terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Contando uma história 4

O MENINO QUE VISLUMBRAVA MONSTROS
©2013 Paulo Af.
Esta obra é uma ficção, não tem dados históricos oficiais reais e todos os personagens são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência

Enquanto tenta esquecer, ou melhor, entender os pesadelos que o assombram; Kauê procura também dar atenção a outras coisas em sua vida. Além de gostar de desenhar (e muito) o menino passa horas reparando em uma colega de sua sala de aula. O nome do alvo de sua atenção atende pelo nome de Izabel.
Uma linda menina de olhos azuis (mais velha que o Kauê uns dois anos) é conhecida entre os alunos e os professores por ser carismática e bastante inteligente. Os seus pais têm tanto orgulho de suas habilidades intelectuais que eles costumam presenteá-la com mimos que toda adolescente sonha: roupas de marcas, viagens internacionais e até a liberdade de sair sozinha com as amigas para as baladas.
Por muito tempo ouviam-se comentários de que o Claudio era afim dela. Muitos diziam que eles ficaram durante uma festa na casa dela. O mais provável, porém, é que seja tudo uma mentira, já que eles são de idades e turmas diferentes.
Sendo assim, é costume Izabel ser cortejada por muitos garotos o que gera uma inveja nas outras meninas. Até mesmo o Pedrão que com toda a sua valentia e brutalidade tentou ter uma chance com a menina mais inteligente e bonita do colégio. Dizem até que é este o motivo de Pedrão e o Claudio não se entenderem até hoje. Para piorar, de tanto tentar chegar na menina o Pedrão virou motivo de piada entre as molecadas. Para não sair por baixo, o cara então desce o sarrafo nos outros meninos.
Kauê por ser tímido, procura não transparecer o seu desejo por Izabel. A sua válvula de escape é os desenhos que costuma fazer em forma de retratos da garota que gosta. Um dia os dois trocaram olhares na aula de educação física. Kauê ficou tremendo que nem uma vara verde ao encarar a menina. Aqueles olhos azuis pareciam intimidadores para o nosso confuso amigo.
Ele poderia chamar a atenção dela com um bom papo ou quem sabe se soubesse fazer algo legal como jogar bola ou fosse forte como os outros garotos. Todavia, o máximo que ele conseguia era ser conhecido como o aluno esquizóide (o bizarro da escola). Certa vez ele foi vitima da fúria da professora Carlota que o repreendeu na sala. Ela o colocou de castigo e assim ele virou motivo de riso e constrangimento entre os alunos.
Kauê com seu jeito estranho soltou palavrões na frente da docente e depois ficou chorando escondido no banheiro. Sabia ele que a cena na sala de aula somente o ajudava a ser visto como um estranho que ninguém gosta. Como é que uma garota bonita vai querer namorar um esquizóide como ele?
Se arrumar namorada já era difícil ainda era mais difícil ainda lidar com os monstros que visitavam o seu quarto durante a noite. Em uma destas noites mal dormidas, apareceram bem no pé de sua cama duas criaturas bizarras. Uma delas parecia um anão ou algo parecido com a cara toda deformada e de risada sinistra. O monstrinho tinha a face parecida com um iguana (ou um lagarto de komodo, sei lá...) com escamas que brilhavam na noite e com um olhar bestial. De sua enorme boca de jacaré saia uma baba que molhava o lençol de Kauê, e dessa mesma bocarra também saia uma língua comprida como uma serpente.
A outra criatura era um pouco maior tinha um monte de olhos como se fosse uma mosca. No lugar das mãos ele tinha duas pontas afiadas como se fossem espadas. O seu dorso era negro e esquálido que mostravam suas costelas proeminentes. Suas pernas pareciam patas de cavalo. Kauê encolheu no lençol e com os olhos arregalados rezava baixinho para os monstros lhe deixar em paz.
O anão disforme foi subindo em sua cama e quando finalmente se aproximou do menino, franziu a testa e fez um olhar de ferocidade lambeu os beiços com sua enorme língua que soltava gosma e então fez um sorriso sinistro. O outro monstro chegou perto do travesseiro e então começou a passar a sua estranha mão sobre os cabelos do menino. A pele seca parecendo escama incomodava o garoto que estava prestes a fazer xixi na roupa de tanto medo. Então como um último ato, Kauê fechou os olhos e rezou como o padre Lucas ensinara.
No meio da reza em sua mente veio a imagem de Izabel com seus lindos olhos azuis e sua pele alva. Como se fosse mágica quando o menino abriu os olhos os monstros haviam sumido. E mais uma vez Kauê pôde ver a luz do sol depois de uma noite de pesadelo.

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