sexta-feira, 27 de maio de 2016
A Verdade dos Contos de Fadas
Todo o mundo já ouviu, leu ou , quem sabe, contou uma historinha infantil para uma criança. Sua origem pode remontar dos primórdios das civilizações. Muitos estudiosos da antropologia, filologia e etnografia tentam rastrear a origem dos contos infantis. Não é fácil!
Um dos grandes problemas de se saber de onde veio as primeiras fábulas (e isto inclui o Esopo) é que de certa forma sua criação está bem antes da escrita, e talvez, até dos primeiros rabiscos feitos na arte rupestre. Um grande número de estudiosos defendem que os desenhos feitos nas cavernas não somente serviam como ritual para atrair a caça, bem como, servia também para narrar fatos do cotidiano (ainda mais que se levarmos em conta que provavelmente os homens e mulheres das cavernas ainda não dominavam nenhum idioma ou dialeto).
Se no meio de grunhidos os homens dispunham de carvão, terra e sangue para fazer seus desenhos, a tecnologia para narrar fatos e transformá-los em lendas e fábulas foi algo demorado e dependia principalmente do homem adquirir algo primordial: a consciência de si mesmo e do mundo a sua volta.
Pesquisas revelam que as fábulas não eram o que são hoje. Antes da era Disney transformar as fábulas em história de puro maniqueísmo, e mesmo antes dos irmãos Grimm terem modificado certas lendas orais, as fábulas antes de tudo tinham temas bem mais variados e até polêmicos para os dias de hoje.
Desde a perda da virgindade passando pela inevitável morte tudo se tratava nos contos de fadas em sua origem remota antes da Disneyland. Muitos educadores se surpreendem quando descobrem que aquela inocente história que contam esfuziadamente para os pequenos alunos contem camadas muito mais densas e pesadas do que é arranhado em sua superfície.
CHAPEUZINHO VERMELHO E A SUPOSTA PERDA DE VIRGINDADE
A famosa história da Chapeuzinho Vermelho que inúmeras vezes foi recontada nas escolas e até encenadas por crianças e transformada em filmes e desenhos animados tem um quê de moral que assustaria os mais puritanos.
Tudo começa quando Chapeuzinho resolve levar uma cesta de guloseimas para a sua vovozinha que mora do outro lado da floresta. A mãe da Chapeuzinho a adverte para não falar com estranhos e principalmente com o terrível Lobo da mata. Por ironia, ou teimosia, Chapeuzinho acaba conversando com o bendito Lobo que espreita a floresta. A fera descobre para onde a menina esta levando a cesta de guloseimas e resolve criar uma emboscada para a vovozinha e a menina.Depois de capturar a vovó, o Lobo se disfarça da idosa e tenta assim pegar a cesta da menina. O famoso diálogo da Chapeuzinho e sua suposta vovó é o ponto alto da trama que termina com o Lobo sendo castigado pelo lenhador que resolve salvar as vitimas.
Para muitos a historinha trata do simples fato da Chapeuzinho obedecer as ordens da mãe de não falar com estranhos (não podemos esquecer que o Lobo somente descobriu o que a menina estava levando na cesta quando falou com ela o que desencadeou toda a história). De fato o ato de falar com estranhos sem saber o que pode acontecer é uma ótima lição para se passar as crianças, mas a fábula da Chapeuzinho Vermelho é muito mais que isto.
Estudiosos da literatura até hoje tentam extrair mais informações sobre esta fábula, que remontaria da Idade Média e até mesmo teria origem não ocidental ( descobriram que na China havia um conto muito semelhante a Chapeuzinho Vermelho que data do século II). As narrativas orais em tribos africanas também possuem lendas que se parecem com do Chapeuzinho Vermelho, porém a temática muda de animal que a persegue.
A tradução que alguns filólogos fazem hoje é que o verdadeiro tema da Chapeuzinho não seria sobre a obediência à mãe, e sim a puberdade e a virgindade. A cor da roupa da menina seria o símbolo da primeira menstruação (o que supõe que a menina teria uns 12 anos), o Lobo por ser um animal visto em regiões rurais da Europa como traiçoeiro e invasor de terras para atacar o gado a imagem perfeita para representar um deflorador. Tanto a mãe quanto a avó representariam os valores morais da época e que deveriam ser seguidos e preservados. O lenhador seria o arquétipo do herói, mas não um qualquer, seria o companheiro correto para quem Chapeuzinho deveria se guardar.
Outros estudiosos e educadores não concordam com esta tradução, porém não deixa de ser interessante e até plausível se a história realmente for datada da Idade Média, visto pela forma que a sociedade se comportava naquele período.
OS TRÊS PORQUINHOS E A INEVITÁVEL MORTE
Muito difundida pelos desenhos animados a fábula dos Três Porquinhos parece um conto que trata de responsabilidade e de companheirismo: Havia na floresta três irmãos porcos e cada um morava em uma casa diferente. Um porquinho morava em uma casa construída de palha, o outro tinha uma residência de madeira e por fim, um porquinho morava em uma casa grande de tijolos. O último porquinho pede para que os outros dois venham passar a noite em sua casa, pois sabia que o terrível Lobo estava rondando a floresta em busca de comida e gostava principalmente de suínos. Os dois irmãos orgulhosos preferiram ficar em suas casas enquanto o último foi fortificar mais ainda a sua.
O terrível Lobo chega e para a sua surpresa vê que um dos porquinhos mora em uma casa frágil de palha. A fera enche os pulmões de ar e destrói a casa. O porquinho assustado foge para a casa de madeira do outro. A fera chega e percebendo que a residência é de madeira também a derruba com seu sopro. Por fim os dois irmãos pedem ajuda ao irmão mais velho e prudente que inicialmente recusa a ajudá-los. Vendo a suplica dos porquinhos medrosos e a vinda da fera o irmão então permite a entrada dos foragidos em sua casa de tijolos.
A fera se considerando imbativel não demonstra medo diante da casa de tijolos e então assopra para derrubá-la. Contudo, a fera não consegue e acaba morrendo sem ar de tantas tentativas. No fim, os irmãos porquinhos percebem que somente a união deles é o que importa.
É um final arrebatador e com moral edificante que muitos adultos gostariam de contar as crianças, porém existe uma outra versão desta história...
Outros especialistas em literatura medieval e contos orais acreditam que a fábula dos Três Porquinhos não remeta a companheirismo ou responsabilidade e sim.... a Morte! Descobriu-se que na Idade Média havia um conto oral que relatava que três animais (que não eram porcos) haviam construído suas residencias com materiais diferentes cada um. Um dia uma terrível tempestade veio e derrubou a casa de todos menos a do que residia na casa mais segura. O pior foi que os outros animais morreram nos escombros de suas casa, o que mostrava que quem vive sem precaução corre o risco de perder a vida. Não se sabe quando os animais ganharam a identidade dos porcos e nem quando a tempestade se tornou o lobo, mas os contos parecem tão semelhantes que muitos pensam que tratam da mesma história. Existe também, uma versão em que o lobo consegue devorar os outros porcos menos o que morava na casa de tijolos.
No fim o que se percebe é que cada época tratou de modificar as fábulas para suas necessidades temporais e assim sendo, criando uma mobilidade e versões diferenciadas para cada ocasião.
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