quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Como Montar um Cubo Mágico: para o projeto de tabela periodica



Desde que foi inventado por Rubick em 1974, o Cubo Mágico se tornou um objeto de consumo pela molecada por exigir destreza e raciocinio lógico para lidar com ele. O que lhe garante desde há muito tempo seu espaço como um dos melhores jogos já feitos pelo homem ( é só lembrar do xadrez e do dominó). Como pretendo trabalhar o cubo mágico combinado com a tabela periodica de Mendelev com os meus alunos, acho justo demonstrar como monta-lo. Assim sendo estou exibindo um video com um dos metodos mais conhecidos de montar um cubo mágico. Tanto como os meus alunos ainda tenho dificuldade de lidar com o cubo de Rubick, o que demonstra que mesmo um professor não é nenhum 'sabe tudo' e como os alunos tenho muito o que aprender.

Se você não entender a explicação do video assista-o pelo menos mais algumas vezes até assimilar como montar o cubo. Nas primeiras vezes é dificil mesmo!!!

Projeto de Pós-Graduação X: Final

Finalmente se encerra a postagem da minha monografia de pós. Espero que ela auxilie na pesquise e como instrumento de inspiração para quem quer fazer sua monografia. Peço que não copiem o meu trabalho pois sabe-se que por lei da ABNT, qualquer pessoa que apresentar um trabalho que seja plágio ou cópia é passivel de punições legais juridicas:


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O medo do desconhecido, a crença no que não é explicável, um amálgama de culturas que mesmo opostas aparentemente tinham como elementos comuns à fé no mundo mítico é possivelmente o modo de entender as obras de Dante Alighieri e Hieronymus Bosch. Um poeta e um pintor que cronologicamente longe um do outro tinham muito em comum por estarem em uma Era de transformação.
A poesia de Dante com o todo seu detalhe minucioso, sua forma de expressar o modo operandis do homem do seu tempo, tornou a Divina Comédia o olhar de seu criador. Um emissor de mensagem. Uma crônica que para o homem de nossa Era revela uma Idade Média com suas características que podem para uns exibir uma lembrança romântica, um idealismo de honra e amor, que somente poderia ter existido naquela época. Para outros um exemplo em forma de palavras, e evocação poética de imagens de fanatismo, ou crença no hierofânico, algo que a razão condena.
O mesmo se pode explorar nas obras de Bosch. Seus retábulos avermelhados e tenebrosos cheios de movimentos eróticos, frenéticos e atordoantes. Seus monstros que transpiram alegria em ver a dor no rosto dos desafortunados na chama do Inferno. Os corpos nus que por terem se rendido aos desejos carnais e que ganham toda a observação de um voyeur, que se regozija com os castigos dos que não seguem a lei de Deus. Poder sentir-se incomodado, quando por traz de toda uma beleza plástica da pintura está o sentimento de asco de um homem para com a humanidade que para ele, está corrompida.
As pinturas dos Países Baixos em especial de Bosch e Peter Bruegel, não procuram ocultar o medo da ira divina, mas ao mesmo tempo acreditam na Justiça de que os bons subirão aos céus e os maus cairão nas labaredas do Inferno. Quem seguir a Deus corretamente terá recompensas espirituais, os que não o seguirem ou o desafiarem padecerão para todo o sempre. Um maniqueísmo que brota de um belicismo da Cristandade ainda pertencente ao inconsciente coletivo. É neste deus não amável e vingativo é que Bosch e Dante depositam as suas esperanças. Em meio a crises teológicas e ao abraço do homem a ciência, tanto o poeta quanto o pintor percebem no vento da mudança, uma tempestade que destroçará toda uma civilização. O fanatismo que sempre aparece diante de fenômenos incontroláveis da natureza ou quando ocorrem em momentos de explosões de fúrias sociais e políticas.  A Cristandade que plantou o medo do desconhecido nunca deixou de germinar e dar frutos no mundo Ocidental. É talvez, por isto, pela mentalidade medieval que carrega o homem contemporâneo, que este incontrolavelmente dirige-se às obras de Bosch e a poesia teológica de Dante. Um rebuscar ora cheio de romantismo, ora crítico, porém curioso e por que não dizer comovente nos dias de hoje. Basta um terremoto, uma guerra, uma crise política que provoque uma turbulência no dia a dia ‘pacífico’ e correto, para a evocação da hierofania e o belicismo.
Todos os elementos bíblicos de castigo divino voltam na lembrança do homem como um alerta de que algo está errado. Quando Bosch retrata as tentações sofridas por Santo Antão no deserto, ele está antes de tudo criando uma obra de cunho pedagógico onde a catequese prioriza ensinar ao homem que deve se preparar para uma luta por sua alma. Uma luta que até que então estava ocultada em meio aos fenômenos hierofânicos, guerras santas e crise religiosa: Deus e o Diabo degladiando-se pela Criação.
Bosch como um “profeta” que usa da técnica da pintura assim como um profeta bíblico antigo usava da escrita para fazer revelações, expõe em imagens todo o temor que o homem do medievo tem da morte e da vida além. Cada revelação adquire detalhismo para que o crente continue no caminho da fé e não vacile e o não-crente mude de opinião, se converta para assim não mergulhar no pecado mortal que o levará ao castigo.
Enfim, a pintura de Bosch se torna didática, como uma tentativa de educar o pagão no caminho cristão. O didático não é somente característico nos trabalhos boschinianos. Na poesia de Dante, que tem seu epstema na teologia de Tomás de Aquino e na cultura grega, seu modo de ensino ao medievo italiano, as conseqüências do homem no mundo terreno serão pesadas na balança do Juízo Final.
Toda a ação tem uma reação para o poeta: os que foram maus para com Dante ou descumpriram a palavra de Deus foram lançados no fogo eterno. Mesmo aqueles que podem ter a qualidade do amor, mas se este sentimento viola as normas divinas sofrem castigos. Por outro lado os que conhecem a Deus e cumprem os sacramentos da Igreja, mesmo se corrompendo durante o caminho da vida, podem ter um lugar verdadeiro no céu celeste, desde que este seja legitimado pelo carita, que não se apega à carne ou a lascívia. Neste caso o amor platônico entre Dante e Beatriz.
Se Dante apóia seu seguro lugar no Céu no amor a Beatriz, Bosch somente apóia seu amor a sua devoção como crente fervoroso às leis. Poderia também, dizer que ele usa o anacoreta Antão como um espelho enquanto Dante vê na sua musa uma projeção da fé redimida depois de lutar contra a sua religião e seguir os caminhos “errados” da vida. O amor legitimo e virginal e a busca pela santidade poderiam ser aquilo que talvez o homem cristão do medievo mais almejasse. Cada vez mais mergulhado em guerras e esperando a descida do salvador, para lhe tirar do mundo sofrido em que se encontrava. O apego ao contrato com o sobrenatural e a supervalorização do poder místico sobre as ações humanas seja, o que vinha das estrelas, das bruxas, da alquimia... Da fé nos ditames cristãos, que para homens como Dante e Bosch seriam as únicas soluções para a atormentada alma do medievo.
Mas o que as obras de Bosch e Dante tem a dizer para nós homens e mulheres da contemporaneidade? Mesmo a distância que existe entre nossa época e a deles ser evidente em termos de modo de pensamento e tecnologia, ainda temos o belicismo como elo de ligação. Com todo o avanço cientifico, que desmistificou muitos mitos que eram sustentados pelo não saber, o homem ainda não obteve respostas para questões ainda milenares. As questões referentes a alma e a morte, passaram a não ser mais temas de teologia ou filosofia. A ciência as abraçou (não se estuda o universo somente pela curiosidade de ver as estrelas, mas, porque delas o homem procura saber sua origem) e tenta dar respostas, digamos, de cunho concreto. A psicanálise disseca nosso comportamento, que para os antigos era regido por forças ocultas.
Por que mesmo depois da psicanálise e dos aceleradores de partículas e estudos de doenças tidas como incuráveis ainda se crê em Deus e no Diabo? Porque até o momento o mundo contemporâneo com seus computadores e televisores e livros científicos não acalentaram nosso medo do vir depois da morte. O mesmo medo que o homem do medievo que não tinha luz elétrica tinha do escuro da floresta é quase o mesmo do homem que possui internet e assiste estarrecido a catástrofes naturais e guerras via TV.
O finalismo que é impulsionado pelo belicismo transparece em dúvidas de como o homem mesmo tendo evoluído (segundo Patrick Gadner e seu desenvolvimento da inteligência humana) não consegue se desprender da luta do bem e do mal. E se mesmo não houvesse uma crença nas forças sobrenaturais o fascínio que o tema desperta em forma de filmes, livros e imagens que remontam o medievo não é totalmente entendido. A Idade Média carrega toda as incoerências humanas: o medo do desconhecido e a vontade de conhecer que leva as navegações, o medo de pecar e ao mesmo tempo quebrar as leis ditas divinas instituídas por uma força terrena (a Igreja), o medo de ir para o Inferno e a esperança no Paraíso.
Esses impulsos de negação e afirmação de ir e voltar não são somente uma característica da Idade Média. A nossa identificação com o camponês ou com o pensador do medievo é muito forte porque o nosso comportamento ainda é semelhante. Para cada evolução científica temos um medo de que tudo possa dar errado ou que estejamos burlando alguma regra de ordem superior. Para cada mudança social é necessário um caos gerado pela transição de um modo para outro. Esse caos não nos é digerido facilmente, pois não sabemos os resultados imediatos dele. Quando as obras de Bosch e Dante chegam por meio de suportes midiáticos (TV, cinema e revistas em quadrinhos) ficamos talvez aliviados em perceber que o medo do desconhecido não é uma preocupação somente de nossa geração. Os demônios e flagelos boschinianos e dantescos são tão vivos diante de nós que poderiam ser palpáveis. E é esta capacidade de parecerem tão reais que seja apelando para o imagético ou para as palavras que nos aproximam de um passado distante que não desapareceu com a Cristandade. Ao final de tudo os medos do camponês e do homem modernos são os mesmos porque não temos certeza de nada sobre a vida e a morte e muito menos da existência de Deus e do Diabo.






