quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Sessão Literatura: Contos Modernos de Natal

É 2015 está indo embora... para muitas pessoas este foi um ano meio que pesado: inflação em alta, desemprego, greves, tragédias ambientais, manifestações... os fogos do Ano Novo com certeza serão de muito alivio deste ano que se encerra!
Mas o que importa é que hoje é véspera de Natal. Vamos lembrar de coisas boas que aconteceram ( 2015 não é só tristeza). Faz um bom tempo que eu não volto com a Sessão Literatura, então resolvi pegar o clima natalino para falar de algumas obras que de certa maneira falam do Natal. Claro, que nem sempre da maneira piegas que a gente vê nos programas de TV. Por isto, escolhi os quadrinhos para esta missão. Então se você se interessar pode procurar nas bancas, livrarias e sebos alguns destes trabalhos. Feliz Natal e prospero Ano Novo!!!

Batman Noel, Lee Bermejo, Editora Panini, 2011.
O conto de Natal do autor Charles Dickens, já teve inúmeras versões no cinema, novela e desenhos e por isto, não é de se estranhar que nas HQs poderia ter suas versões. É neste quesito entra a  revista especial do Batman (Batman Noel 2011). Nesta versão Batman personifica o terrível e sovina Abner Skrooj. E assim como na história original ele ,o morcegão, tromba com os fantasmas dos natais passados e claro, acaba encontrando o sentido do Natal. As ilustrações de Lee Bermejo são muito belas e carregam no drama natalino.

Grandes Heróis Marvel 2: O Natal do Homem - Aranha, vários, Ed Abril, 1980.
Esta revista é da época em que os gibis da Marvel e da DC vinham em formato menor. A editora Abril espertamente resolveu lançar esta edição dos 'Grandes Heróis Marvel' reunindo vários episódios de Natal com os Vingadores, Quarteto Fantástico e claro o... Homem- Aranha. Os super-heróis nesta edição não combatem nenhum super vilão e tudo se passa na noite de Natal e como eles o comemoram. Muito divertido!

Juiz Dredd Especial de Natal, vários, Ed Mithos, 2013.
O especial de Natal do Juiz Dredd é com certeza a edição mais insana que já saiu sobre o tema. São sete historietas que mostram de forma hilária, como o juiz implacável de Maga City odeia o bendito Natal. Se vacilar ele até prende o bom velhinho por invasão de propriedade. Uma das histórias mais legais se chama de 'Escolha o Seu Natal' em que um pobre coitado vai comprar presentes no shopping e passa por um perrenge danado! Têm também uma paródia ao conto de Charles Dickens super bizarro! Vale apena ler.

Natal da Turma da Mônica, Ed. Panini, 2014.
Todo final de ano assim como a Globo exibe um especial do Rei Roberto Carlos, o Mauricio de Sousa sempre lança um especial da Turma da Mônica de Natal. E quer saber... é muito bom! A molecada sempre se diverte com os planos infalíveis do Cebolinha para pegar o coelhinho da Mônica mesmo no dia de Natal.Só para você ter ideia a primeira revista deste gênero da Mônica  saiu em 1970.


sábado, 19 de dezembro de 2015

José Mojica Marins e o Cinema Autodidata


Quem acompanha a programação da TV à cabo sabe que muitas emissoras tem investidos em seriados brasileiros. De certa maneira isto é bom, pois assim temos algo para nos identificar e não ficarmos presos a series norte americanas que mesmo tendo muita qualidade, ainda espelham o modo de vida dos EUA.
Por esta razão, talvez para criar uma identificação maior, o canal pago Space resolveu transmitir uma série sobre a vida e a obra do cineasta José Mojica Marins.

Talvez, o nome não lhe traga alguma lembrança, mas é só eu citar um nome: Zé do Caixão, que a coisa muda de figura. Pois é... José Mojica Marins é o famoso e folclórico Zé do Caixão, Personagem que se tornou ícone do terror made Brazil.
E 'MADE BRAZIL'  com z e pompa. Tudo porque, os trabalhos desse cineasta é super estimado no exterior (principalmente nos EUA e na Europa). O que poderia desde já nos dar muito orgulho, já que reclamamos que não temos muita representação fora do nosso quintal.

Mas nem tudo é flores na vida do Zé do Caixão. Para começar o Mojica nem pensava em estudar cinema. Tudo que aprendeu sobre o oficio de ser ator/diretor, foi na base do 'faça você mesmo!'. De tanto ajudar o pai que trabalhava como projetista de película em uma sala de cinema, o garoto passou a gostar e de querer fazer filmes.
Com um grupo de amigos e atores amadores que encontrava na famosa Boca do Lixo, o cara rodou muitos filmes. Começou fazendo filmes estilo bangue bangue italiano, e somente depois passaria a fazer o gênero terror explicito.

