CAVALEIROS E EXORCISTAS
©2011 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
O FANTÁSTICO ENCONTRO COM A RAINHA DAS AGUAS
Descansávamos depois de todas as batalhas travadas quando Buldica e Diana vieram à aldeia guarani. Como não nos víamos há muito tempo, ela estranhou que estivéssemos com barbas grandes e cabelos desgrenhados. Quando olhei para Diana, por alguma razão, o meu coração bateu mais forte e um frio na barriga surgiu.
Ela continuava muito bela, tão bela quanto uma estátua de Vênus. Queria poder travar um diálogo com ela, mas a nativa queria mesmo era falar com o monsenhor Aquiles. Com tom de raiva ela desaprovou nossa empreitada sobre as aldeias que foram expurgadas.
Diana dizia que estava triste em saber que éramos iguais a Atila e seus soldados cruéis! Não entendíamos, pois queríamos apenas salvar as almas de criaturas tão sofridas pelo mal. Buldica disse que rezou para o nosso Deus, para que não fizéssemos tais ações! Ela não entende que é por Ele que fazemos tudo isto!
Aquiles disse para ela se acalmar e ver o que tínhamos feitos aos guaranis: mostrou a igreja que foi edificada com seu esplendor e glória, também mostrou a grande plantação que cultivávamos em uma área enorme com a técnica da charrua, fizemos um moinho para reter a água do riacho e assim, utilizá-lo melhor. Enfim, fizemos da aldeia uma verdadeira vila!
Diana olhou a tudo espantada. Ficou em silêncio e depois disse:
- Tu tens que vir comigo! Temos que falar com Yara, agora!
O nome Yara fez Aquiles ficar eufórico, pois os índios passavam oras falando sobre ela. Teria essa tal ‘rainha das águas’ tanta autoridade assim? Aquiles aceitou a proposta e junto com Diana foram em direção as cascatas que ficavam abaixo da aldeia. Chegando lá, Aquiles sentiu um frescor e um frio que encharcava o seu manto. Praticamente molhados os dois ficaram na margem do rio.
Diana trouxe um pouco de ervas e se ajoelhando diante de uma pedra jogou-as no rio. Ficou de olhos fechados e em silêncio esperou algo acontecer! Aquiles ficou paciente e não quis atrapalhar o ritual da nativa, apesar de achar tudo uma asneira.
De repente ondulações começaram a surgir na superfície do rio. A água foi ficando cristalina até brilhar e ofuscar os olhos de Aquiles. Ele sentiu um pavor diante da mágica da amazona e desejou sair dali, mas as suas pernas não se mexiam, pareciam raízes fixas no solo.
Petrificado de medo então, ele viu algo inacreditável: uma cauda de peixe apareceu no rio e depois mergulhou na água. Em seguida algo começou a sair de lá! Em meio uma estranha neblina que tomou conta do lugar Aquiles viu um torso de mulher aparecer. Ela tinha olhos azuis e na cabeça sustentava uma coroa sobre a cabeleira longa e escura. Os seus seios eram cobertos por conchas e seus lábios eram carnudos e sua tez rosada.
A mulher foi saindo do rio em direção a uma pedra. Quanto espanto maior teve Aquiles em ver que a parte debaixo do corpo da mulher era de peixe! Nem Homero com sua ilíada seria capaz de descrever tal criatura: uma mistura de beleza com grotesco, que levaria qualquer um a ter sensações contrarias de amor e horror!
A sereia chamou através de um assobio como uma flauta tocando uma melodia delicada o nome de Aquiles. Ele como se estivesse em transe entrou na água com roupa e tudo mais que carregava e nadou até onde estava a criatura.
Quando chegou bem perto da sereia quis toca-la. A sereia afastou o corpo com medo e em seguida resolveu tocar o rosto de monsenhor Aquiles. O toque dela parecia ter despertado nele um sentimento há muito adormecido.
Aquiles saiu da água e prontamente se sentou próximo da criatura. Os dois se olharam como seja conhecessem. Aquiles parecia sentir o que um monge deve repelir: o desenho de romper o celibato.
Yara então para por fim ao silêncio entre ambos iniciou a conversa:
- Aquiles, tu és um homem bom e sensato, contudo está levando a fé em seu deus para um caminho espinhoso. Olhe e veja o sofrimento que trouxe aos meus súditos!
Aquiles parecia não ter o que dizer, depois retrucou:
- Estou fazendo o que é o certo! Estou levando a paz aos aflitos e livrando o mundo do mal.
A mulher peixe ficou com um semblante de tristeza e então replicou:
- Que paz é esta!? Tirou a vida de muitos dos que viviam aqui nesta mata. Destruiu povos em nome do seu deus! Que bondade trouxe com o fio da sua espada? Conheci o seu irmão Atila e ele também pensava como vós. Dizia trazer a paz e a esperança. Porém, não precisávamos de sua paz e nem de tua esperança já que não estávamos aflitos e nem desesperançados. Contudo, Atila pensava diferente e agiu com raiva sobre o meu povo.
Aquiles ouviu estas palavras e franzindo a testa, depois serrando os dentes e com expressão de fúria replicou:
- Como podes querer me comparar com tal serpente!? Ele traiu a Deus e eu não! Ele não viu que aqui é o Éden bíblico, que precisa ser preservado do Maligno.
A sereia percebeu que as idéias de Aquiles não iriam mudar. Então, saltou para o rio deixando o monsenhor sozinho sentado na pedra. O monge mestre sentiu um pesar e lembrou dos olhos azuis que contemplara. Desejou que eles voltassem e sem pensar nas palavras gritou:
- Volte Yara! Volte para meu lado! Eu estou sentindo algo que não deveria por ti. Um fogo acendeu em meu coração e preciso apaga-lo...Volte para mim!
Vendo que a sereia não ouviria os seus clamores, Aquiles voltou para a água e nadou de volta para a margem do rio para encontrar Diana. Quando saiu da água estava cabisbaixo e voltou com passos pesarosos para a aldeia.
No caminho Diana tentava convence-lo a deixar a tribo guarani e conseqüentemente deixar também a ilha. Aquiles, contudo, estava surdo as suas palavras com a mente voltada para a lembrança dos olhos azuis de Yara. Quando voltaram para a aldeia Aquiles me relatou tudo isto.
Tive pena dele e ao mesmo tempo entendia os seus sentimentos, pois eu estava tendo os mesmos em relação à Diana. Depois de um tempo as guerreiras deixaram a aldeia guarani prometendo voltar brevemente e ver que decisão tomaríamos para por fim ao sofrimento, que segundo elas estávamos trazendo ao povo.
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