sexta-feira, 5 de junho de 2015
Sessão Contos Bizarros: O Sacerdote que Invocou o Diabo
Este fato ocorreu em uma pequena cidade que ficava perto de Cocalzinho, GO. O pastor Clodovaldo era conhecido por suas pregações incisivas e fortes. Nenhum fiel saia do templo sem ficar extasiado com suas palavras que segundo os seus seguidores eram enviadas por Deus. Como resultado a igreja sempre estava cheia e cada vez mais pessoas corriam atrás de suas pregações.
Em menos de três anos, as reuniões que aconteciam em um pequeno mercado alugado já não era suficiente para tanta gente. Foi necessário então arrumar um lugar maior e logo os fiéis se reuniam não mais em um mercadinho, mas em um terreno que fora comprado pelo pastor. Um enorme templo fora erguido e tão logo se tornou um ponto de referência da pequena cidade.
A maioria da comunidade era de evangélicos, mas também havia católicos e alguns espiritas e umbandistas.
O pastor Clodovaldo andava com um carro de último tipo e sempre trajando bons ternos.A felicidade material era refletida e tida como exemplo em suas pregações. Dizia que sem Deus, não importa o sonho, ele só realizaria com a vontade Dele. O pastor também cuidava de um orfanato com ajuda da mulher e sempre que podia pedia aos fiéis que participassem do bazar que servia para tal missão.
Enfim, o pastor Clodovaldo podia se sentir realizado como homem de bem e antes de tudo como um filho de Deus. Contudo, ele não estava satisfeito e achava que sua tarefa de levar o evangelho não estava de todo completa. A sensação de falta vinha de seu vizinho de nome Pedro. O homem no alto de seus 40 anos de idade, cabelos grisalhos e que usava óculos, segundo diziam as más linguas, de tanto estudar.
Pedro era um professor que anteriormente havia se formado em administração. Bastante culto costumava sempre andar com um livro debaixo do braço franzino. Usava sempre uma camisa de gola polo branca e meio puída. Falava muito pouco com os vizinhos e era mais visto de vez em quando no boteco próximo a sua casa.
Nos últimos meses a vida de Pedro não andava muito bem: sua esposa, a Ruth, lhe abandonou por não aguentar a vida que levava. Já que o salário de professor não lhe dava chance de comprar um carro novo e outros mimos.Se achando preterida em relação do amor do marido aos livros, ela resolveu sair de casa e covardemente deixou com Pedro os três filhos.
Sem ter medo da situação o homem continuou trabalhando e ganhando pouco, mas sem nunca deixar de cuidar das crianças que eram pequenas. Nunca ninguém ouviu Pedro reclamar de nada, pelo contrário, trabalhava e sempre de cabeça baixa saia com um livro debaixo do braço e com um modesto sorriso no rosto. Ele poderia ser um exemplo de perseverança, porém, o pastor Clodovaldo não achava o mesmo.
Ele soube que o professor era ateu e por isto não frequentava a igreja, aliás, nenhuma religião lhe chamava a atenção. Diziam que por causa de anos de estudos o homem deixou de acreditar em Deus. A comunidade falava mal dele pelas costas dizendo que se ele acreditasse no Altíssimo a sua mulher não teria o abandonado. O pastor Clodovaldo diversas vezes deixou na casinha do correio da casa de Pedro uns folhetos falando das reuniões da igreja. Pedro, no entanto, não sentia interesse em ir ao templo.
Para o professor ir a biblioteca pública era mais atrativo que ouvir a pregação do pastor. Percebendo que o ateu não iria pelos problemas que passava a igreja, o pastor viu que precisava mostrar com um duelo de ideias.Um dia foi até a casa do professor e bateu na sua casa. O homem de óculos atendeu e ao contrário do que o pastor poderia pensar foi bem recebido. Os dois começaram então um duelo de ideologias dignas do tempo da Santa Inquisição.
O pastor dizia que o professor deveria ir a igreja para poder resolver os seus problemas. O professor disse que não precisava ir a igreja pois, estava tudo bem com ele e com seus filhos. O pastor replicou dizendo que nenhum ser humano estava bem sem Deus ao seu lado. O professor disse que sempre viveu a sua vida com ou sem a presença de Deus. O pastor insistiu que se o homem fosse a igreja se livraria do mal e até poderia ser que sua mulher voltasse para casa. Já irritado, o professor disse que não acreditava em mal algum e duvidou que existisse um Inferno.
O pastor ficou chocado com tais palavras e vendo que o homem não mudaria de opinião foi embora. Sem dormir à noite Clodovaldo ficou pensando em como poderia fazer com que Pedro deixasse de ser ateu. Depois de muito raciocinar chegou na conclusão que se Deus não chamava o homem, deveria o medo pelo Diabo resolver o problema. No outro dia o pastor foi a um terreiro de umbanda (claro, que sem os fiéis saberem) e pediu que o preto velho fizesse um favor.
O preto velho sorriu ao não acreditar que o crente estava em seu templo pedindo ajuda. O pastor explicou que a ajuda não significava uma tregua, pelo contrário, nenhuma das crenças deveria se misturar. Disse que se o umbandista pudesse trazer um espírito para amedrontar Pedro, este passaria a acreditar no mundo sobrenatural e iria rezar para Deus. O preto velho sorriu novamente com um cachimbo na boca. Falou que se o pastor quisesse tal feito deveria ele fazer um despacho em uma encruzilhada próxima da casa do ateu. Somente deste jeito o espírito ruim iria assusta-lo.
Sem ter alternativa o pastor fez o tal despacho (a contra gosto, lógico) e esperou dar meia noite para deixar na encruzilhada perto da casa do ateu. O tempo passou, virou dias, depois semanas e enfim, meses. Nada do professor ateu ir a igreja. Ele continuava normalmente indo para o trabalho com os livros debaixo do braço e com o sorriso modesto no rosto.
Com frustração o pastor resolveu pedir explicações ao preto velho. Reclamou que a mandinga não estava funcionando como deveria. O preto velho sorriu e disse que breve o espírito ruim iria aparecer. O pastor saiu do terreiro revoltado. Enquanto voltava para o templo avistou Pedro ao longe indo para casa. O pastor gritou o seu nome e foi em sua direção.
Pedro parou e percebeu que um carro em alta velocidade de cor preta vinha em direção do pastor. Quando o pastor que estava correndo viu que o carro estava perto, não teve tempo de reação.O carro atropelou Clodovaldo que caiu ao chão como um saco de papel. Pedro largou os livros e foi correndo socorrer o homem. Vertendo sangue pela boca e com respiração ofegante, Clodovaldo viu ao lado de Pedro que lhe acudia uma estranha figura enegrecida e de olhos vermelhos. Era o espírito ruim que estava sorrindo atrás de Pedro. O pastor pediu perdão a Deus por ter feito uma escolha errada e morreu. Dizem que esta história é totalmente verídica e ensina as pessoas a não mexerem com o que não conhecem!
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