 


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia - São Paulo: Editora Cultrix, 1993.
AQUINO, STO. Tomás de. STO. Tomás de Aquino: Seleção de Textos - São Paulo: Ed. Nova Cultural, 2004.
BOSING, Walter. Hieronymus Bosch (1450 a 1516): Entre o Céu e o Inferno-Hohenzollernring: Taschen, 2006.
BURCKHARDT, Jacob. A Cultura do Renascimento na Itália-Brasilia, Universidade de Brasília, 1991.
BERRIEL, Carlos Eduardo. No meio do Caminho da Vida in: Entre Clássicos-São Paulo Ediouro, vol. I, 2007.
BYINTON, Elisa. O Projeto Renascimento - Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
BLOCH, Marc. ‘Introdução a História’. Texto 05-Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2002.
BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia: Histórias de Deuses e Heróis: (a idade da fábula).—São Paulo: Martin Claret, 2006.
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GADNER, Patrick. Teorias da História, Fundação Gubenkian, Lisboa.
GOMBRICH, Ernest Hans, (1909-2001) Arte e Ilusão: Um estudo da psicologia da representação-São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LACERDA, Rodrigo (organizador), História Viva: Os melhores textos sobre a Idade Média-São Paulo: Duetto Editorial, 2008.
LINK, Luther. O Diabo: A Máscara Sem Rosto – São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
GIUCCI, Guilherme. Viajantes do Maravilhoso: O Novo Mundo – São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
LE GOFF, Jacques. Uma Longa Idade Média-Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
LOMBARDI, Andréa. Um Corpo que Cai in: Entre Livros Clássicos-São Paulo: Ediouro, vol I, 2007.
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KAYSER, Wolfgang. O Grotesco-São Paulo: Editora Perspectiva S. A, 1986.
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PEREIRA, Paulo. As Tentações de Bosch ou Eterno-Lisboa: Etecta, 1994.
PANOFSKY, Erwin. Significado nas Artes Visuais-São Paulo: Perspectiva, 2004.
VERMEESCH, Paula. ‘A Selva Escura da Visualidade’ in: Entre Livros Clássicos-São Paulo: Ediouro, 2007. (vol. 01).
WIND, Edgar. A Eloqüência dos Símbolos: Estudos sobre Arte Humanista-São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997.
RUSSEL, Jeffrey Burton. O Diabo: As Percepções do Mal da Antiguidade ao Cristianismo Primitivo-Rio de Janeiro: Campos, 1991.




sábado, 27 de agosto de 2011

Exposição 2011: ANTICORPOS (irmãos Campana)


Existem artistas que conseguem cruzar a linha da arte decorativa e contemplativa e aquilo que se pode chamar de objeto funcional. Na maioria das vezes um objeto funcional não precisa ser belo ou conter formas artisticas que possam chama-lo de obras de arte. Os indios não fazem esta distinção tanto, que um colar como um pote recebem o mesmo trato de capricho de confecção.

