sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Sessão Cinema: Perdido Em Marte


Como já falei em uma postagem que fala de física e ficção científica, venho mais uma vez relatar como o cinema me surpreende novamente. Sei que neste mês o filme 'Jogos Vorazes' o último capítulo se tornou o centro das atenções em revistas especializadas em cinema e fanboys em geral.
Mas o filme de que falarei já saiu de cartaz faz um bom tempo. Trata-se de 'Perdido Em Marte' do diretor inglês Ridley Scott. Todos já conhecem como eu aprecio a filmografia deste diretor ('Blade Runner', 'Alien o 8º Passageiro', 'A Lenda', 'Deuses e Reis'...) mesmo com muitos erros o cara manda muito!
Confesso que não planejava ir ao cinema como de costume para ver o filme, talvez, porque eu estivesse um pouco cansado da temática das viagens ao espaço (assisti a 'Interestelar' e 'Gravidade'). Então estava descansando as minhas retinas esperando algo melhor (Star Wars?).

Enfim, havia saído com uns amigos dos tempos de escola. Fomos a uma churrascaria, comemos e bebemos bastante. Então, um dos amigos perguntou: "Vamos ao cinema ver um filme?". A galera concordou e eu meio que sem jeito topei (geralmente costumo ir ao cinema com alguma garota ou com o meu irmão mais novo).
Fomos ao cinema. Não sabíamos o que realmente iriamos assistir. De repente um dos amigos olhou para o poster do ator Matt Damon com o capacete de astronauta e disse: "Vamos ver essa aí! Parece que é bom!". Na verdade eu meio que achei a imagem não muito interessante, pois me lembrou um filme que vi ha uns 7 anos atrás na qual o ator Val Kilmer fazia o papel de um astronauta perdido em Marte e que enfrentava um robô maluco. O filme era muito, muito ruim.

Pois bem, um dos amigos pagou o meu ingresso e embarquei na onda de ver um astronauta se perdendo nos confins do espaço. De cara os efeitos visuais eram bacanas e bem realistas. Porém, o que ficou evidente mesmo foi a história. Ao mesmo tempo que o cientista Mark Watney (Damon) se perde após uma tempestade de areia em Marte ele percebe que vai precisar improvisar meios para sobreviver em um mundo hostil.
 
E da-lhe aula de ciências: ele planta em marte batatas ( o que parece difícil, pois o solo marciano parece a primeira vista estéril). Consegue separar gás carbônico e oxigênio para produzir água onde os rios nem mais existem.... No fim o cara aguenta a parada até os cientistas da Nasa lhe enviar um resgate. Saí do cinema extasiado e com vontade de virar cientista de tão bacana é a história. Vários cientistas elogiaram o filme e discutiram o que era verdade e mentira na maluca viagem do personagem. Enfim, 'Perdido Em Marte' é um daqueles filmes que fazem a gente rir, chorar e sonhar bastante!

sábado, 21 de novembro de 2015

O Equivoco da Arte na História dos Povos


Ontem se comemorou no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Se espera um dia em que não se precise mais criar dias especiais como este ou do Dia da Mulher, para que percebermos que todos os indivíduos em suas diferenças são importantes. Não fazendo distinção da cor da pele, a religião ou o gênero.
Dito isto, podemos enfim, analisar como  a arte muitas vezes se torna um veículo do preconceito, às vezes de forma involuntária. Neste caso quando a arte é utilizada como veículo de narrativa histórica todo um pouco de cuidado nunca é demais.
Hollywood, por exemplo, sempre surpreende em cometer erros que podem parecer simplórios mas, que ajudam a divulgar erros equivocados. Alguns povos e culturas muitas vezes retratados em filmes e séries de TV, e até em novelas (no caso do Brasil) muitas vezes são mostrados de forma distorcida ou incompletos em sua totalidade sociocultural.

Os povos do Egito Antigo (à exemplo) sempre são mostrados em películas americanas de forma caricata ou mal representados. Há muito tempo que se discute-se em meio acadêmico se os egípcios antigos eram realmente negros ou brancos como mostram os filmes.
O que se sabe é que o Egito foi dividido em negro e mestiço. Nunca branco como alguns historiadores europeus colocavam até então. Um Egito negro existiu ao sul do rio Nilo que era dominado pelos povos núbios. O povo de Núbia era muito avançado para a sua época e com isto dominaram posteriormente o Egito e provocou inclusive a sua unificação (até então existia o Egito do Alto e o Egito do Baixo Nilo).
Estátuas e desenhos deste Egito negroide ficaram para a história. Em seguida, depois do Antigo Império, o Novo e o Médio ficaram conhecidos pelas pirâmides e por um povo de pele mestiça.