O seu primeiro filme 'Á Meia Noite levarei a Sua Alma' de 1964, inaugurou o gênero no Brasil. O personagem Zé do Caixão surgiu de um sonho que o cineasta teve com a sua própria morte ( é o que diz as lendas). No início Mojica não queria fazer o personagem, porém nenhum ator conseguia interpretá-lo, então ele mesmo resolveu usar uma capa preta, colocar unhas postiças e um chapéu. Surgia aí um personagem brasileiro cheio de características estranhas e até engraçadas. O que motiva o personagem é a busca da mulher ideal que irá gerar um filho perfeito para dominar o mundo.
Depois deste filme, Mogica dirigiu a continuação 'Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver' de 1968. Depois ele lançou o antológico 'O Estranho Mundo do Zé do Caixão' 1969 e na década de 1970 'O despertar da Besta'. 

Por um bom tempo os filmes do Zé do Caixão eram sucesso, mas com a perseguição da ditadura e a maior entrada dos filmes americanos no circuito nacional os filmes de Mojica logo foram esquecidos. Demorou duas décadas até sair 'Encarnação do Demônio' de 2008 o filme que fecharia a trilogia do Zé do Caixão em busca da mulher perfeita.
Infelizmente, Mojica esteve doente e até hoje não conseguiu realizar novos filmes. Sem ter um apoio de uma Rede Globo para produzir filmes, seria bacana agora que o cinema nacional tem mais espaço passar algum filme maluco do Zé!
Enfim, muita gente diz que o cinema nacional teve Glauber Rocha como grande realizador de um cinema moderno e autoral. Eu pelo contrário, prefiro o velho Mojica!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Sessão Contos Bizarros: A Escola do Medo


Muito se fala de casas mal assombradas ou de cemitérios de onde mortos levantam, mas ninguém esquece quando um lugar que deveria ser de acolhimento e aprendizado, também pode abrigar algo sinistro. É desta maneira que se começa esta história que muito se comentou quando foi fundada as primeiras escolas no Brasil colônia.
Dito era o nome de um menino filho de uma escrava. Sua mãe vivia sendo a mucama da Senhora Berta e de seu esposo Antônio. O senhor de engenho como muitos de sua época se aproveita das escravas e não muito raro tinha filhos bastardos com elas.
O pequeno menino de olhos azuis e pele negra era um destes casos. Não raro a Senhora Berta costumava destratar a criança para tentar indiretamente punir o marido. Porém, seu Antônio parecia não se importar e de vez em quando, dava mimos para o menino. Contudo, como todo escravo a criança andava acorrentada pela casa e pouco tinha direito a comida que era servida na mesa.
Um dia a escrava que o senhor havia desposado resolveu cobrar-lhe atenção. Disse que esperava algo melhor para a criança e que não achava justo seu filho ser maltratado pela sinhá ciumenta. Antônio sabia que um escravo não tinha direitos e nem sequer era visto como um ser humano por sociedade tão cruel. Contudo, por ser rico e cheio de posses o fazendeiro poderia muito bem dar coisas boas ao menino, desde que ninguém soubesse que ele era o pai.
Resolveu então matricular o menino em uma escola. Naquela época a escola não era um lugar para os pobres e muito menos escravos. Dito estava vestido igualzinho aos meninos da Europa e até sapatos pode calçar para ir a escola que ficava a poucos Km da fazenda.
Lá o menino conheceu a maldade humana encarnada nas crianças: era desprezado por elas, recebia até cusparada no rosto, levava chutes e era xingado o tempo todo durante a aula.
O professor (que era um padre) fingia não ligar para situação e deixava de lado todo o aprendizado cristão de 'amar ao próximo' para também destratar a criança. Dito começava a chorar e quando chegava em casa para não entristecer a mãe não comentava o que ocorria. Noites em claro, ele em seu quartinho dormindo no chão imaginava o que poderia ocorrer de pior com ele na escola. Acordava sempre de um pesadelo em que os colegas de classe pareciam monstros que lhe devoravam. De vez em quando o menino pensava em fugir da fazenda, mas aí ele pensava em como sua mãe ficaria triste e desistia da idéia.
Um dia, o padre mandou o menino buscar água no poço que ficava nos fundos do colégio. Dito que já se acostumara a receber ordens pegou um balde de madeira e foi até o poço. Um dos meninos que era muito levado resolveu seguir Dito sem ele perceber.
Quando Dito estava pegando a água do poço foi empurrado pelo outro menino. O pequeno escravo caiu no poço e como não sabia nadar começou a se afogar. Seus gritos de pedido de socorro foram ouvidos por todos, mas nem o padre ou outro qualquer lhe ajudou. Quando a noticia de que uma criança havia morrido no poço Antônio foi em um galope desesperado como se previsse o pior.
Encontrou então o corpo de seu filho todo molhado e sem vida. O senhor de engenho pela primeira vez demonstrou humanidade ao verter lagrimas pela criança que tanto não dava amor como deveria. Passado mutos anos e a escola que presenciara a morte de Dito ainda estava de pé.Agora era uma escola que se desenvolveu junto com o país. Em 1990 era a escola mais procurada pelos pais que queriam dar uma boa educação ao seus filhos. Por ter sido a primeira escola do Brasil tinha muita tradição.
Vários profissionais queriam trabalhar nesta escola e Karla que era uma recém saída do curso de pedagogia queria muito trabalhar lá. Depois de enviar o currículo conseguiu passar na entrevista e finalmente parecia realizar o seu sonho. As 8h da manhã lá estava ela no portão da escola. Foi recebida pelo seu Agenor, o porteiro que tinha talvez uns cinquenta anos de idade. Ele a recebeu e disse que ela poderia subir pela escadaria que daria no terceiro pavimento.
Karla que estava grávida de  6 meses perguntou se a escola não tinha um elevador. Agenor com semblante preocupado disse que sim, mas que ela deveria ter cuidado ao usá-lo. Karla pensou que talvez, o elevador estivesse com defeito para tal comentário. O velhinho então já foi dizendo que na verdade desde que ele trabalhava na escola soube de fenômenos estranhos que aconteciam principalmente com o elevador.
Karla sorriu e sem ligar para o que porteiro disse entrou no elevador rapidamente. Enquanto o elevador parecia subir a moça sentiu um calafrio. De repente a luz do elevador se apagou! Karla se viu no meio da escuridão e por pouco não pensou em gritar. Contudo, o elevador continuou subindo normalmente.
Do nada o elevador parou. Karla viu no painel de controle que o elevado havia parado no meio do segundo andar. Em  plena escuridão e com as portas fechadas Karla começou a passar mal. Começou a esmurrar a porta de aço e começou a gritar. Ninguém do outro lado respondia. O silêncio começou a lhe incomodar.
Lembrou do nome do porteiro e começou a gritar por ele. O porteiro nem sequer apareceu. Os poucos minutos em que se encontrava e Karla pensou que fosse horas de tanta angustia que sentia. De repente a moça ouviu um barulho dentro do elevador. A moça meio que assustada resolveu ligar a lanterna de seu celular para ver o que era. Para o susto de Karla ela não estava sozinha! No elevador uma figura de uma criança apareceu do seu lado.
O menino era negro e tinha os olhos amarelados e de sua boca jorrava sangue. Karla entrou em pânico! Gritava até ficar rouca e esmurrava desesperada a porta. Quando já não tinha mais força para gritar a luz do elevador voltou e a porta se abriu. A moça saiu correndo com os olhos arregalados e dizia que nunca mais voltaria a escola. Dizem que o fantasma da criança era do pobre Dito, pois depois de muitas reformas a escola simplesmente soterrou o poço em que ele havia morrido e em seu lugar colocaram o elevador.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Marília Pera: O Verdadeiro Ofício de ser Ator