Talvez seja com esta visão do indio e menos do objeto de mero consumo de massa que a exposição 'Anticorpos: Fernando & Humberto Campana (1989-2009)' se torna interessante para ser vista.
Os irmãos Campana seguem a filosofia pregada pela Bauhaus de Grupius e assim concebem cadeiras, sofá e biombos com um valor artistico e ao mesmo tempo usando materiais tido como ordinários. Caixas de papelão viram moveis atraentes assim como bonecos de pano viram cadeiras. Tudo que os irmão construiram conseguem ir do design até a chamada arte institucionalizada.
A exposição está ocorrendo da galeria 1 e 2 do CCBB de 26 de julho a 25 de setembro. Terça a domingo das 9h às 21h.
     

Sessão Espada & Magia II: desenhos mágicos

Continuando a sessão espada & fantasia, revirei a minha memória para lembrar de antigas animações que tinham como tema aventuras de cavaleiros, reinos mágicos e dragões. Acabei percebendo que muita coisa bacana já foi feita. Alguns desenhos que falarei ainda são exibidos na tv e outros viraram raridade e quem puder pesquisar na internet vai encontra-los:

Caverna do Dragão
Até hoje passa na tv e ainda continua sendo um dos referenciais para quem curte RPG e J.R. Tokien. Produzido em 1984 e tendo 22 episódios, contava a história de seis crianças que após passarem por um portal interdimensional acabam caindo em um mundo cheio de feiticeiros, dragões e magia. Personagens como o Mestre dos Magos e o Vingador ainda hoje são lembrados por aqueles que assistiam ao desenho. Pena que o desenho ficou sem um final definitivo oque gerou especulações e ideias bizarras e até supostas mensagens subliminares demoniacas sobre a animação. Em 2000 fizeram um filme que nem de longe tinha a 'magia' do desenho.

Blackstarr
Este desenho só é lembrado por quem tem memória de elefante. Blackstrar foi o primeiro desenho feito pelos produtores do He-Man e por isto possuem certas semelhanças visuais. A história do desenho é sobre um astronauta que cai em um mundo cheio de feiticeiros, hobbits e monstros medievais, que lembravam muito a Eternia de He-Man. Este desenho foi produzido em 1981.

Galtar e a Lança de Ouro
Outro desenho obscuro que passou poucas vezes na tv. Produzido pela Hanna-Barbera ( Tom & Jerry) contava a história do guerreiro Galtar que possuia a arma mágica chamada Lança de Ouro e assim lutava contra o general feiticeiro Tormack. Este desenho lembrava muito o He-Man  e foi produzido em 1985.

Principe Valente
Personagem ícone da era de ouro dos quadrinhos dos anos 50. Ganhou um desenho em 1991. O Principe valente é uma visão romanceada da Idade Média que rivaliza com Rei Arthur e Ivanhoé de Thomas Malory e Lord Byron.

Cavaleiros da Luz Mágica
O visual dos caras era super bacana! Um grupo de cavaleiros modernosos que se transformavam em feras selvagens em um mundo que ora lembrava a Terra Média e ora lembrava um planeta futurista. A produção do desenho era da Hasbro ( a mesma empresa dona dos Transformers).

Thundarr, o Bárbaro
Depois da Caverna do Dragão este era um dos melhores desenhos de espada & magia da época. Produzido em 1981, contava a história da devastação da Terra após a destruição da Lua. 2000 anos depois a humanidade regressa para uma era medieval com toques tecnologicos modernos. Thundarr vivia neste mundo com sua espada lazer e lutava contra feiticeiros e tiranos. Era comum ele encontrar todo tipo de personagem da Terra Média em suas aventuras, mas o legal era ver monumentos antigos destruidos como a Estatua da Liberdade servindo de cenário para o personagem.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Energia Alternativa e as artes

Com o aumento da poluição e a possivel escassez de recursos naturais, a sociedade passou a se preocupar em como fazer uso correto do planeta sem destrui-lo. O recurso de energia fossil (petróleo) ja demonstrou ser poluente e de pouca renovação. Apesar de grandes nações do mundo usarem as altas de preços de produtos e derivados do petróleo como modo de manutenção de poder.
Não é atoa que os EUA e demais paises da Europa tentam vencer o cartel dos paises arabes que detem o 'ouro negro'. A guerra do Iraque que ceifa a vida de muitas pessoas está aí para provar a incensatez humana.
Mas como resolver o problema da energia sem exaurir o planeta? Há muito tempo que cientistas e ambientalistas discutem uma nova forma de energia para que possamos usar sem poluir ou devastar a Terra. Daí que surge a energia alternativa que propõe ser limpa e de forma inesgotavel sem prejudicar o meio ambiente. Alguns destas energias renovaveis não chegam a ser uma 'novidade'. Um exemplo é ver uma das fomosas gravuras do pintor Gustave Doré em que ele retrata Dom Quixote combatendo moinhos de ventos.

A energia aeolica já era ultilizada na Idade Média, na obra de Cervantes, Dom Quixote vê os moinhos de vento como gigantes e os ataca. Esta cena ficou super conhecida do imaginario ocidental desde então.

Outra forma de um tipo de energia alternativa era o uso de carvão. Os trêns à vapor como o que era retratado no famoso quadro de William Turner eram um novidade do final do século XVIII e assim como as embarcações à vapor representavam o surgimento das fábricas e grandes metrópoles. Porém, a energia à carvão se mostrou com tempo poluente e capaz de ser destrutiva para as florestas e não renovável.

Quanto a energia solar é só lembrar do Super Man. O heroí extraterrestre tem suas energias tiradas do sol amarelo do sistema solar o que lhe dá super poderes. Hoje sabemos que a energia do sol pode ser captada por placas fotosensiveis e assim termos uma energia inesgotável. Alguns países acreditam que a energia solar pode ser muito cara.

