sábado, 5 de dezembro de 2015

Marília Pera: O Verdadeiro Ofício de ser Ator


Não sou ator, a minha formação foi em artes visuais. Mas, como estudei na Faculdade Dulcina de Moraes acabei conhecendo muitos atores e tendo contato com eles passei a ver o teatro de forma muito diferente. Existem pessoas que nunca foram ao teatro (eu fui uma dessas pessoas ha muito tempo) seja porque acham que teatro parece algo distanciado do seu mundo ou porque pensam que o teatro é coisa de intelectual... enfim, o teatro de forma injusta acaba não tendo o mesmo reconhecimento do cinema ou de um show musical.

Na faculdade pude assistir a diversos espetáculos e assim tirar a venda que cobria os meus olhos. A interpretação, o cenário e claro, os enredos; tudo no teatro começou a me chamar a atenção e percebi que desde a coxia até o tablado, tudo é magia!Não importa se é uma comédia, ou um monologo, um drama, toda forma de contar uma história conta com todo um aparato técnico e emocional do dramaturgo ao ator e culmina na platéia.

De uns tempos para cá eu formei um grupo de teatro com os alunos da escola em que estou lecionando. Na modalidade EJA, por insistência ( e coragem) de alguns alunos, passei a desenvolver duas apresentações teatrais por ano. É no palco que se descobre muitos talentos que ficam guardados em gavetas (parafraseando Gaston Barchelard). Jovens e senhoras, trabalhadores, alunos se tornam atores se entregando a interpretar um personagem que na maioria das vezes é oposto ao que são.

Tem aluno que até se vê como coreografo, dançarino, médico, pai, mãe. No mundo magico da encenação você pode ser o que quiser e como quiser. Certa vez, uma aluna que tinha dificuldade para interpretar eu disse para ela desta forma: "fulana! O que você precisa fazer é brincar de faz de conta! Saiba mentir, fingir, ser o que não é, pois é assim que os atores fazem!". A aluna disse ofendida que nunca mentiu na vida. Que não saberia fazer o papel.
No fim ela acabou fazendo a peça ao final e descobriu que no teatro, a mentira não é pecado. É um ato de brincar e de voltar a ser criança. As crianças interpretam mocinho e bandido o tempo todo, e não fazem mal a ninguém. Assim também é o teatro.
Hoje o Brasil perdeu uma grande dama do teatro Marília Pera. Cresci vendo os filmes e novelas que ela fazia. Gostava de como ela fazia as pessoas rirem sem fazer esforço, ou quando me fazia chorar com um personagem dramático que só ela saberia realizar. Filha de atores cresceu querendo ser atriz e mesmo que o seu pai ator dissesse para ela desistir da profissão por que na época dele ator não era valorizado, ela nunca desistiu da carreira. Resultado: virou cantora, escreveu e dirigiu peças, fez filmes e agora... está entre aqueles que fizeram a história de nossa arte!

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