sábado, 12 de novembro de 2011

Escrevendo um romance III: 3ª Parte

CAVALEIROS E EXORCISTAS

©2011 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência

OS ARAUTOS DE TUPÃ


Sem nossas vestimentas o frio começou a nos incomodar. Bonelli lembrou de nosso navio e dos mantimentos que estavam nele. Aquiles nos indagou o que poderíamos fazer para sairmos da cela e voltarmos para a embarcação.
O monge espanhol Enrico xingou em sua língua e desesperado tentou romper a cela com chutes e socos. Os troncos que faziam a cela nem sequer moviam. Michelangelo como estrategista de guerra começou a planejar uma tática para atacar as nativas caso elas voltassem, porém Aquiles disse que não seria prudente fazer tal coisa.
O numero de nativas mesmo sendo composto por mulheres era muito grande e como elas estavam armadas, o mais provável é que seriamos trucidados em poucas horas por elas, caso percebessem que iríamos fazer algum ataque ou coisa parecida.
Enrico então divagou que se estivéssemos com nossas armaduras e espadas poderiam equilibrar a luta, pena que tudo que tínhamos de armamento estava no navio. Na mesma hora Aquiles resgatou na memória o que a velha nativa havia dito sobre as “roupas brilhantes” e o que ela chamou de “outros”.
Aquiles explanou que achava que as nativas teriam tido um contacto com outros navegadores que chegaram na ilha antes de nós e que as ensinaram a falar em nosso idioma. Michelangelo questionou tal idéia, pensando que teria acontecido com tais navegadores.
Bonelli com seu jeito alarmista disse que eles deviam ter sido devorados ou terem, na pior das hipóteses, sido estripados pelos monstros da cachoeira. ‘Quantos monstros devem existir nesta ilha?’ perguntou assustado Michelangelo. Aquiles ficou calado e depois pediu para que todos procurassem no chão arenoso um lugar para deitar. Assim foi feito e todos mesmo com medo dormiram pelo cansaço da viagem e da luta com os monstros.
Quando os primeiros raios de sol penetraram pela vegetação, pudemos perceber um manancial de verdes e amarelos na paisagem tão brilhantes que mesmo dentro da cela nos encantava. Michelangelo disse que sentia dores nas costas e que o chão da cela lhe impediu de dominar em uma posição confortável. Aquiles levantou-se rapidamente e disse para ficarmos alertas, pois uma comitiva de nativas estava vindo. A comitiva chegou com a índia mais forte a frente acompanhada pela velha líder da tribo.
Com os seus dedos finos e enrugados ela apontou para Aquiles e disse para ele sair da cela. Aquiles disse que não sairia! A velha com seu olhar calmo disse que caso ele não obedecesse às lanças e flechas de suas guerreiras perfurariam nossos corpos. Como líder que zela pela sua tropa, Aquiles então aceitou sair da cela. A comitiva o carregou e por um bom tempo ficamos sem a presença do monsenhor.
O tempo foi passando e aflição começou a vir em nossas almas. Enrico disse em tom de desespero que talvez Aquiles já estivesse sido devorado pelas nativas. Bonelli acompanhou a hipótese fatídica e disse que logo seriamos os próximos. Eu não queria dizer nada, mas pensava a mesma coisa. ‘Viemos a traz da relíquia sagrada e agora seremos devorados por demônios com corpos de mulher’ pensei comigo. Deus seria imprudente com seus filhos agora?
Michelangelo travou os dentes e disse que vingaria a morte do nosso líder se tivesse oportunidade. Cada um se preparou para o pior a sua maneira. De repente, como se Deus quisesse nos acalmar, nosso líder voltou escoltado por duas nativas. Ele entrou na cela e elas foram embora. Corremos ao seu encontro e examinamos de cima a baixo esperando ver um ferimento de lança ou mordida. Contudo, não havia nada em seu corpo.
Aquiles resolveu se sentar e com olhar espantado disse que tinha muitas informações importantes para nós. Sentamos ao seu redor e ele como um contador de histórias nos relatou: ‘A velha índia me disse que nossos irmãos estão aqui!’.
Eles chegaram a duas ou três luas a traz. Vieram de navio como nós e aportaram com seus cavalos e armamentos. Estavam vestidos com suas armaduras e começaram a andar pela mata. Eles encontraram a aldeia das nativas. A velha pajé havia dito que os outros navegadores seriam os arautos de Tupã.
Elas ficaram maravilhadas com as armaduras e como eles chegaram encima de cavalos. Elas nunca tinham visto animais eqüestres e nem homens de olhos azuis e de roupas tão brilhantes! Elas resolveram então acolher os arautos do deus Tupã em suas tímidas casas.
Eles comeram, beberam e até riram com elas. Provavelmente por alguns anos eles foram amistosos com as nativas e até as ensinaram nosso idioma e a fé que não conheciam.
O tempo passava e eles lhe presentearam com espelhos e panos envelhecidos. A velha disse que o líder dos arautos Atila, era um homem alto de cabelos longos e negros. Olhos azuis e de cicatriz na face. Ele era bom! Tratava bem as nativas e era prestativo. Ensinou táticas de batalha para as guerreiras e dizia a elas que todos habitariam o céu.
Porém, nem todos os arautos eram sinceros, havia aqueles que tinham outras intenções. Um deles chamado de Filippo era bruto e assediava as nativas. Em uma determinada noite ele disse que desejava ter uma nativa em sua cabana. Velha não percebeu o que se tratava e pensou que ele queria um sacrifício e ofereceu a ele a mais jovem da tribo. A moça era pequena, quase uma menina, nem sequer tinha seios formados, porém tinha um corpo formoso.
Filippo deu um sorriso malicioso quando a viu e com força a segurou pelo braço e a levou para a sua cabana. Dentro do aposento o arauto beijou, cheirou e fez caricias obscenas na jovem. Quando ele desejou penetra-la a menina recusou. Felippo então com raiva começou a bater nela! Deu socos fortíssimos e deformou o rosto da menina e assim que ela ficou inconsciente ele fez a desejada penetração.

