domingo, 24 de maio de 2015

Homenagem ao Filme Mad Max


Como é bom relembrar os anos de nossa adolescência. Tive uma grande emoção no cinema ao assistir o filme (que na minha modesta opinião já é o melhor do ano): Mad Max A estrada da Fúria. Obra prima do diretor australiano George Miller.
Para a geração de hoje talvez o nome do filme não provoque tanta comoção assim... Mas a galera que tem 40 anos como eu, com toda a certeza se sentiu voltando aos bons tempos em que os filmes de ação se resumiam a boas histórias e cenas espetaculares e inverossímeis.
 
Três décadas depois e os carros envenenados e as figuras bizarras do mundo do policial neurótico Max Rockatansky voltam à ativa. Uma pena que Mel Gibson (o eterno Coração Valente) não reprise o papel principal.
Tirando isso vale apena assistir! A trama ainda se passa num futuro apocalíptico. As cidades foram engolidas pelo deserto provocado pela poluição e combustível e água são tão preciosos quanto comida. É neste mundo onde as pessoas matam por qualquer coisa que Max vive e luta para sobreviver.

Saí do cinema tão fascinado pelo visual e os personagens do filme que fiz uma escultura em homenagem. Peguei um manequim velho e customizei com durepoxi, tinta acrílica e sucata e no fim... Fiz uma obra bem estranha!

Um amigo meu fã de rock pesado ficou de 'olho grande' na peça e já pediu para fazer uma igualzinha para ele colocar de enfeite em sua moto anos 60. Será que fica legal?!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sessão Contos Bizarros


Do Outro Lado

 

Ana Lúcia levantou esbaforida da cama e percebeu que estava atrasada para o trabalho. Logo hoje quando apresentaria para os acionistas da empresa que atua um novo projeto na venda de um produto de grande escala.

Formada em publicidade desde 2003, Ana Lúcia foi o que podemos chamar de uma garota batalhadora. Filha de uma empregada doméstica e sem um homem para chamar de pai, viveu a vida toda lutando por um lugar ao sol.

Enquanto outras garotas pensavam em ídolos da TV e em namoro, Ana Lúcia queria mesmo era estudar e dar uma vida de conforto que sua mãe nunca teve. Passava horas estudando e também dividindo o tempo em ser balconista de uma perfumaria do shopping.

Enquanto atendia os fregueses sonhava em ter um negócio próprio, ser a sua própria patroa, como costumava dizer aos colegas de serviço. Como gostava de revistas de moda pensou em ser designer, depois viu que gostava mesmo era de outro ramo: publicidade.

Depois de passar no vestibular depois de muito ‘ralar’ noite à dentro com pilhas de livros, conseguiu a tão sonhada vaga em uma das melhores instituições do ramo. Sempre pensando em algo a mais fez outros cursos e procurou estágios que pudessem engrandecer o seu currículo. Nesta luta toda acabou trabalhando em importantes empresas até chegar à chance de ter um cargo de chefia em uma das maiores empresas do setor publicitário.

Agora estava ela em seu terninho importado e com um carro de ultimo tipo correndo apressada pelas congestionadas estradas do Rio de Janeiro. Antes de partir deu um beijo no marido, também publicitário, e nas crianças. Claro que não podia esquecer da mãe, mulher de fibra e que esteve sempre ao seu lado. Deu um beijo em sua testa e acariciou as suas mãos envelhecidas e marcadas pelo trabalho braçal.

Por um momento antes de partir deu um olhar de sentimento de paixão pela família e pela bela casa que tinha. Acariciou os moveis e depois pegou apressadamente seu notebook e sua maleta de projetos e foi em grande carreira para o seu carro. O transito parecia mais selvagem que de costume: motoristas e motociclistas disputavam espaços com ônibus e caminhões de grande porte. O barulho de buzinas era tão irritante quanto de sinais que apareciam de forma sistemática pelos trajetos.

Enquanto dirigia Ana Lúcia percebeu que seu celular tocava constantemente. A sua concentração no volante a impedia de atender ao telefone. Como em toda cidade de grande trafego a moça acabou pegando um congestionamento. Aproveitou a parada forçada e resolveu pegar o celular e ver a ligação. Para a sua surpresa era uma das secretárias da empresa que estava chamando.

A secretária disse que a reunião ocorreria com atraso, pois, muitos dos acionistas não haviam chegado à empresa. Ana Lúcia soltou um suspiro de alívio e também de desapontamento, se desesperou á toa.

Aliviada resolveu relaxar e ouvir uma música enquanto o congestionamento prosseguia. De repente um alvoroço se fez. Um motoqueiro via em alta velocidade e pelo jeito não conseguia controlar o seu veiculo. Ana Lúcia nem conseguiu esboçar uma reação quando o motoqueiro foi projetado para o pára-brisa de seu carro ao bater a moto na lateral.

O corpo do motoqueiro atravessou o vidro e acertou em cheio Ana Lúcia que não teve como se esquivar. Depois do golpe a moça perdeu os sentidos. Ela via tudo branco. Depois tudo ficou escuro e um enorme silencio surgiu. Ana Lúcia começou a ver cores que se digladiavam diante de seus olhos. Um arco-íris deformado que logo foi ganhando a forma do rosto de seus filhos e de seu marido que a olhavam com os olhos cheios de lágrimas.

A sua filha dizia emocionada:

-Mamãe você vai ficar bem!

