sabe eu pudesse voltar a beija-la.
Depois dos rituais que participamos, finalmente seguimos viagem. Andávamos muito e Diana estava muito ansiosa. Os guerreiros guaranis resolveram nos escoltar até uma parte do trajeto e depois seguimos sozinhos. Olhei para trás e comecei a sentir falta do rio e das brincadeiras dos índios (no fundo de minha alma, eu já me sentia em casa com eles).
Quando o sol estava no meio do céu havíamos finalmente posto os pés no território das amazonas. Há muito tempo não visitávamos a aldeia das guerreiras. Fúria no pátio nos esperando, enquanto as outras mulheres faziam os seus afazeres do dia. Fúria me pareceu mais envelhecida do que quando partirmos. Sua face põe ainda transparecia serenidade e a sabedoria escapava de suas rugas.
Segurando o seu cajado ela veio até nós e disse:
-         Vejo que voltaram vivos de sua batalha. Conseguiram o que foram buscar?
Aquiles mostrou a caixa, porém manteve em segredo o seu conteúdo e retrucou:
-         Conseguimos e agora viemos cumprir a nossa promessa.
Fúria olhou para Diana e Buldica. Abraçou as filhas e depois de uma longa cena de ternura voltou a falar com o monsenhor:
-         Minhas filhas voltaram sã e salvas! Você é um homem de honra e acredito que das suas palavras saem a verdade. Vamos comer um pouco e depois falaremos de sua partida.
Aquiles aceitou a proposta e pediu para que seus comandados descessem de suas montarias, enquanto descarregávamos. Eu quis voltar a falar com Diana. Segurei em seu braço. Ela olhou para mim. Nos entreolhamos e no fim eu acariciei o seu rosto. Ela fechou os olhos e fazendo uma expressão de desaprovação saiu de perto de mim. Fiquei olhando ela ir embora com suas irmãs para dentro da oca, com a sensação de ressentimento no ar.
Depois do almoço, Aquiles procurou Diana ter a audiência com Yara. Ela disse para ele segui-la até a margem do rio. Os dois então desceram até o riacho onde Aquiles havia muitas vezes falado com a rainha das águas.
O mestre notou que em uma gruta próxima do rio as amazonas construíram um altar e nele colocaram uma imagem de barro de Nossa Senhora. Aquiles nunca conseguiu entender porque os nativos faziam confusão entre a mãe de Jesus e a rainha das águas. Diana sentou-se na margem do rio e invocou a rainha com seu ritual indígena. Depois, o rio se transformou em um lençol de luz resplandecente e como por magia Yara apareceu de nada na margem do rio com sua enorme cabeleira negra e seus lindos olhos azuis.

Aquiles contemplando a linda face da criatura pulou no rio e foi ao seu encontro. Mais uma vez a cena se repetia: Yara olhava com amor para Aquiles e este devolvia o olhar com o semblante quase patético de devoção.
A rainha colocou a sua mão sobre a de Aquiles e começou a falar:
-         Você voltou! Achei que tinha esquecido de mim.
Aquiles com o brilho nos olhos retrucou:
-         Nunca te esqueci meu amor! Não importa onde eu estiver na minha alma tu ainda és o meu sol.
-         O teu céu ainda é muito escuro para eu brilhar nele. Contudo, diga Aquiles, o que lhe traz aqui?
Aquiles abaixou a cabeça e com um silêncio suspirou fundo. Depois, levantou a cabeça e com os olhos marejados resolveu balbuciar:
-         Eu vim dizer adeus! Não queria partir sem poder contemplar teus olhos azuis e seu rosto de anjo.
-         Vocês homens de pele esbranquiçada procuram capturar os seus deuses com imagens de barro. Por que não fez uma imagem minha para satisfazer os seus desejos?
-         Somente Pigmaleão com ajuda de Vênus poderia dar vida ao que não respira. Barro é somente barro e mais nada!
-         Tu me desejas e sabes que o nosso amor não pode se concretizar. Tu és da terra e eu do mundo espiritual.
-         Se for pecado desejar ficar contigo, morrerei então como pecador.
-         Deixaria teu mundo para viver comigo?
-         Deixaria até a minha fé em meu Deus para ficar ao teu lado!
O monsenhor parecia até enfeitiçado dizendo palavras tão estranhas saindo de sua boca. Porém, a feitiçaria surtiu efeito, pois, a sereia e o homem trocavam caricias e beijos tendo o cronista que lhes fala e a lua como testemunhas.
Por um momento pensei que os dois consumariam o amor em meio a cenário tão exótico. Todavia, Diana teve a sua concentração interrompida. Uma guerreira amazona gritou por seu nome aflita. Aquiles e Yara ouviram os gritos e como resultado a sereia sumiu no rio dando um mergulho. O mestre ficou só e confuso com a situação.
Diana conversava com a amazona quando o monsenhor aproximou e resolveu se intrometer no assunto. Diana olhou para ele e pediu que fosse imediatamente a aldeia. Os dois chegaram esbaforidos quando encontraram a pajé Fúria. Aquiles queria saber o que estava acontecendo. Fúria relatou que um guarani ferido chegou até a aldeia. O monsenhor pediu para vê-lo.
A pajé levou o monsenhor para a grande oca e lá deitado em uma cama suspensa estava o índio guarani. Bastante debilitado e com um ferimento muito feio na costela esquerda. Aquiles percebeu que o ferimento produzido por um instrumento perfurante. Ele então pediu para o índio relatar o que havia ocorrido.
Com muita lerdeza na fala o índio falou em seu dialeto e Diana teria que traduzir o que ele balbuciava. Depois de muito falar o índio arregalou os olhos e enfim entrou em sono eterno. Todos se entreolharam e depois Aquiles pediu para Diana falar o que o índio tinha dito. Com semblante assustado ela segurou no braço forte de Aquiles e disse:
-         Atila atacou a aldeia guarani! Ele dizimou os nativos procurando a relíquia. Agora, ele está vindo para nossa aldeia e pretende fazer o mesmo!
Aquiles ficou petrificado com a noticia de que seu inimigo ainda estava disposto a nos matar.

Helio Medeiros parou a leitura nesse momento. A platéia já envolvida no relato das cartas parecia querer ouvir mais e como uma criança que ouve histórias contadas por uma avó perto da fogueira, pedia desesperadamente pelo que viria a seguir.
O reitor então interveio dizendo que era hora de um pequeno intervalo de vinte minutos. Parte da platéia se levantou e aproveitou o momento para descansar em uma cafeteria próxima da faculdade. Helio dava autógrafos e ao mesmo tempo saboreava um caputino. Ao seu lado estava a professora formosa e o reitor.
Os vinte minutos passaram rapidamente e depois de mais alguns minutos de atraso, Helio enfim subiu ao palco novamente para voltar a ler as cartas de Francisco.

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