sábado, 24 de maio de 2014

Quando a Arte encontra O Símbolo e o Mito

Todas as culturas de certa maneira tentam dar uma explicação para a origem da humanidade. Desde que o homem em seus estágios de evolução na pré-história (homem de Neanderthal, homo sapiens, homem do período gravitense e aurinhacence) até chegar aos dias do pós modernismo desenvolveu inúmeras maneiras de contar como surgimos neste mundo.
Claro, que nem todas as civilizações contam os mesmos fatos ( o que derruba teorias como o difusionismo, por exemplo). De certa forma os contos e lendas de origem da humanidade possuem certas 'formulas' que aparecem em forma de símbolos e conceitos fechados. Alguns símbolos parecem se repetir em diversas culturas e em outras vezes estes mesmo símbolos ou são substituídos por outros de igual significado, ou por símbolos com funções diferentes mesmo quando o tal referido símbolo parece o mesmo ao olho comum.
Um exemplo bem simples é o da cruz. Em várias culturas existe este símbolo e poucos dele possui o mesmo significado: existem tribos africanas que a pelo menos 1.200 anos antes de Cristo possuiam cruzes desenhadas em máscaras e em adornos. Nas antigas highlands onde o povo druida era muito conhecido, existia um tipo de cruz com circulo no meio do eixo. Este circulo representava para este povo o ventre da mulher e a cruz uma espécie de falo (orgão masculino).
Diferentemente como muitos leigos devem pensar, a cruz não foi inventada pelos cristãos. Não sendo assim, um símbolo exclusivo deles. Outro dado importante é que a cruz cristã nada mais era que um modo de castigo que os romanos infligiam a seus criminosos. Somente após a ressurreição do Cristo é que a cruz passou a ser um símbolo de fé e não de castigo.
Na Índia existe a cruz quebrada ou suástica. Esta cruz era um símbolo de positividade, tanto que em algumas estátuas de Buda vemos esta cruz desenhada em seu ventre. A suástica no mundo ocidental passou a ser conhecida como um símbolo de intolerância e de abuso de poder portado pelos nazistas durante acensão de Hitler na Alemanha. O que muda na suástica budista para a nazista além do significado e a posição que os símbolos aparecem nas bandeiras ( a suástica nazista é mais inclinada).
Outra cruz bastante conhecida é a invertida. Muitos por ignorância somente a associam ao satanismo. Na verdade a história deste tipo de cruz tem como origem a crussifixação do apóstolo Pedro. Ele foi o único seguidor de Cristo a ser crussificado de barriga para baixo.Há não ser por farta imaginação e teorias fracas pode-se associar este símbolo ao satanismo.
Se um único símbolo carrega tanto significados diferentes, outros são mais limitados como a imagem da árvore frondosa que em muitas culturas representa a base da sociedade (família) ou a própria base da fé (é comum em livros sagrados Deus ser citado como uma árvore que com sua sombra protege o homem e seus galhos proporciona o alimento e o ninho para os pássaros construírem sua casa, uma clara alusão do acolhimento e da proteção). 
Se na base das religiões está a concepção simbólica, nada é mais simbólico que contar a origem remota da Terra , por meio de teorias criacionistas. Tanto na Mitologia grega, quanto na Mitologia hindu a origem do mundo ocorre por conflito entre forças ( a terra e o céu) ou por conflito entre deuses (titãs versus deuses ou Asuras versos Devas). Na Mitologia egípcia existe a guerra entre irmãos Seth e Osíris. E mesmo no mundo judaico-cristão existe o conflito entre o Diabo e Deus ( o Diabo antes de ser banido dos Céus fazia parte da ordem mais importante dos anjos).Na Mitologia nórdica Loki e Thor lutam pelo reino do seu pai Wotan (Odin) e geram muitas mortes em Asgard. Contudo, a mitologia grega é a mais conhecida com as batalhas entre os titãs liderados por Cronos contra os seus próprios filhos guiados por Zeus.
Em termos gerais as origens mitológicas parecem ilustrar a luta entre o velho e o novo, a brutalidade contra a astúcia e para muitos o bem e o mal.
Neste caso a grande questão é como o mal surge na humanidade. Em muitas mitologias o mal faz parte do bem ou foi gerado por uma necessidade de equilíbrio de força. Muitos estudiosos da sociologia, filosofia e da psicanálise, vem na luta do bem contra o mal um símbolo do homem que luta para manter a racionalidade em meio aos instintos mais primitivos. 
O mal seria tudo que representa o lado animalesco do homem civilizado (Carl Jung cita isto, como a principal causa dos pesadelos e sonhos perturbadores) e este lutando para manter o controle ( geralmente o mal é visto como um monstro zoomórfico, isto é, parte homem e parte animal selvagem). Domar o monstro seria vencer o mal e manter a racionalidade.
Por vários séculos coube aos artistas fazerem a representação do bem contra mal, assim como ajudar a idealizar os deuses que somente existiam no íntimo do homem. Dificilmente uma religião deixa de recorrer a um artista para este arquitetar o templo, construir o altar e dar face a divindade através da escultura. Os escritores por sua vez buscam perpetuar a fé através de escritos em formatos de códigos que somente os iniciados podem usar. Mesmo as religiões que negam o uso do trabalho artístico por algum motivo (os hebreus viam como pecado retratar a Deus assim como os islâmicos) ainda assim precisam de artistas de diversas linguagens e técnicas para divulgarem a sua fé.
Enfim, o homem vive para o símbolo, assim como o símbolo vive e respira o homem.





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