Somente no final do império é que começaram a surgir cidadãos egípcios de pele mais clara ( um exemplo disso foi Cleópatra que era filha de uma egípcia que se casou com um soldado romano). De certa forma nos filmes épicos antigos que passavam nas matinês imaginar um Egito menos branco era improvável. Ainda mais que atores negros em Hollywood eram quase desconhecidos ou pouco procurado pelos estúdios neste período. Assim sendo coube ao ator russo- americano Yul Brenner interpretar o temível rei Ramisés no antológico 'Dez Mandamentos' de Cecil B. Demille.

Em 'Deuses e Reis' de Ridley Scott temos um faraó branco de olhos azuis e todo um elenco egípcio todo caucasiano e os poucos atores negros que aparecem são somente mostrados como escravos, o que historicamente não é de todo correto, já que mesmo que os Núbios não tivessem mais poder sobre o Egito nesta época, ainda assim eram mais representados. De certa forma o filme que melhor mostrou os egípcios foi a animação 'O Príncipe do Egito' nos anos 90.
Atualmente na Rede Record a versão à brasileira dos 'Dez Mandamentos' tem agora Sergio Marone fazendo o papel do mesmo rei e assim como Brenner longe historicamente do que seria o Ramisés pesquisado pelos historiadores e arquiológos. Mesmo que muitos discordem de tal argumento não se pode fingir que ele não existe.

Assim também, em Hollywood os atores asiáticos e indianos são retratados como meros figurantes ou personagens caricatos que muito não acrescentam na adversidade cultural. Mesmo vivendo em um mundo globalizado e os laços de contato culturais estão mais estreitos, ainda assim, temos visões de estranhamento do que vemos.

Muitos criticam a cultura indiana somente pelo o que vem nas novelas e esquecem que a ficção novelística muitas vezes não recorre ao que é verdadeiro sobre esta cultura. O mesmo descaso está  em alguns noticiários que não mostram os dois lados dos povos islâmicos. O Estado Islâmico que provocou terríveis atentados em Paris não representa os povos islâmicos em sua maioria pacíficos.
Enfim, espero que o dia 20 de novembro não seja somente o Dia da Consciência Negra, mas também o Dia da Consciência Humana!   

domingo, 15 de novembro de 2015

Arte e Teratologia (quando o feio é bonito!)


A palavra teratologia talvez, não seja muito conhecida por quem não convive no meio científico. A palavra é a junção do termo grego: monstro + estudo = estudo de monstros ou deformidades, surgida nos primórdios da medicina de Hipócrates ainda na Grécia Antiga.
Inicialmente estudava-se os conceitos de pessoas bonitas ou feias segundo a visão filosófica grega da época em que a estética física supostamente transparecia o que a pessoa era emocionalmente por dentro da alma. Isto é, quem possuía queixo proeminente, rosto jovem e corpo atlético e saudável, seria uma pessoa de boa índole; em compensação quem tinha cabeça desproporcional, rosto com rugas ou tez rude, magro ou obeso denotava uma pessoa de má conduta.

Hoje visto como atestado de preconceito e até certa arrogância do povo grego, o método de estudar a forma física das pessoas aliadas ao emocional gerou inúmeras escolas e porque não, entrou em nosso inconsciente coletivo. Quem nunca sofreu com a discriminação seja pela cor ou por suas roupas em um shopping ou ônibus levante a sua mão!

Crescemos ouvindo estórias infantis que contam que o príncipe encantado ou a princesa são loiros bonitos com tez européia, enquanto o vilão se veste de negro ou tem aparência de velho e ranzinza. Daí para o vilão se tornar um lobo monstruoso ou uma bruxa assustadora é um salto.
De certa maneira a arte esteve durante muito tempo à serviço de manter este conceito (vide as esculturas
antigas de bestas monstruosas digladiando com os heróis em cenas em que se percebe quem é o bem e o mal). A própria mitologia grega com Cronos ( um monstro horrível que devora os filhos) e Zeus (o deus mulherengo e poderoso que derrota o próprio pai bestial) ratifica tal pensamento.

Foi a partir do final do seculo XIX que a teratologia começou a mostrar a que veio tanto nas ciências quanto nas artes. A descoberta de materiais radioativos e a primeira grande explosão da bomba atômica, que devastou o Japão, fez que cientistas debruçassem para entender como crianças e até animais poderiam nascer com deformidades que até então eram tidas como resultado de uma maldição divina ou presságios demoníacos tão propagados na Idade Média.

