quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Construção e visão da arte nas escolas
Apreciar uma obra de arte ou um objeto artístico as vezes requer muito mais do que saber dos elementos básicos da linguagem visual. Muitos docentes em artes se preocupam apenas com a parte tecnica de uma obra: como pintar um quadro e quais tecnicas utilizar para tal fim, etc...
Há muito tempo defendo que antes de pintar, esculpir ou desenhar devemos ter primeiro a noção de Poética ( para alguns pode ser o conceito ou exercicio da construção de um tema) para assim construir uma obra de arte. Falo de 'construção' porque um objeto artistico é composto de várias etapas assim como é construir uma ponte ou uma casa.:
1- a primeira etapa é saber o que vai querer expressar com sua obra (a poética);
2- a segunda etapa tem haver com os recursos que o artista dispõe ( seja o tema e os materiais fisicos);
3- o suporte em que sua obra irá se sustentar ( um quadro, uma pedra de marmore, papel...);
4- o fazer artistico sabendo que durante a confecção ocorre o experimentalismo e os acertos e erros da produção.
No fim a obra saíra depois de ter passado por estas etapas. Costumo dizer aos meus alunos que nenhum artista pinta ou desenha por mágica ou porque ele acha 'lindo' fazer arte. O que nos leva a se dedicar a um trabalho artistico é a necessidade de comunicação e como queremos que nossa mensagem chegue até as pessoas.
Os homens das cavernas faziam desenhos porque não falavam tão bem como nós e como a linguagem falada ainda era primal ele descobriu que fazendo signos nas cavernas poderiam se comunicar e criar pensamento. Até o ato de desenhar se torna a escrita de uma civilização levou-se muitos e muitos anos. Os ideogramas chineses estão aí para provar isso! Os orientais transformaram desenhos em codigos simplificados até estes se tornarem sua linguagem escrita. Os egipcios são outro exemplo com os hieriglifos em que o ícone de um falcão ou um desenho de um olho poderiam representar a divindade ( o internetês do mundo digital seria uma linguagem mais icônica do que se imagina e mais distante do que se chamaria de escrita).
É deste ponto que falo então de leitura de obra de arte. Não basta saber dos elementos básicos de linguagem como simetria e assimetria, recorte e figura central. Esta etapa é preliminar, porém se o professor e o aluno fizerem só isto não estarão aprendendo a ler um objeto de arte.
Desde que a fenomenologia sugiu com os semiologos e ganhou força com autores atuais como Umberto Eco e Did Hubermann, percebeu-se que uma obra de arte não é só uma junção de camadas de tinta em uma tela e sim, um discurso que um artista defende através de uma obra. Este discurso pode as vezes ser contra ou a favor da sociedade ou isolar ou inserir o artista no mundo. Somando a isto, temos os trabalhos de Marcel Duchamp e os artistas de vanguarda e pós-moderno onde a leitura formal de arte não se encaixa e assim derruba visões de arte envelhecidas. O professor de arte deve então ter contato com autores como Bachelard, Merleau-Ponty e Rosalind Krauss para não se estagnar na leitura formal de arte e assim dar ao aluno uma nova perspectiva de mundo.
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