sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Sessão Contos Bizarros: A Escola do Medo


Muito se fala de casas mal assombradas ou de cemitérios de onde mortos levantam, mas ninguém esquece quando um lugar que deveria ser de acolhimento e aprendizado, também pode abrigar algo sinistro. É desta maneira que se começa esta história que muito se comentou quando foi fundada as primeiras escolas no Brasil colônia.
Dito era o nome de um menino filho de uma escrava. Sua mãe vivia sendo a mucama da Senhora Berta e de seu esposo Antônio. O senhor de engenho como muitos de sua época se aproveita das escravas e não muito raro tinha filhos bastardos com elas.
O pequeno menino de olhos azuis e pele negra era um destes casos. Não raro a Senhora Berta costumava destratar a criança para tentar indiretamente punir o marido. Porém, seu Antônio parecia não se importar e de vez em quando, dava mimos para o menino. Contudo, como todo escravo a criança andava acorrentada pela casa e pouco tinha direito a comida que era servida na mesa.
Um dia a escrava que o senhor havia desposado resolveu cobrar-lhe atenção. Disse que esperava algo melhor para a criança e que não achava justo seu filho ser maltratado pela sinhá ciumenta. Antônio sabia que um escravo não tinha direitos e nem sequer era visto como um ser humano por sociedade tão cruel. Contudo, por ser rico e cheio de posses o fazendeiro poderia muito bem dar coisas boas ao menino, desde que ninguém soubesse que ele era o pai.
Resolveu então matricular o menino em uma escola. Naquela época a escola não era um lugar para os pobres e muito menos escravos. Dito estava vestido igualzinho aos meninos da Europa e até sapatos pode calçar para ir a escola que ficava a poucos Km da fazenda.
Lá o menino conheceu a maldade humana encarnada nas crianças: era desprezado por elas, recebia até cusparada no rosto, levava chutes e era xingado o tempo todo durante a aula.
O professor (que era um padre) fingia não ligar para situação e deixava de lado todo o aprendizado cristão de 'amar ao próximo' para também destratar a criança. Dito começava a chorar e quando chegava em casa para não entristecer a mãe não comentava o que ocorria. Noites em claro, ele em seu quartinho dormindo no chão imaginava o que poderia ocorrer de pior com ele na escola. Acordava sempre de um pesadelo em que os colegas de classe pareciam monstros que lhe devoravam. De vez em quando o menino pensava em fugir da fazenda, mas aí ele pensava em como sua mãe ficaria triste e desistia da idéia.
Um dia, o padre mandou o menino buscar água no poço que ficava nos fundos do colégio. Dito que já se acostumara a receber ordens pegou um balde de madeira e foi até o poço. Um dos meninos que era muito levado resolveu seguir Dito sem ele perceber.
Quando Dito estava pegando a água do poço foi empurrado pelo outro menino. O pequeno escravo caiu no poço e como não sabia nadar começou a se afogar. Seus gritos de pedido de socorro foram ouvidos por todos, mas nem o padre ou outro qualquer lhe ajudou. Quando a noticia de que uma criança havia morrido no poço Antônio foi em um galope desesperado como se previsse o pior.
Encontrou então o corpo de seu filho todo molhado e sem vida. O senhor de engenho pela primeira vez demonstrou humanidade ao verter lagrimas pela criança que tanto não dava amor como deveria. Passado mutos anos e a escola que presenciara a morte de Dito ainda estava de pé.Agora era uma escola que se desenvolveu junto com o país. Em 1990 era a escola mais procurada pelos pais que queriam dar uma boa educação ao seus filhos. Por ter sido a primeira escola do Brasil tinha muita tradição.
Vários profissionais queriam trabalhar nesta escola e Karla que era uma recém saída do curso de pedagogia queria muito trabalhar lá. Depois de enviar o currículo conseguiu passar na entrevista e finalmente parecia realizar o seu sonho. As 8h da manhã lá estava ela no portão da escola. Foi recebida pelo seu Agenor, o porteiro que tinha talvez uns cinquenta anos de idade. Ele a recebeu e disse que ela poderia subir pela escadaria que daria no terceiro pavimento.
Karla que estava grávida de  6 meses perguntou se a escola não tinha um elevador. Agenor com semblante preocupado disse que sim, mas que ela deveria ter cuidado ao usá-lo. Karla pensou que talvez, o elevador estivesse com defeito para tal comentário. O velhinho então já foi dizendo que na verdade desde que ele trabalhava na escola soube de fenômenos estranhos que aconteciam principalmente com o elevador.
Karla sorriu e sem ligar para o que porteiro disse entrou no elevador rapidamente. Enquanto o elevador parecia subir a moça sentiu um calafrio. De repente a luz do elevador se apagou! Karla se viu no meio da escuridão e por pouco não pensou em gritar. Contudo, o elevador continuou subindo normalmente.
Do nada o elevador parou. Karla viu no painel de controle que o elevado havia parado no meio do segundo andar. Em  plena escuridão e com as portas fechadas Karla começou a passar mal. Começou a esmurrar a porta de aço e começou a gritar. Ninguém do outro lado respondia. O silêncio começou a lhe incomodar.
Lembrou do nome do porteiro e começou a gritar por ele. O porteiro nem sequer apareceu. Os poucos minutos em que se encontrava e Karla pensou que fosse horas de tanta angustia que sentia. De repente a moça ouviu um barulho dentro do elevador. A moça meio que assustada resolveu ligar a lanterna de seu celular para ver o que era. Para o susto de Karla ela não estava sozinha! No elevador uma figura de uma criança apareceu do seu lado.
O menino era negro e tinha os olhos amarelados e de sua boca jorrava sangue. Karla entrou em pânico! Gritava até ficar rouca e esmurrava desesperada a porta. Quando já não tinha mais força para gritar a luz do elevador voltou e a porta se abriu. A moça saiu correndo com os olhos arregalados e dizia que nunca mais voltaria a escola. Dizem que o fantasma da criança era do pobre Dito, pois depois de muitas reformas a escola simplesmente soterrou o poço em que ele havia morrido e em seu lugar colocaram o elevador.

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