terça-feira, 17 de setembro de 2013
Escultura Barroca
Está ocorrendo no Museu Nacional dos Correios (CSC, quadra 04, bloco 5) a exposição intitulada "A Sagrada Família" contendo mais de cem obras do período barroco no Brasil. Não tem como não se emocionar na releitura dos evangelhos feitos por artesão (maioria ex-escravos e mestiços) que sem instrução privilegiada de época souberam contar à sua maneira uma já conhecida história.
Sem o contato com o mármore e a improvisação do uso da madeira e da pedra sabão, além da argila; os artistas brasileiros souberam criar um barroco próprio que se difere em muito do que era feito na Itália e nos países baixos. Pobres e analfabetos os artistas não tiveram contato com a emergente escola francesa que a coroa portuguesa trouxe durante a fuga da família real para o Brasil. Ainda bem, pois diversos historiadores de arte mais tarde perceberam que o Neoclássico pendia para a afetação muito mais que o Rococó e os exageros ornamentais do Barroco. O academicismo que mimetizava a arte clássica e que depois seria motivo de contenda entre os pré-impressionistas e realistas, não contaminou os escultores barrocos tupiniquins.
Assim o drama da Paixão de Cristo e outros temas bíblicos que tiveram força com as intervenção missionárias, ganharam originalidade nas mãos de mestres e artificies na maioria anônimos. Se Aleijadinho continua sendo o ícone no gênero, não se pode esquecer que em outros estados além de Minas Gerais floresceu trabalhos tão distintos e ironicamente amalgamados por diversos artistas.
Para quem tem dificuldade de diferenciar a arte da Renascença e a arte barroca (tema que sempre exponho para os meus alunos na escola em que leciono) a exposição "A Sagrada Família" colocou as diferenças em franca evidência. Enquanto os trabalhos escultóricos de Michelangelo e Donatello ( por exemplo), configuram o mimetismo da arte escultórica greco-romana ( corpos musculosos e harmonioso e contra posto e rostos compenetrados) as estátuas barrocas como Bernini na Itália e de artesãos nordestinos procuram serem mais didáticas em relação a história que inspirou a criação da escultura (fora o lado emocional nos rostos das estátuas e o poli cromatismo delas).
Claro, que no período grego já existiam estatuas pintadas, porém no Barroco, e principalmente brasileiro, pintar esculturas dá uma nova perspectiva e vivacidade ao tema. Você vê a estátua do Cristo com rosto retorcido e sangrando e deixa de não se perguntar 'se não seria um homem de verdade morto'. Este hiper realismo do Barroco que tardiamente chegou até nós ( não podemos esquecer que quando o Barroco chegou ao Brasil era uma estética ultrapassada na Europa impressionista) deu frescor que até então parecia destruído pelo rebuscamento e apelo 'brega' do Rococó. No fim a arte que temos é tão uma mistura de barroquismo, arte colonial, rococó e neoclássico que ficou patente em nosso padrão estético inconsciente. Basta reparar nas roupas ornamentadas das mulheres modernas e do exagero de cores que habituamos a colocar em nossos objetos particulares e pintura de nossas casas.
A influência do modo de escultura barroca é tão forte que muitos artesãos do país fazem uso dela ( e me incluo nisso mostrando uma de muitas esculturas de durepox, porém inspiradas na estética barroca) seja no improviso de materiais (vi artistas que usavam de tudo para fazer esculturas de massa de papel passando por madeira de coqueiro) ou no fato de ignorar os modos acadêmicos da harmonia padrão das estátuas clássicas.
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