Não sou ator, a minha formação foi em artes visuais. Mas, como estudei na Faculdade Dulcina de Moraes acabei conhecendo muitos atores e tendo contato com eles passei a ver o teatro de forma muito diferente. Existem pessoas que nunca foram ao teatro (eu fui uma dessas pessoas ha muito tempo) seja porque acham que teatro parece algo distanciado do seu mundo ou porque pensam que o teatro é coisa de intelectual... enfim, o teatro de forma injusta acaba não tendo o mesmo reconhecimento do cinema ou de um show musical.

Na faculdade pude assistir a diversos espetáculos e assim tirar a venda que cobria os meus olhos. A interpretação, o cenário e claro, os enredos; tudo no teatro começou a me chamar a atenção e percebi que desde a coxia até o tablado, tudo é magia!Não importa se é uma comédia, ou um monologo, um drama, toda forma de contar uma história conta com todo um aparato técnico e emocional do dramaturgo ao ator e culmina na platéia.

De uns tempos para cá eu formei um grupo de teatro com os alunos da escola em que estou lecionando. Na modalidade EJA, por insistência ( e coragem) de alguns alunos, passei a desenvolver duas apresentações teatrais por ano. É no palco que se descobre muitos talentos que ficam guardados em gavetas (parafraseando Gaston Barchelard). Jovens e senhoras, trabalhadores, alunos se tornam atores se entregando a interpretar um personagem que na maioria das vezes é oposto ao que são.

Tem aluno que até se vê como coreografo, dançarino, médico, pai, mãe. No mundo magico da encenação você pode ser o que quiser e como quiser. Certa vez, uma aluna que tinha dificuldade para interpretar eu disse para ela desta forma: "fulana! O que você precisa fazer é brincar de faz de conta! Saiba mentir, fingir, ser o que não é, pois é assim que os atores fazem!". A aluna disse ofendida que nunca mentiu na vida. Que não saberia fazer o papel.
No fim ela acabou fazendo a peça ao final e descobriu que no teatro, a mentira não é pecado. É um ato de brincar e de voltar a ser criança. As crianças interpretam mocinho e bandido o tempo todo, e não fazem mal a ninguém. Assim também é o teatro.
Hoje o Brasil perdeu uma grande dama do teatro Marília Pera. Cresci vendo os filmes e novelas que ela fazia. Gostava de como ela fazia as pessoas rirem sem fazer esforço, ou quando me fazia chorar com um personagem dramático que só ela saberia realizar. Filha de atores cresceu querendo ser atriz e mesmo que o seu pai ator dissesse para ela desistir da profissão por que na época dele ator não era valorizado, ela nunca desistiu da carreira. Resultado: virou cantora, escreveu e dirigiu peças, fez filmes e agora... está entre aqueles que fizeram a história de nossa arte!