Sebastião era o típico cara tímido. Morava com a mãe e sendo filho único ganhava muita atenção da doce velhinha de quase 72 anos. Não era muito de sair a noite. Passava a boa parte do tempo assistindo a programas de auditório e series policialescas. Não tinha namorada e não tinha amigos.
Para não dizer que era um homem totalmente solitário, criava um gato preto de nome Judas. Sebastião tinha um emprego: trabalhava a quase dez anos no IML da cidade de Timbó. Era mais um lugarejo que uma cidade na verdade, porém como toda localidade pequena todo mundo se conhecia. No IML de Timbó quase ninguém trabalhava. Tudo porque quase ninguém morria. A maior parte da população era de velhos e que já beirava a casa dos cem anos. Com poucas mortes nem o cemitério da cidade funcionava. Quando alguém morria era um verdadeiro alvoroço, faltava soltar fogos e ter uma festa, só da falta que dava de ver um enterro.
Certa noite chegou o rabecão na cidade em alta velocidade. Os tripulantes do veiculo vieram deixar no IML o corpo de uma vítima de afogamento. Sebastião que trabalhava especificamente na necropsia começou a se preparar para o serviço: pegou uma daquelas macas de ferro e trouxe todo o aparato para abrir o defunto. Quando o cadáver foi posto na maca de ferro, Sebastião levou um susto. O defunto era uma linda moça no alto de seus vinte e poucos anos. Ela tinha cabelos longos e pele amorenada.
Delicadamente Sebastião tirou as vestes da defunta e começou a preparar o exame de corpo de delito. Como não tinha muitos funcionários no IML Sebastião trabalhava sozinho. Com luvas e um bisturi nas mãos Sebastião já estava pronto para começar o seu trabalho. Contudo, ele exitou. Olhou fixamente para a moça e ficou mais um pouco admirando a sua beleza fria.
Começou a alisar a pele sem vida do cadáver. Na sua cabeça imaginou como seria a morta em vida: poderia ter sido uma boa filha, poderia ter sido uma garota que gostava de se divertir e enfim, por sua beleza devia atrair a atenção de vários rapazes. Sebastião então imaginou que se tivesse conhecido a moça em vida quem sabe não poderia te-la chamado para sair, ir ao cinema ou curtir uma festa, sei lá...
Sebastião então se viu apaixonado pela recém morta. De repente uma ideia estranha passou pela sua cabeça. Olhou para os lados e foi até a porta da sala de necropsia para ver se algum guarda viria. Vendo que ninguém aparecia, Sebastião correu até a maca onde estava a defunta. Olhou para a morta com um olhar de compaixão e então...deu um beijo na boca já azulada da morta. Para um cara que nunca arrumou uma namorada Sebastião parecia satisfeito com a situação que passava.
Perdidamente apaixonado pela defunta como um adolescente que tem a primeira namorada, Sebastião resolveu dar mais um beijo no seu amor morto. levantou a cabeça caída do cadáver e como que imitasse um galã de novela resolveu dar um beijo cinematográfico. Fechando os olhos resolveu beijar o seu amor.
Os lábios se tocaram e Sebastião beijava a defunta como se ela estivesse viva. De repente o inesperado ocorreu! A defunta abraçou Sebastião com força. Os olhos dela se abriram e pareciam vermelhos como o Inferno. Sebastião não acreditava no que estava acontecendo. Debatia-se contra o cadáver que o segurava com toda força do mundo.O pesado corpo da defunta caiu sobre o de Sebastião e este veio ao chão.
O guarda da portaria ouviu o barulho e resolveu ver o que estava acontecendo. Chegando na sala de necropsia não encontrou nem Sebastião e muito menos o corpo da moça morta. No chão havia apenas o bisturi que Sebastião segurava e uma poça de sangue.
Depois de anos ninguém mais soube de Sebastião e muitos tentam entender como ele desapareceu sem deixar pistas. Essa história é até hoje muito contada pelos arredores de Timbó!