Já a energia atômica é limpa mas, o risco de uma radiação ainda causa cautela quanto ao seu uso. A DC Comics havia criado nos anos 80 um personagem chamado D.r Manhathan que era uma propaganda deste tipo de energia.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Projeto de pós-graduação Parte IX

3.4-No jardim do bem e do mal

Cátaro ou adamita? Um irmão de vida comum ou participante de confraria? O Jardim das Delicias foi a obra, digamos, que projetou Bosch para o mundo relevante das artes e é talvez, a sua maior síntese em termo de mensagem alegórica. O painel central do tríptico que se encontra no Museu do Prado transformou-se para os críticos e historiadores de arte em um enigma em forma de pintura.
De Kayser a Copplestone, de Bosing passando a Markl, a obra possui diversas camadas que suscitam diversas leituras. Na maioria delas a Luxúria é patente. Como Bosch retrata os pecados capitais em muitas de suas obras é natural que ele tivesse tido uma predileção por um deles. Se nas Tentações de Santo Antão é a manutenção da Fé o suposto tema, em o Jardim é a perda dela talvez o seu mote.
Como provável protestante é difícil pensar que o mesmo Bosch que realizou a Tavola dos Sete Pecados Capitais e a Carroça de Feno tenha feito uma obra na qual o sexo tenha sido exaltado como se fizesse parte de uma seita Adamita, que via o sexo como meio de purificação. Bastante conservador neste assunto, Bosch que visualizava santos sendo tentados por sucubus, não apoiaria tal ideia.
O pensamento católico que fez do sexo uma arma do maligno ainda era forte para o artista do século XV. A dança de homens e mulheres nus em meio a fontes e frutas gigantes  e animais híbridos, não transparecem a inocência de Adão e Eva quando visto mais de perto e analisado. Em todo quadro vemos casais e grupos em uma dança de cunho erótico. E o mais interessante: não há a figura de Jesus Cristo no painel central como acontece no volante esquerdo do tríptico. Que ‘paraíso’ é este?
A fonte que se encontra no centro do quadro que lembra um objeto fálico que perfura o céu azulado brota de um lago com sua aparência de vegetal. É uma referência de que aquele mundo não existe na nossa realidade. Seria uma fantasia ou uma visão de um mundo sobrenatural? Para Wolfgang Kayser (1986, p.31-36) os homens alados segurando esferas e bailando no céu seriam referências alquímicas. Alquimia que Bosch condenou em sua obra o Conjurador.
Os elementos esféricos aparecem em abundância na obra, seja em forma de frutas assemelhando a cúpulas e bolhas de vidro. O equilíbrio da forma esférica parece ser desafiado pela ação da orgia sexual que transborda na obra. As frutas parecem remeter ao fruto proibido que mesmo delicioso pode trazer amargura e o fel. Uma analogia dos sermões que a Igreja usara e que o povo do Norte também conhecia por meio dos provérbios holandeses.
Talvez, o catarismo de um Deus permissivo que deixa o homem diante do mal para prová-lo fosse a resposta. De toda forma a festa luxuriosa com peixes como símbolos da lascívia, grifos, unicórnios e homens alados e orgias levariam o homem para o Inferno como conseqüências destes atos, como deixa transparecer o volante direito do tríptico.


CAPITULO IV

MORAL DA HISTÓRIA

4.1-Crise de Fé

Depois de se travar um contato com a leitura de Dante e se deparar com as obras de Bosch, a distância que eles guardam um do outro desaparecem. Distância não somente temporal, como também geográfica. O sonho católico de unificação da Europa defendido pela Igreja surtiu efeito ao se perceber que o medo e a apreensão do homem da Itália pré-renascentista era o mesmo do homem que já se encontrava na Renascença. Enquanto os pintores italianos declaravam exaltação ao mundo grego que conheciam por escritos vindo de mosteiros em latim e que, mesmo assim os despertou para o passado, os pintores dos Países Baixos de cultura laica fortalecida em não aderirem ao poder católico graças a Martinho Lutero viam o mundo por outros olhos.
A percepção do homem como indivíduo responsável por suas ações, não era reconfortante para os contemporâneos de Lutero, pelo contrário, com a individualização veio a responsabilidade e o peso na condição humana.  A Tabula dos Sete Pecados Capitais de Bosch demonstrava o medo do homem através de um cunho moral que deixava transparecer toda a fragilidade do homem.
Nos Países Baixos, segundo Manchester (2004, p. 159) a descrença nos dogmas católicos trouxe um pensamento na qual criticar a fé ganhou força. Cada vez mais os tratados teológicos eram colocadas à prova. Martinho Lutero percebeu que a lógica que os intelectuais humanistas exaltavam tentava demolir toda uma crença, já que a formação da fé como os teólogos explanavam não precisava da razão para se impor. Logicamente que não eram toda as regiões da Europa que passavam por este momento de crise. Os Países Baixos manifestaram esta crise de razão e fé de forma mais explicita que a Itália de Dante. Mesmo o afresco de Michelangelo onde o homem parece ser o centro, ainda percebe-se a doutrina católica imposta pelo papa ao artista prevalecer. De toda forma a cristandade estava em xeque como bem esclarece Le Goff.
Segundo este historiador (LE GOFF, 2008, pg. 159-160) o século XV e XVI foram os últimos sopro de vida de uma Cristandade já em crise com as invasões bárbaras em regiões importantes como Constantinopla, o que levou a queda do Império bizantino. As guerras por tomadas de territórios e as ações polêmicas da Igreja quanto à conquista e manutenção de poder social e religioso fizeram ascender mais tarde a Reforma, movimento que antes de tudo tentou trazer o antigo cristianismo a sua ‘pureza’ e o que acabou provocando ruína na unidade da instituição.
Além das guerras de conquista de territórios perdidos devido às incessantes cruzadas, expansões territoriais e a desilusão no catolicismo romano, havia as doenças que ganhavam conotação de maldição divina como atesta a escritora Bárbara Tuchman em seu artigo intitulado A Peste Devasta a Europa (2008, p. 50-51). Ela demonstra que a peste negra ganhava contornos místicos, algo totalmente fatalista. A doença que mortificava a população era vista como prenúncio do fim dos tempos, como os padres e anacoretas citavam, tendo a Bíblia como aparato de sustentação. Logo se tornou tema de escritos e pinturas. Deus punia seus filhos ingratos por muitos flagelos físicos que a doença transparecia por bolhas de sangue e mau cheiro, como personagem bíblico Jó. Todo este finalismo fez surgir seitas religiosas e na mesma proporção uma crise de fé no homem e na amabilidade de Deus.
De toda forma não se pode deixar de perceber que a relação entre homem e responsabilidade que Bosch sublinha em sua obra aparece muito antes na obra do poeta Prudêncio, onde ele travestia a luta do homem e o mundo de roupagem de batalha entre as virtudes e os vícios em sua obra intitulada Psicomaquia. Ao dar as virtudes e vícios à imagem de mulheres guerreiras que lutam contra seus nemesis (fé contra paganismo, a castidade contra a luxúria, a paciência contra a ira, a humildade contra o orgulho e a caridade contra a avareza) o poeta cristão instituía uma obra de cunho moral teológico que seria base para as demais no século XV, talvez Dante tenha tido acesso também à obra de Prudêncio além do mito de São Brandão e da Eneida.
As doenças e guerras seriam conseqüências das escolhas humanas. Estas escolhas segundo a época seriam mal vistas diante dos olhos de Deus. Por isto quanto maior a responsabilidade do homem, maior pode ser sua culpa. Nas pinturas de Bosch e no Inferno de Dante se expressa o preço da escolha. Toda a escolha do homem no fim acabaria por ocultar a luta de Deus e o Diabo pela alma do homem. O que nos leva a Psicomaquia de Prudêncio.

