domingo, 15 de novembro de 2015
Arte e Teratologia (quando o feio é bonito!)
A palavra teratologia talvez, não seja muito conhecida por quem não convive no meio científico. A palavra é a junção do termo grego: monstro + estudo = estudo de monstros ou deformidades, surgida nos primórdios da medicina de Hipócrates ainda na Grécia Antiga.
Inicialmente estudava-se os conceitos de pessoas bonitas ou feias segundo a visão filosófica grega da época em que a estética física supostamente transparecia o que a pessoa era emocionalmente por dentro da alma. Isto é, quem possuía queixo proeminente, rosto jovem e corpo atlético e saudável, seria uma pessoa de boa índole; em compensação quem tinha cabeça desproporcional, rosto com rugas ou tez rude, magro ou obeso denotava uma pessoa de má conduta.
Hoje visto como atestado de preconceito e até certa arrogância do povo grego, o método de estudar a forma física das pessoas aliadas ao emocional gerou inúmeras escolas e porque não, entrou em nosso inconsciente coletivo. Quem nunca sofreu com a discriminação seja pela cor ou por suas roupas em um shopping ou ônibus levante a sua mão!
Crescemos ouvindo estórias infantis que contam que o príncipe encantado ou a princesa são loiros bonitos com tez européia, enquanto o vilão se veste de negro ou tem aparência de velho e ranzinza. Daí para o vilão se tornar um lobo monstruoso ou uma bruxa assustadora é um salto.
De certa maneira a arte esteve durante muito tempo à serviço de manter este conceito (vide as esculturas
antigas de bestas monstruosas digladiando com os heróis em cenas em que se percebe quem é o bem e o mal). A própria mitologia grega com Cronos ( um monstro horrível que devora os filhos) e Zeus (o deus mulherengo e poderoso que derrota o próprio pai bestial) ratifica tal pensamento.
Foi a partir do final do seculo XIX que a teratologia começou a mostrar a que veio tanto nas ciências quanto nas artes. A descoberta de materiais radioativos e a primeira grande explosão da bomba atômica, que devastou o Japão, fez que cientistas debruçassem para entender como crianças e até animais poderiam nascer com deformidades que até então eram tidas como resultado de uma maldição divina ou presságios demoníacos tão propagados na Idade Média.
Um pouco antes dessa época, pintores como George Grosz, Edvard Munch e mesmo antes deles como Odilon Redon, Fusili e William Blake, colocavam em suas telas cenas e figuras grotescas para assustar e fascinar o público. Na maioria das vezes a teratologia na pintura entrava como um subtexto para discutir a politica e a sociedade.
Dentre os artistas do século XX, Francis Bacon e Jenny Saville desnudam um mundo onde a obsessão pelo sexo e até pelo corpo volumoso em excesso ganham um olhar assustador. Estes artistas também tiveram como aliados temáticos o mundo homossexual que até então vivia escondido se aflorando diante dos novos comportamentos da sociedade pós era hippie.
Mais tarde R.H. Giger desmantelaria a beleza clássica substituindo musas bonitas por monstros rastejantes e obscuros criando a partir daí o surrealismo fantástico, mais próximo de um Hieronymus Bosch do que de um Salvador Dalí.
Hoje, a busca por corpos perfeitos tanto por homens quanto por mulheres, às vezes, geram figuras que mesmo sem intenção denotam o grotesco. O exagero em cirurgias plásticas e procedimentos com botox deformaram rostos lindo de modelos de outrora, além da musculação massiva e o uso de anabolizantes terem deformado corpos de fisiculturistas. Enfim, a teratologia está na moda!
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