quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Contando uma história Parte 2

O MENINO QUE VISLUMBRAVA MONSTROS
©2013 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência
CAPITULO I
Já era quase 02h30min da madrugada quando Kauê acordou esbaforido em sua cama. Sua mãe dona Luiza correu para socorrê-lo. Abraçou o filho e passando a mão em sua testa viu que ela estava suada e fria. Enquanto ela pressionava o seu rebento entre os seus seios foi lhe acalmando com perguntas:
-O que houve meu filho? Diga para a sua mãe o que lhe aconteceu?
Kauê com os olhos arregalados olhou para a sua mãe e apertando a sua cintura disse sussurrando:
-Foi ele mãe! O homem de roupa preta e asas. Ele segurava uma coisa brilhante e sentou do meu lado.
A mãe para amenizar a situação disse que o filho teve apenas um pesadelo com o bicho papão e que aquilo não iria mais acontecer. Kauê não satisfeito com o argumento levou a sua mão a um bloco de folhas que se encontrava encima do criado mudo do seu quarto. Pegou os lápis de cera que também estavam encima do criado mudo e começou a desenhar.
A sua mãe olhava admirada a técnica do menino e ao mesmo tempo não entendia o porquê da ação. Depois de alguns minutos o menino mostrou o desenho: era o tal homem de asas sentado na beirada da cama como sua mãe estava e segurava um candeeiro.
Sua mãe pegou o desenho de forma tremula e com a mão entre os lábios viu que seu filho havia feito um desenho do Anjo da Morte. Preocupada ela pegou o desenho do filho, beijou o menino na testa e mais uma vez disse que tudo ficaria bem.
Kauê teve que se contentar com o que sua mãe lhe dissera e depois da luz apagada tentou dormir novamente. Será que existe livre-arbítrio? A sociedade nos obriga a tantos deveres que isto se torna questionável. Pode alguém seguir um caminho sem precisar olhar as placas de indicação? O medo de se perder durante a viagem, talvez, crie um vicio de ter uma certeza de seguir o caminho de forma direita e sem erros. Por isto o olhar faminto sobre as placas de indicação.
Talvez para Kauê as placas não lhe servissem de nada para a viagem que iria fazer futuramente. Há não ser para confundir a sua mente já fragilizada. Pobre menino... Ele tem o que os psicopedagogos chamam de TDH: ele fica tamborilando os dedos quando este sentado a mesa, Não consegue ficar parado em lugar nenhum e quando quer corre no meio da sala de aula, seus olhos ficam rodando o lugar procurando não sei o quê, com poucos assuntos tagarela sem parar atrapalhando a explanação da professora.
Ás vezes é agressivo com os seus companheiros de sala. Como se já não bastasse estes problemas, ele é hostilizado pelos demais alunos e professores. Acaba sempre chegando a casa com os braços e pernas roxas.
Sua mãe dona Luiza, no alto de seus 27 anos, não sabe mais o que fazer. Mudou o menino varias vezes de escolas, o levou para dezenas de psicólogos e orientadores educacionais, sem nenhum efeito positivo. Certa vez uma professora desaforada disse que a dificuldade de aprendizagem de Kauê tinha haver com vadiagem e não com a relação de ser TDH. Para dona Luiza já não é difícil esconder a frustração com os seus olhos fundos e marejados.
Para piorar dona Luiza é casada com Roberto (na verdade eles se conheceram há pelo menos alguns meses). Ele é um homem alto e bem aparentado. Trabalhava como mestre-de-obras em um prédio próximo a sua casa. Com a crise mundial afetando as empreiteiras (é o que dizem os jornais e os economistas) ele perdeu seu emprego.
O desespero o levou a procurar refugio na bebida: chega bêbado em casa e com caminhar trôpego. Grita e fala mal para depois destruir tudo o que tem no lar. Dona Luiza com toda a sua paciência adquirida com o filho problemático tenta acalmar os ânimos do marido. Porem, Roberto como uma fera descontrolada bate na mulher e no filho dela.
Kauê não entende o que ocorre em sua casa e com total duvida de que exista um caminho melhor para seguir se tornou mais agressivo na escola. Ele já mordeu a mão da professora e já jogou uma cadeira em direção da diretora do estabelecimento. Tanto a professora Carlota, quanto a diretora Suprema, Já não sabem o que fazer.
Eu já disse que Kauê freqüenta um colégio religioso? Bem, a diretora Suprema é daquelas senhoras de 50 anos de seios fartos e corpo robusto e de olhar intimidador. Suas normas são bastante rígidas. Com ela não tem vez: ou obedece ou sofre castigo!
Quantos alunos ela já não colocou de cara para a parede, ou como ela costuma chamar carinhosamente de ‘cantinho do pensamento’. Kauê lhe parece um enigma a ser desvendado. Tenta conversar com ele, mas não surte efeito, então... Ela apela para a velha disciplina medieval do castigo.
A professora Carlota segue a cartilha da diretora e não tem paciência com alunos difíceis. De apagador a régua, tudo já foi instrumento de tortura nas mãos da docente. Para ela Kauê é tão difícil de lidar que ela prometeu a si mesma nunca ter filhos. Imagina ter um filho mal criado como os seus alunos...
Logicamente a escola Nossa Senhora da Paz, não é de todo ruim: possui ótimas salas climatizadas, piscina, quadra de esporte e uma moderna sala de informática. É claro, como toda escola religiosa ela administrada por um sacerdote. O padre Lucas é quem cuida de tudo. Um homem de voz calma, de cabelos brancos e olhar terno. Adora as crianças e é totalmente contrário as normas da diretora Suprema. Contudo, como não entende muito de pedagogia deixa tudo nas mãos da diretora.
Para ele o problema de indisciplina é a falta de acolhimento das pessoas. Talvez, por isto, seja tão amado e respeitado pelos alunos. Kauê adora o padre Lucas e sempre que pode conversa com ele.
O padre pergunta como foi o dia e o menino responde:
-Não consigo dormir padre Lucas!
O padre então intrigado pergunta:
-Por quê?
Kauê com o olhar marejado responde:
-É por causa dos monstros!
Padre Lucas não entende o que Kauê quer dizer com os tais monstros, porém acredita que sejam pesadelos típicos de criança. Então pede para ele antes de dormir rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria, para dormir melhor.

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