4.2-Alegorias e imagens
MENTALIDADE MEDIEVAL

               BELICISMO


               DEUS X DIABO


               HOMEM  X  IMPULSO


               VIRTUDE X     PECADO




               DANTE                           BOSCH


Itália                                 Holanda

Católico                      Herético



De acordo com Flavio R. Kothe (1986, p. 07), a alegoria seria uma materialização de uma ideia por vias concretas e contém um fundo moral. Neste caso o que seria alegórico nas obras de Dante e Bosch? Como eles trabalharam o símbolo e a moral da alegoria? O que existe de transparente e opaco nas obras de Dante e Bosch? Quais seriam as características identificadoras nestas obras? Panofsky percebe que existe o tema e motivo na Idade Média: o tema para Panofsky seria a cultura clássica, a mitologia grega e todas as suas características elementares. Em contra partida, o motivo seria os elementos cristãos ocupando espaço de elementos clássicos, mas evocando estes elementos como se estes fossem cristãos e não pagãos:

“Isso é bem verdadeiro, e a tradição textual através da qual o conhecimento dos temas clássicos, principalmente da mitologia clássica, foi transmitido à Idade Média e persistiu em seu decurso é da máxima importância não apenas para o medievalista como também para o estudioso da iconografia renascentista. Pois, mesmo no Quatrocentros italiano, foi dessa tradição complexa e muitas vezes corrompida, mais que das fontes genuinamente clássicos, que muitos artistas hauriram suas noções de mitologia clássica e assuntos conexos” (PANOFSKY, 2004, p. 71).

Os artistas deste período conheciam a cultura clássica alterada ou demonizada pela Igreja, onde deuses mitológicos eram desprestigiados para exaltar o cristianismo. Ao mesmo tempo os escritos gregos traduzidos para o latim eram transformados em conto de exaltação cristã. Zeus ganhava contornos de Deus monoteísta, assim como o Diabo ganhava a aparência de um sátiro. A Ilíada de Homero recebia alegorias de moral cristã de cunho punitivo ao tentar questionar ou ousar ir dos limites proposto pela Santa Sé.
Plutarco (A. c 46-120 D.c) cunhou o termo hyponda, na qual derivaria o termo alegoria. O termo em si englobaria a ideia de significação oculta. No caso os escritos gregos ganhariam significações ocultas ao serem transformados em modelos para a arte cristã. Dante teve contato com os escritos de Virgilio, desta maneira traduzidos em latim e talvez com um significado bem diferente do que era destinado. O que explica seu Inferno onde Lúcifer um elemento judaico-cristão habita a casa de Plutão tornando o Hades um inferno grego com outras conotações alegóricas em um lugar de punição e ranger de dentes bíblico. O Purgatório seria um monte Olimpo onde somente os heróis podem escalar. Em cada escadaria e fosso do Purgatório que Dante cruzava ele ganhava contornos heróicos como o Enéas de Virgilio. O Paraíso se alojava entre os nove planetas do sistema geocêntrico. Cada planeta era relacionado a um deus grego como se fosse um mapa do próprio Olimpo. A teologia de Tomás de Aquino e a Cidade de Deus de Agostinho davam uma ambientação cristã a este lugar. Dante então, povoou o céu dos deuses e semideuses gregos de santos, papas, reis e teólogos até chegar à rosa mística onde esta toda a potestade com as hierarquias angelicais formuladas por Dionísio, Pseudo-Areopagita, discípulo do apóstolo Paulo responsável por propagar a idéia da hierarquia angelical em Roma em 1500 d.C.
 A obra de Dante logicamente não possui somente a camada de motivos para a sua análise. Dante foi político atuante em sua época, também foi um individualista (um homem autônomo de decisões e ciente de si que se deixa mergulhar nos desafios que lhe vem a frente, disposto aos louros como o próprio dizia de sua obra no Paraíso da Comédia) ao se colocar em suas obras como narrador personagem pôde colocar uma situação que presenciava: a crise da Igreja, a ascensão dos comerciantes e busca cada vez maior por conhecimento. Buckhardt percebe que mesmo um homem de erudição como Dante não ficou isento, do que para ele seria a superstição do medievo. De certa forma os estudos empregados pelo poeta na teologia e estudos cabalísticos e matemáticos, tenham fortalecido a sua visão belicista. De toda forma a crise de fé no dogma da Igreja e ao mesmo tempo a valorização do homem pelo livre-arbítrio, se tornaram alegorias na viagem de Dante:

“A crença no governo divino do mundo era, em muitas mentes, destruída pelo espetáculo de tanta injustiça e miséria. Outros, como Dante, rendem-se, em todos os acontecimentos da vida, aos caprichos da sorte, e se, apesar de tudo, mantinham uma fé inabalável, era porque acreditavam que o destino superior do homem seria alcançado na vida ainda por vir. Mas, quando a crença na imortalidade começou a vacilar, o fatalismo ganhou a batalha; este veio primeiro, e aquela foi sua conseqüência” (BUCKHARDT, 1991, p. 313).

