sábado, 26 de maio de 2012

Sessão Sai Capeta: A Invenção do Diabo


Em 2009 resolvi fazer uma pós-graduação. Nem havia 6 meses que eu tinha me formado em licenciatura em Artes Visuais e com medo de me distanciar do universo acadêmico e com uma forte curiosidade de aprender mais coisas legais resolvi pós-graduar.

Na hora de escolher um tema para o termino do curso na minha mente a primeira coisa que me veio foi a obra literária do Dante Alighieri ( A Divina Comédia) e as pinturas do pintor holandês Hieronymus Bosch. Sempre tive um fascinio pelo desconhecido e pelo sobrenatural. Além, de que fui criado em um ambiente católico bem tradicional: me lembro que a minha mãe para nos assustar dizia que Deus estava vendo tudo o que eu fazia de errado; ou que o Diabo iria aparecer à noite para puxar o meu pé na cama por ter feito traquinagens.
 
Enfim, esse ambiente foi a base para eu estudar a imagem do Diabo no mundo artístico. Fiz uma pesquisa sobre o mundo medieval e o comportamento dos homens daquela época (diga-se de passagem não muito diferentes de nós contemporâneos). O estudo me levou a criação da imagem do cramunhão e como a Igreja, ás vezes, se beneficiava do medo que a população tinha para manter um certo poder social e cultural.

Quando digo que o Diabo teve a sua imagem criada, não estou dizendo que Ele não exista. Pelo contrário, nos cristãos vindos da relação paganismo/ judaismo/cristianismo que gerou a fé Ocidental, somos uma mistura de negação e afirmação e de hibrido de crenças peculiares e estranhas.
Os hebreus por exemplo, rejeitavam o bode por ser um animal arredio e mal cheiroso, ao contrário viam nas ovelhas e pombos símbolos positivos divinos e por isto, aparecem em sacrificios para acalentar  Deus em vários trechos da Biblia. Os babilônios e sumerianos tinham divindades que se pareciam com o bode (Bathomet e Baal) que para os hebreus seriam representações do Diabo ( foi da rejeição do judeu ao bode que também surgiu o termo 'bode expiatório').
 
Mais tarde os hebreus terão contato com os gregos e principalmente com os romanos. Os romanos tinham o deus Dionisio como uma das suas divindades preferidas por este representar o vinho e as orgias. Dionisio ( ou Baco) tinha como um de seus servos o Sátiro ( uma mistura de criança com chifres e pés de bode que tocava uma flauta para atrair as ninfas). Os hebreus vendo as estátuas do Sátiro espalhado nas cidades romanas logo se lembraram das imagens de Baal e Bathomet criando em sua imaginação uma semelhança e claro, uma rejeição.

Quando os escravos romanos se converteram ao Cristianismo, muitos deles mantiveram seus costumes pagãos encobertos por valores da nova religião pregada pelos apóstolos e assim surgiriam as estatuas de Jesus ( o que contradizia a fé hebréia de não se fazer obras que retratassem o Deus de Israel, para não provocar a idolatria) e as pinturas icônicas que se tornariam posteriomente propagandas da Igreja Católica para converter e catequisar fiéis no mundo inteiro.

E o Diabo? Bem, o Diabo ganhou as feições de Sátiro e dos deuses babilônicos e sumérios, depois o tridente do titã Poseidon como arma de tortura. Também ganhou o Hades grego como lar e assim temos em nosso incosciente coletivo o Inferno cristão que na Biblia sagrada era citado de forma vaga. Em nenhum momento das escrituras há uma citação fisica do Diabo ( apenas se diz que Ele era bonito e depois ficou feio e só). O resto coube a imaginação de escultores e pintores da Idade Média.

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