Um pouco antes dessa época, pintores como George Grosz, Edvard Munch e mesmo antes deles como Odilon Redon, Fusili e William Blake, colocavam em suas telas cenas e figuras grotescas para assustar e fascinar o público. Na maioria das vezes a teratologia na pintura entrava como um subtexto para discutir a politica e a sociedade.

Dentre os artistas do século XX, Francis Bacon e Jenny Saville desnudam um mundo onde a obsessão pelo sexo e até pelo corpo volumoso em excesso ganham um olhar assustador. Estes artistas também tiveram como aliados temáticos o mundo homossexual que até então vivia escondido se aflorando diante dos novos comportamentos da sociedade pós era hippie.

Mais tarde R.H. Giger desmantelaria a beleza clássica substituindo musas bonitas por monstros rastejantes e obscuros criando a partir daí o surrealismo fantástico, mais próximo de um Hieronymus Bosch do que de um Salvador Dalí.

Hoje, a busca por corpos perfeitos tanto por homens quanto por mulheres, às vezes, geram figuras que mesmo sem intenção denotam o grotesco. O exagero em cirurgias plásticas e procedimentos com botox deformaram rostos lindo de modelos de outrora, além da musculação massiva e o uso de anabolizantes terem deformado corpos de fisiculturistas. Enfim, a teratologia está na moda!


sábado, 7 de novembro de 2015

Ficção Cientifica à Japonesa: O Estranho Mundo de Shinya Tsukamoto


O cinema nunca deixa de me surpreender. As vezes temos que sair da caixinha dos velhos filmes americanos e buscar coisas novas. A própria Hollywood nos últimos anos tem se alimentado do que é produzido fora de suas terras. Vide sucessos como 'O Homen que Não Amava as Mulheres', filme sueco e que ganhou uma releitura norte americana ha alguns anos. Também temos os filmes de terror asiáticos como 'O Chamado' que ganhou uma versão made USA e que deu um gás aos desgastados filmes de fantasmas e monstros.

Eu e meu irmão (cinéfilo de carteirinha) assistimos sempre que podemos muitos filmes nos finais de semana e buscamos muitas vezes ver o que o cinema francês, alemão, russo, coreano, sueco e até indonésio tem produzido. Tem ora que a garimpagem dá resultado e acaba sendo a descoberta de alguma perola cinematográfica.

É neste ponto que resolvi fazer uma postagem sobre o cineasta japonês Shinya Tsukamoto. O nome pode até ser desconhecido para muitos, mas eu vou dizer: vale apena correr atrás de suas obras! A primeira delas eu descobri por acaso na internet e se chama 'Tetsuo: O Homem de Ferro'.
A película foi realizada em 1989 e se trata de um genuíno exemplo de filme de ficção científica bizarro. Filmado em preto e branco e com trilha sonora eletro-industrial, tem como história um homem que literalmente se funde a pedaços de metal até virar o tal homem de ferro do título. Porém, a transformação é violenta e assustadora. Só para citar um frame do filme, o tal homem de metal tem suas partes genitais substituídas por uma broca...

Este filme fez que Tsukamoto ficasse bastante famoso fora do Japão e ganhando honrarias em vários festivais de cinema fantástico na Europa. Seus filmes, contudo não ganharam tanto espaço em grandes mídias e por isto, é um dos cineastas do estilo cinema alternativo. Depois de 'Tetsuo' Tsukamoto ainda dirigiu 'Tetsuo: O Homem Bala' e 'Tetsuo: O Homem Martelo' todos durante os anos 90 e 2000.

Muitos tentam classificar os seus filmes, pois eles não são fáceis de assistir inicialmente. Alguns críticos o colocam no estilo terror gore ( terror com cenas com muito sangue e violência), outros o classificam como um diretor de ficção científica (a temática da robótica e muito comum em seus filmes), mas também, existem o que o colocam entre uma influencia do cinema expressionista alemão e até o cinema surrealista de um Buñuel.
Enfim, quem se interessar vale correr atrás e descobrir os trabalhos deste estranho e fascinante cineasta.

Cinebiografia de Shinya Tsukamoto:

Tetsuo- O Homem de Ferro (1989);
Hiruko- O Goblin (1991);
Tetsuo II- O Homem Martelo (1992);
Tóquio Porrada (1995);
Balé de Balas (1998);
Gêmeos (1999);
A Serpente de Junho (2002);
Vital (2004);
Neblina (2005);
Feminino (2005);
Detetive Pesadelo (2006);
Detetive Pesadelo 2 (2008);
Tetsuo III- O Homem Bala (2010).