De fato a partir do século XV a ideia fatalista de juízo final um dos pilares da mentalidade medieval entraria em fase de degradação. Contudo, a obra de Dante continuaria a se popularizar, já que não era somente o supra natural um dos temas abordados pela obra. O Inferno com Satanás devorando Judas e Brutos ainda tinha um significado muito forte na população. O medo de parar nas profundezas do caldeirão fervente ou no gelo como era o lar do Diabo na obra de Dante, não desapareceria tão facilmente, ainda mais que a crença em criaturas demoníacas e castigos flagelantes era algo conhecido pela maioria do medievo, pois era algo ancestral e que estava enraizado na sociedade laica antes do cristianismo se impor como fé e norma de conduta social.
Quando Dante coloca seus algozes (inimigos políticos em sua maioria) nos níveis mais inferiores do Inferno, ele está apenas representando um modo de comportamento da época em que o homem medieval amaldiçoava e às vezes através de contratualismo invocava as forças místicas para prejudicar o adversário. Também no mundo católico o flagelo e o castigo físico era comum e muitas vezes incentivado. Muitos ‘bruxos’ eram açoitados em praça pública, sofriam mutilações ou eram queimados vivos para purgarem os seus pecados e assim poderem salvar a alma da danação ou continuar a sofrer no Inferno, como bem coloca o próprio poeta ao descrever em sua poesia, as torturas sofridas pelos seus inimigos pelos demônios no Malebolge (cova maldita): “De uma e outra banda, sobre a rocha tétrica, demônios corniferos apressam a marcha dos condenados, açoitando-os pelas costas com grandes azorragues. Ah! Quão rápido moviam eles os calcanhares logo ao primeiro golpe! Nenhum esperava pelo segundo, muito menos pelo terceiro” (DANTE, XVIII, pg. 67).
De acordo com o tradutor Hernani Donato da edição da Divina Comédia (1993, pg. 17) o poema do Inferno foi composto durante o período da Páscoa. Segundo o tradutor Dante evocava em muitos trechos analogias da viagem do Cristo nas profundezas do Inferno durante o tempo de sua morte até a ressurreição. No caso mais especifico, o poeta dialoga com uma horda de demônios no canto XXI e para o tradutor este diálogo representaria a ida do poeta a Roma para expurgar seus pecados (o ritual do jubileu). Esta alegoria entre Dante no Inferno enfrentando o inimigo ao mesmo tempo em que Cristo parte da vida terrena para salvar a alma humana das garras de Lúcifer coloca tanto a questão do humanismo, onde o homem se salva por si mesmo, como ao mesmo tempo fortalece a fé no dogma da morte e ressurreição do messias. O ato de tentar sobressair ao mesmo tempo em que tenta permanecer sob as forças místicas seria fortalecida nos períodos seguintes em que o Renascimento fosse ganhando espaço na Europa.
Alguns símbolos que Dante foi colocando em sua obra são tão pessoais e específicos que somente o público de época os entenderia. Por isto, para o leitor contemporâneo muitos pontos da obra se tornam opacos. As camadas mais superficiais do grotesco e do mágico ficaram obscurecidas. Em todo caso, o belicismo é evidente, mesmo que a maioria não entenda a mentalidade medieval ou se detenha aos detalhes mais minuciosos da obra. De toda forma a mentalidade medieval parece ter se perdido com a crise da cristandade, a hierofania e o belicismo, ainda permeiam o inconsciente coletivo. As catástrofes naturais e as atitudes humanas, que beiram ao animalesco (homicídios, guerras...) fazem o hominis modernus invocar o mundo místico para obter respostas ao que lhe parece inconcebível. E é somente por estas características que a obra de Dante parece tão próxima e ainda desperta uma atualidade. O mundo Ocidental não se desprende da Cristandade, pois ela é um emaranhado de elementos amalgamados como uma raiz que se estende sob o solo.
Se a Divina Comédia de Dante exalta a salvação e a escolha diante de Deus e do Diabo, os trabalhos pictóricos de Hieronymus Bosch não parecem ter a mesma exaltação. Seus retábulos focalizam o que Martinho Lutero acreditava ser o problema do homem moderno que questionando a fé cristã caminhava para atitudes heréticas de cunho racional. A descrença na Igreja seja pelas atitudes de papas como Borgia ou o enriquecimento de mosteiros de irmãos mendicantes, criou na Itália pós-Dante e nos Países Baixos laicos uma aversão ao catolicismo vigente. Instalou-se então o que seria para os crentes uma sociedade de devassidão e de pouco temor a Deus.
Para a comunidade pequena onde Bosch se encontrava sua obra seria um caleidoscópio do comportamento degradante da época. Como um profeta bíblico ele catalogava cada ação humana e para cada uma delas ele traduzia flagelos e castigos como um juiz incorruptível. Porém, as imagens de Bosch são muito mais que as criaturas grotescas que saltam aos olhos. Na analise das Tentações de Santo Antão realizada no capitulo III, foi colocado uma lista de ícones que são presentes não somente nesta obra, mas também em outras feitas por ele.
Corujas, peixes e ratos aparecem constantemente em sua obra. Cada figura que Bosch usa é um elemento que diz algo além do que a sua aparência por vezes costuma traduzir. No trabalho de Bosch, o peixe não é um alimento ou espécie marítima. Um instrumento musical não é utilitário para produzir música, como bem falou Hilário Franco Junior anteriormente a mentalidade medieval permite tais características, não é de se estranhar que a imagem da maçã como símbolo do pecado tenha se tornado conhecido a partir desta época. O homem medieval necessita de símbolos para se expressar. Sem isto não haveria a transmissão de conhecimento entre os indivíduos. Ainda mais que uma grande parte da população não tinha contato com a literatura. Ler as imagens era o meio do indivíduo reter conhecimento nas pinturas e relíquias de santos nas paredes das igrejas.  O simbólico transpassava os fenômenos naturais e ganhava concretude nas pinturas. Os incêndios presentes nas obras de Bosch poderiam muito bem ser uma evocação do poder das forças da natureza que tinham a aparência do fogo incontrolável. O Inferno de Bosch ao contrário do de Dante, tem mais características do mundo terreno. Poderia ser a própria cidade do pintor que de tanta devassidão se transformasse na casa do Diabo. Se Dante transporta seus inimigos ao Inferno, Bosch traz o Inferno para os seus desafetos.
Segundo o estudioso Dagoberto Markl (1994, p.84), a iconologia de Bosch é quase incompreensível para os dias de hoje. Tanto que para compreendê-la ele sugere que teria de haver um contato com a mentalidade da comunidade da época em que o pintor viveu (Brabante). Os holandeses tinham seu modo de comunicação e usavam expressões e ditos populares como meio de transmitir sua visão de mundo. O dito popular com todo o empirismo do camponês gerava a leitura alegórica e as mensagens ocultas de Plutarco.
Oculto para o homem contemporâneo que tem dificuldade de penetrar nos retabulos boschinianos, para Kayser muitas obras do artista são de cunho místico com elementos alquímicos. Como bem colocou Buckhardt (1991, p. 327) o povo apelava para magos e adivinhos e assim assumiam a crença em homens que podiam reter poderes sobrenaturais, alguns obtidos com pactos com demônios ou por graça divina. No caso de crentes fervorosos como Bosch e Dante, somente os homens santos poderiam cruzar os limites do mundo terreno e o além. Fosse Santo Antão ou São Francisco, somente homens com o espírito santo poderiam fazer fenômenos milagrosos. Não é por acaso que Bosch satiriza a comunidade local pintando magos e a platéia na maioria em transe como enfeitiçados pelo demônio. Então talvez, Bosch não defendesse os elementos alquímicos e sim os ressaltasse para que o leitor de sua obra lembrasse de como eles são e como podem ser danosos para a alma no limiar do finalismo, que o pintor avisa constantemente.
Bosch como Dante clamam por um retorno a Deus e as leis cristãs que foram corrompidas seja pelas lutas entre católicos e luteranos sejam pela população que se entrega aos desejos carnais ou pelo humanismo ascético que se ergue em meio aos escombros da combalida Idade Média. As imagens visuais opacas de Bosch descrevem as imagens poéticas de Dante tão eficazmente quanto às gravuras que se apoderaram da poesia com os anos. De certa forma a negação e afirmação de ambos os artistas parece se completarem.