Depois que sentiu saciado ele a jogou fora da cabana como quem joga excrementos fora da latrina. A velha pajé viu aquilo e ficou sem entender o que levou o mensageiro de Tupã agir daquela maneira.
Pedindo explicações foi até a Atila, que nem sequer esboçou uma reação. As nativas então trocaram a admiração que tinham pelos arautos por medo e ódio. Passado alguns dias e com a menina violada muito doente, Diana a filha mais velha da pajé pediu a mãe à permissão para expulsar os arautos da aldeia.
A mãe permitiu e depois mudou de opinião. ‘Como poderemos ferir os arautos sem enfurecer o deus Tupã?’ Perguntou a velha guerreira. Diana e sua melhor guerreira que os arautos chamaram de Harpia (devido sua ferocidade) resolveram desenvolver uma tática de ataque. A velha pajé pediu antes o tempo para realizar uma pajelança.
No meio da madrugada capturou um dos cavalos dos arautos. O prenderam com cipós e em seguida ela o sacrificou arrancando-lhe a cabeça. Depois serviu o sangue da cabeça do cavalo como poção para que as guerreiras o tomassem. Após beberem a tal poção as guerreiras se sentiram mais fortes e confiantes para atacar os inimigos.
O que ninguém esperava, no entanto é que o cavalo mesmo sem a cabeça se levantasse e dando pinotes atacasse as nativas e depois partisse para as matas. Depois alguns nativos de outras tribos haviam relatado ver um estranho animal sem cabeça rondando as florestas.
Filippo ficou furioso com as guerreiras, pois o cavalo que fora sacrificado era o seu. Resolveu reunir os soldados e atacar as guerreiras. Atila dissera para não fazer tal coisa, pois ele queria ter as nativas como suas seguidoras. Todavia, era tarde! As guerreiras que estavam armadas e com os rostos pintados para a guerra chegaram até Atila e os seus comparsas com ferocidade. Atila teve que desembainhar a sua espada contra a vontade, pois até ele parecia ter afeição pelas nativas, principalmente por Diana.
Diana também sentia algo por Atila, mas não era amor e sim, raiva! Ela atacou com sua lança dois de seus soldados e derrubou alguns no chão. Percebeu que os tais arautos eram tão feitos de carne e osso quanto elas e, por isto, menos divinos.
Fúria (a mais forte das guerreiras) somente com suas mãos esmagou a cabeça de muitos soldados e quando avistou Filippo partiu para cima dele com vontade de sangue. Quando os dois se encontraram duelaram como dois titãs. Ele era forte e tentava golpeá-la de uma única vez. A guerreira, porém tinha habilidades físicas extraordinárias e lhe deu muito trabalho. Quando ela conseguiu colocar as mãos em seu pescoço, depois que ele perdeu a espada, ela o estrangulou até ele morrer sufocado.
Atila vendo que as guerreiras estavam mais preparadas que eles, pediu que todos os soldados debandassem e assim desapareceram na mata deixando um rastro de destruição na aldeia.
Depois deste relato monsenhor nos olhou e disse com certeza: ‘Atila é o templário. Ele esteve aqui!’.

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