CAVALEIROS E EXORCISTAS
©2012 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
FATIMA E LEONARDO
Fátima nos guiou até uma parte do castelo que diferenciava de todo o resto: havia um cheiro de perfume e pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo chão. A porta do recinto era pintada com uma cor dourada e cheia de detalhes que muito lembravam o ‘portal do paraíso’ de Lorenzo Ghiberti. Na porta havia dois soldados índios à frente de boa aparência e segurando lanças com pontas de aço.
Fátima fez um sinal com a cabeça e os índios entenderam abrindo a porta e assim nos foi dado à liberação para entrar no recinto. Na hora lembrei-me das termas romanas cheias de fumaça e com vários locais de banho. Um índio cuidava de alimentar a caldeira com lenha e pedras enquanto o outro jogava perfumes nas piscinas construídas (duas grandes e uma um pouco menor).
Fátima disse para tirarmos nossas vestes e fossemos para uma das piscinas. Diana e buldica por questão de sua cultura já estavam seminuas eu, porém, tive que tirar o meu habito. Fiquei com vergonha no inicio, mas pensei que como estava diante de pessoas conhecidas nada poderia de ocorrer mal.
Tirei minhas roupas e então fomos para a piscina. A água era quente e refrescava o meu corpo dolorido da noite mal dormida e das surras que levei dos guardas. Diana e buldica ainda estavam meio estranhas e ficaram cautelosas o tempo todo. Depois vi Diana conversar com buldica, talvez, sobre o que ela estava sentindo e como o ‘milagre’ realizado por Atila havia curado seus ferimentos.
Buldica parecia bem e até disse que depois agradeceria a Atila pelo ‘milagre’. Não sei se gostei deste ponto da conversa. Ainda não sei se Atila é um homem bom, ou se estava fingindo para nos expor em alguma armadilha. Resolvi guardar minhas duvidas em meu intimo e deixar as irmãs sentirem-se à vontade.
Aproveitei e continuei a analisar o lugar. Vi que a índia guia, a tal Fátima, estava preparando um perfume para jogar na piscina. Olhei para o seu ventre e percebi que estava bastante protuberante. Com certeza estava grávida de seu amado. Fiquei curioso e fui perguntar pessoalmente. Cheguei perto dela. Ela percebeu e desconfiada perguntou:
- O que desejas?
- Quero apenas conversar contigo.
- Digas então!
- Vejo que estas grávida. É seu primeiro rebento?
- Há não! É meu segundo filho. Meu e do meu marido Leonardo.
- Seu segundo filho?! Qual o nome do primeiro?
- O primeiro foi uma menina. Chama-se Maria. Esta na aldeia agora cuidando de nossa plantação. Se Deus quiser, agora terei um menino e ele será um cavaleiro como o pai.
- Que bom! Como você conheceu o cavaleiro Leonardo?
- Ele chegou com Atila há muitos anos atrás. Quando vimos as suas roupas brilhantes pensamos que era a grande profecia que Tupã revelara pela boca do meu pai, o pajé Esaú.
- Que profecia é esta?
- Meu pai disse que o Grande Espírito falou para ele espalhar entre o povo que Tupã viria a nossa terra com sua carruagem e suas roupas brilhantes. Disse também que iria criar uma grande casa e todos que acreditassem em Tupã veriam os seus milagres!
- Você acredita que Atila é tupã?
- Não, Atila não é Tupã! Tupã é tudo o que vejo na mata e no céu. Atila é o seu arauto. É o guia enviado por tupã para nos levar aos céus.
Como um cego guiando outro cego, Atila se aproveita do povo para fazer o que quiser. Prometia o céu e os explorava para viver como um rei. E o pior de tudo, usamos a coroa de Cristo como arma de poder e escravidão.
Resolvi perguntar mais coisas a Fátima:
- E tu Fátima, gosta de Leonardo?
- Leonardo é o meu grande amor. Nunca houve homem em minha tribo que fosse como ele. É corajoso e mesmo sendo o mais jovem é quem cuida das coisas da tribo. Meu pai o admira e o respeita muito.
- Acredita que ele sinta o mesmo que você sente por ele?
- No inicio Leonardo tentou deixar o exercito e queria ser como nós karanyos. Ele aprendeu a falar a minha língua e aprendeu nossos costumes. Porém, o seu chefe, Conrado, disse para não fazer isto. Ele não devia deixar o exercito. Entendo que ele previa é mesmo continuar em sua missão de salvar almas perdidas na mata.
A fé que ela tinha no marido me deu o pecado da Inveja. Desejei ficar cego lembrei-me que nunca teria sorte com Diana, mesmo depois de nos beijarmos. Fátima continuou o seu relato com os olhos vivos e brilhantes de forma entusiasmada:
-vou lhe contar algo: havia um índio muito jovem em nossa tribo. Ele me pediu em casamento para o meu pai, segundo os nossos costumes. Porém, Leonardo tinha feito o mesmo dias antes. O meu pai como grande homem de inteligência para resolver a questão propôs que tanto Leonardo como o jovem índio deveriam demonstrar de alguma maneira o seu amor por mim. Deram a eles três tarefas que somente guerreiros hábeis poderiam realizar: carregar uma tora de arvore mais pesada de um canto a outro da aldeia; nadar por toda a margem do rio que pertencia à região das guerreiras amazonas, correndo o risco de serem devorados por jacarés e tomar um dente da terrível onça de três cabeças. Eles então realizaram todas as tarefas em um único dia, somente a noite é que foram encontrar a grande onça. Os dois estavam bastante cansados, mesmo assim nenhum queria ceder para o outro a vitória. O jovem índio foi primeiro a toca da onça e para atrai-la ele roubou um filhote dela que estava na toca sem ela saber. Quando percebeu que seu rebento não estava na toca, a onça enfurecida deu um rugido que tremeu toda a mata. Ela então foi no encalço do jovem índio. Ele pensou ser mais esperto e ameaçou matar o filhote da onça ameaçando joga-lo no rio. Contudo, a grande onça possuía três cabeças e por isto, era mais esperta e de um único lance se jogou sobre o índio. Este era forte, mas não o suficiente para a onça e foi devorado por ela. Leonardo assistiu a tudo e como viu que seu oponente falhou resolveu fazer uma tática diferente. Ele pegou o filhote e o acariciou na cabeça. A mãe onça muito aflita pediu o filho de volta. Leonardo com pena da criatura resolveu devolver o filho à mãe. Em troca da boa ação a onça deixou que ele tirasse um de seus dentes. Ele escolheu uma das cabeças e assim conseguiu tirar o dente sem perder a vida ou matar a onça. Meu pai viu que ele não era somente corajoso, forte e bonito, mas antes de tudo que ele respeitava a vida. Assim foi lhe permitido que casasse comigo.
Fiquei impressionado com a luta de Leonardo e o Cérbero que ele havia encontrado. Talvez, os guerreiros de Atila sejam realmente homens honrados e dignos de admiração.