DANTE                     JUIZO FINAL/CASTIGO



BOSCH                    CASTGO/REDENÇÃO

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Construção e visão da arte nas escolas


Apreciar uma obra de arte ou um objeto artístico as vezes requer muito mais do que saber dos elementos básicos da linguagem visual. Muitos docentes em artes se preocupam apenas com a parte tecnica de uma obra: como pintar um quadro e quais tecnicas utilizar para tal fim, etc...
Há muito tempo defendo que antes de pintar, esculpir ou desenhar devemos ter primeiro a noção de Poética ( para alguns pode ser o conceito ou exercicio da construção de um tema) para assim construir uma obra de arte. Falo de 'construção' porque um objeto artistico é composto de várias etapas assim como é construir uma ponte ou uma casa.:
1- a primeira etapa é saber o que vai querer expressar com sua obra (a poética);
2- a segunda etapa tem haver com os recursos que o artista dispõe ( seja o tema e os materiais fisicos);
3- o suporte em que sua obra irá se sustentar ( um quadro, uma pedra de marmore, papel...);
4- o fazer artistico sabendo que durante a confecção ocorre o experimentalismo e os acertos e erros da produção.
No fim a obra saíra depois de ter passado por estas etapas. Costumo dizer aos meus alunos que nenhum artista pinta ou desenha por mágica ou porque ele acha 'lindo' fazer arte. O que nos leva a se dedicar a um trabalho artistico é a necessidade de comunicação e como queremos que nossa mensagem chegue até as pessoas.

Os homens das cavernas faziam desenhos porque não falavam tão bem como nós e como a linguagem falada ainda era primal ele descobriu que fazendo signos nas cavernas poderiam se comunicar e criar pensamento. Até o ato de desenhar se torna a escrita de uma civilização levou-se muitos e muitos anos. Os ideogramas chineses estão aí para provar isso! Os orientais transformaram desenhos em codigos simplificados até estes se tornarem sua linguagem escrita. Os egipcios são outro exemplo com os hieriglifos em que o ícone de um falcão ou um desenho de um olho poderiam representar a divindade ( o internetês do mundo digital seria uma linguagem mais icônica do que se imagina  e mais distante do que se chamaria de escrita).
     
É deste ponto que falo então de leitura de obra de arte. Não basta saber dos elementos básicos de linguagem como simetria e assimetria, recorte e figura central. Esta etapa é preliminar, porém se o professor e o aluno fizerem só isto não estarão aprendendo a ler um objeto de arte.
Desde que a fenomenologia sugiu com os semiologos  e ganhou força com autores atuais como Umberto Eco e Did Hubermann, percebeu-se que uma obra de arte não é só uma junção de camadas de tinta em uma tela e sim, um discurso que um artista defende através de uma obra. Este discurso pode as vezes ser contra ou a favor da sociedade ou isolar ou inserir o artista no mundo. Somando a isto, temos os trabalhos de Marcel Duchamp e os artistas de vanguarda e pós-moderno onde a leitura formal de arte não se encaixa e assim derruba visões de arte envelhecidas.  O professor de arte deve então ter contato com autores como Bachelard, Merleau-Ponty e Rosalind Krauss para não se estagnar na leitura formal de arte e assim dar ao aluno uma nova perspectiva de mundo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Heroís de Papel

Dedico esta postagem aos que como eu cresceram lendo quadrinhos e percebem a importância que a nona arte merece. Com os filmes de gibi em voga é natural que possamos valorizar e contar a história dos quadrinhos a partir de quem segura o lapis e o papel. Como são muitos os artistas que contribuiram para este universo, prometo continuar a falar mais deste tema nos próximos dias:
  
Guido Crepax
Ilustrador italiano falecido em 2003. Criou a personagem Valentina. Cultuada nos anos 60 a personagem somente viraria ícone de 'mulher liberal e sensual' no Brasil na década de 70 e principalmente em 80. O estilo limpo de desenhar as curvas femininas de Crepax influenciaria inumeros artistas brasileiros como Júlio Shimamoto e Antonio Colonesse.
  
Jean Gerard 'Moebius'
Quadrinista francês que criou obras como Arzach e Garagem Hermética para a ícônica Metal Hurland. Desenhista profissional desde os 18 anos começou ilustrando o personagem de guerra sargento Blueberry. Com os anos graças  ao seu estilo de traço influenciou o cinema de ficção cientifica como designer de cenários. Desenhou a série Os Borgias e o personagem Surfista prateado para a Marvel Comics nos anos 80.

Júlio Shimamoto
Desenhista brasileiro de origem nipônica. Foi um dos desbravadores do tão dificil e mal remunerado quadrinho nacional. Ilustrou quadrinhos de Terror e principalmente revistas de cunho erótico. Por ser descendente de japoneses esperavam que ele fizesse desenhos estilo mangá, porém ele preferia a influencia dos desenhistas italianos como Guido Crepax.
  
Frank Miller
Desenhista americano e cineasta de ocasião. Dirigiu recentimente o filme Spirit (2007), mostrando ser fã confesso do desenhista Will Eisner. Seu estilo rebuscado e super estilizado ajudou na divulgaçao dos personagens Wolverine e Demolidor para a Marvel. Contudo, sua maior obra continua sendo o Cavaleiro das Trevas, onde existe uma nova visão em torno de Batman (mais sombria e com menor participação de Robin). Grande escritor também escreveu e ilustrou Sin City e 300 além, de ser o autor do roteiro do filme Robocop (1987).

Alex Ross
Não foi o primeiro pintor de historia em quadrinhos, porém seu estilo romantico e ao mesmo tempo hiper realista transformaram em um dos artistas mais importantes dos anos 90. Seu primeiro trabalho foi a saga Marvels em que mostrava humanos comuns contando sua relação com os super heroís uniformizados. O auge viria em 1996 com a serie Reino do Amanhã para a DC Comics onde mostra um Batman e Super Man velhos e relutantes em um mundo governado por super heróis modernos e crueis.

sábado, 13 de agosto de 2011

EXPOSIÇÃO 2011: Brasil Revisitado

Faz um tempinho que eu não falava de uma exposição no blog. Agora que as férias acabaram, o semestre promete muita coisa bacana nas galerias. Um destes eventos é a exposição 'Coleção Brasiliana Itaú' que ao contrário do título não está ocorrendo nas Galeria do Itaú e sim no Museu Nacional.

Trata-se de um acervo de livros de cartografia e de quadros e aquarelas sobre o Brasil colonia com a vinda da expedição holandesa. É bastante interessante para os estudantes que veem nos livros de histórias as imagens de como era o Brasil que já foi chamado de Terra Papagalli ( Terra dos papagaios).

A exposição também serve para mostrar como os navegantes tinham uma visão as vezes imaginativa e não realista dos nossos indigenas. A disputa entre Portugal e Holanda por colonias no Nordeste fica evidente nos inumeros mapas feitos pelas metropoles e que deu origem a locais como Parayba ( isto, mesmo com y) e Siara ( depois seria chamado de Ceará).
   
Contudo, o mais bacana e ver de perto as obras de artistas conhecidos de nossa historia como Debret e Rugendas. de 14 de julho a 21 de agosto Setor Cultural Sul- lote 02- Esplanada dos Ministérios.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sessão 'Ai Meu Deus!': A fúria do Planeta dos Macacos

Não existe nada mais atual que comentar sobre o fim do mundo. Com as recentes pesquisas sobre a geologia da Terra, e as inumeras catastrofes ambientais e o risco de escassez de água potável, filmes como Waterworld, Impacto Profundo e Armageddon (todos rodados na década de 90) transformaram a mãe-natureza em vilã.
  
Nas escolas o tema da vez é de energia alternativa e sustentabilidade. O aumento de fenomenos naturais como tsunamis deixaram os filmes catastrofes no chinelo em termos de dramaticidade e horror! O mais estranho é pensar que no passado o mundo iria acabar com as ações do homem através de guerras e conflitos religiosos. Parece que foi ontem que o mundo temia a explosão de bomba atõmica seja vindo dos EUA, da extinta União Sovietica ou do atual Iraque de Bin laden.

As diferenças culturais e a busca por riqueza desmedida assustavam muito mais a humanidade do que o tsunami ou os terremotos. Talvez, isto ocorra porque nem todos os lugares do mundo tem vulcões ou sofrem de outros fenomenos ambientais. A destruição por um meteoro que deu fim aos dinossauros, parece para nós um folclore do que algo cientificamente comprovado, sendo assim, é muito dificil ficarmos olhando para o céu com medo de algo cair em nossas cabeças.
De todas as causas para o nosso amargo fim restou as guerras e as lutas religiosas. Desde que o homem caminha neste mundo as sociedades procuraram se expandir por meio de posse de territorio com armas e muito sangue. Impor a fé a outra comunidade era um fator primordial para uma civilização crescer mais que a outra.
De Xerxes contra os Espartanos até os EUA e o Iraque são anos e anos de batalha do Ocidente contra o Oriente sem descanço. O individualismo acaba sendo um outro fator principalmente, nos tempos modernos em que terroristas matam inocentes justificando a diferença etnica, sexual e religiosa!
   
O cinema como sempre foi o espelho do que somos e ao assistirmos filmes como o Planeta dos Macaco de 1967, Laranja Mecânica de 1968 e Mad Max de 1980 ate 1984; temos um mosaico do comportamento destrutivo do homem seja através de armas de destruição, delinqüência pelas drogas e falta de regras ou consumo desenfreado e descontrole populacional.
 
No fim nem precisamos de um tsunami ou de um meteoro para por fim a Terra, pois fazemos isso muito bem há anos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Leitura de obras de arte: Quadros codificados


Quando o livro 'Código Da Vinci' chegou as livrarias no inicio da decada, muita gente se interessou pela vida e obra dos grandes mestres da Renascença. A polêmica em torno da Santa Ceia e se realmente Maria Madalena estava presente no afresco do refeitorio de uma igreja italiana mobilizou tanto apreciadores de arte quanto leigos.
De repente começou a pipocar vários livros de códigos, cada vez mais exagerados e fantasiosos sobre as obras de Da Vinci como também, de Miguelangelo e até de expoentes da literatura universal como Dante. Muitos autores escreviam romances ou teses acadêmicas mostrando mensagens codificadas de tematica mistica que supostamente diziam que este ou aquele artista era ligado a uma seita misteriosa.
Fantasiar fatos faz parte do ser humano, se não os mitos não existiriam. A criação mitologica de seres e narrativas ajuda o homem a se centrar no mundo em que ele vive. Se olharmos para escritos antigos veremos uma linguagem totalmente metafórica em que somente o leitor de uma época consegue entender a mensagem. Nunca saberemos com exatidão, por exemplo, o que certas narrativas biblicas querem realmente falar: supomos e a partir de nossas vivências e entendimentos criamos uma interpretação.

No caso de quadros da antiguidade as coisas não são diferentes. Se olharmos os trabalhos dos pintores dos Paises Baixos (onde o protestantismo predominou e não fez uso de referencias mitologicas pagãs) eram comum o tema da solidão e da morte de formas que o leitor da obra perceberia de maneira codificada.
Símbolos como caveiras, frutas podres, instrumentos musicais, taças tinham um significado maior do que aparentavam quando colocados em pinturas.
       
Uma codificação muito comum  no periodo do seculo XV e XVI eram as pinturas anamorficas ( deformações opticas) na qual o artista colocava elementos subliminares aparentemente ocultos nos quadros. Geralmente pessoas de alto poder aquisitivo e de contato com leituras filosoficas pediam a encomenda destes quadros para artistas renomados como Dürer, Bronzino e Horlbein. Não podemos esquecer dos sempre polêmicos Bosch e Bruegel com suas obras apocalipticas e cheia de mensagens fatalistas. Para nós contemporâneos que vivemos imersos a estimulos exagerados de imagens na tv e internet e propagandas de ruas, os quadros codificados nos parecem muito complexos e as vezes fantasiosos. É comum muita gente não acreditar na leitura de certas obras por parecem absurdas mas, no fim das contas muita coisa se tem a aprender com elas sobre o passado.