Ana Lúcia também emocionada respondia para a filha:

-Eu estou melhor agora minha filha.

A criança continuava a chorar e pelo jeito não havia escutado o que a mãe teria dito. Ana Lúcia então falou novamente que estava bem. Mas os filhos pareciam não escutar.

Ana Lúcia então tentou levantar da cama, contudo o seu corpo parecia não obedecer. Tentou então esticar as mãos para tocar os filhos. Sua mão levantava, mas não conseguia tocar as crianças. Quanto mais se esforçava mais parecia que seus filhos estavam longe do seu alcance.

Começou a gritar pelo nome do marido e depois de ver que este não ouvia, começou a gritar por um médico:

-Doutor, por favor, me ajude! O que está havendo comigo?

De repente Ana Lúcia sentiu uma leveza reconfortante. E Percebeu que já não estava na cama. Não entendera como de uma hora para outra estava de pé no canto do quarto do hospital. Viu que estava perto dos filhos e do marido e tentou um contato com eles. Caminhou até a eles e quando esticou a sua mão para tocá-los percebeu que não conseguia.

Do nada começou a ouvir vozes e o quarto começou a brilhar. A luz cegante tomava conta do recinto e Ana Lúcia começou a sentir um calor estranho. As vozes entoavam um cântico suave e ao mesmo tempo aconchegante. Ana Lúcia se deixou levar pelo canto e então fechou os olhos.

Um estranho silencio tomou conta novamente da moça. Sem perceber Ana Lúcia começou a levitar e percebeu que agora não estava mais no quarto ou em meio à luz. Um mundo avermelhado se fez diante de seus olhos. E no meio do intenso vermelho figuras negras de olhos amarelos começaram a aparecer.

Ana Lúcia sentiu um calafrio. Seu corpo ficou paralisado e na mesma hora uma das estranhas figuras tocou o seu braço. Outro ser pegou em seu pescoço e logo a garota percebeu que os monstros queriam levá-la para algum lugar.

Enquanto lutava Ana Lúcia gritava pelo seu marido para que este viesse a ajudar. Contudo, seu marido não aparecia. Os monstros com sua força puxavam a moça e tentavam levá-la para um portal com colunas gregas cinzentas e adornados com gárgulas. O desespero tomou conta de Ana Lúcia que lutava para se soltar dos monstros, mas não tinha forças para tanto.

Quanto mais lutava a moça, mais os monstros demonstravam maior força. Ana Lúcia começou a lembrar dos filhos, da mãe e do marido, vertia lagrimas em pânico. Chorando e soluçando ela perguntava por que Deus havia abandonado naquela situação. Um dos monstros disse a ela que Deus não poderia intervir. Que ela estava condenada ao fogo do Inferno.

Ana Lúcia não entendia porque teria que ir para o Inferno. Nunca fez mal a ninguém pelo que saiba e nem deixou de ajudar alguém. Sempre amou a sua mãe e seus filhos. Tentou ser uma boa esposa e respeitou o marido. Por que tal injustiça lhe era aplicada?

Quando pensou em desistir de lutar e se entregar aos demônios, Ana Lúcia então sentiu um vento levar o seu corpo para longe dos monstros. Como se fosse à mão de Deus que transportava uma pena, a moça se viu levitar novamente e indo parar em meio uma luz. Quanto mais à luminosidade aumentava mais Ana Lúcia sentia-se calma e pensava que nunca estivera tão bem em sua vida.

Passado alguns minutos Ana Lúcia foi transportada para outro lugar. Olhou para os lados e viu que estava em algum lugar florido. O perfume da primavera chegava refrescante as suas narinas. Enormes e frondosas arvores tomavam conta do local. Um pouco mais ao longe ela avistou um pequeno número de pessoas vestidas de preto.

Era um velório que estava ocorrendo e Ana Lúcia percebeu que o lugar era na verdade conhecido. Tratava-se do cemitério metropolitano. Ana já estivera neste lugar antes para o sepultamento de um amigo. Pelo jeito estava havendo outro e ela foi para ver de quem era.

Olhou para ver se tinha pessoas conhecidas e encontrou a sua mãe e também seus filhos e seu marido. Também estavam seus companheiros de trabalho e alguns dos acionistas que ela queria ver na bendita reunião. Pensava consigo quem estaria sendo sepultado ali. Ana Lúcia esperou o caixão baixar na cova para em seguida ver quem era o defunto.

Após o fim da cerimônia todos os participantes foram indo embora lentamente, menos os filhos e o marido de Ana Lúcia. Estranhando a situação Ana foi tentar se aproximar da lápide para ler o epitáfio. Para seu espanto ela viu que o nome na lápide era o seu. O calafrio voltou e a moça colocando a mão no peito sentiu que aquilo que mais temia estava realmente acontecendo...

Ana Lúcia não escapou da implacável mão da Morte!


Após 4 anos de coma finalmente Ana Lúcia emitiu sinais de vida e pode ter alta do hospital. Ela relatou todas essas experiências surreais depois do acidente. Para os psicanalistas e estudiosos da neurologia os sonhos e imagens de coma podem ser um processo do cérebro em tenta lidar com as memórias acumuladas. Todavia, para a maior parte das pessoas os sonhos na verdade seriam mensagens ou viagens através de um mundo além. Talvez Ana Lúcia jamais consiga ter certeza se realmente esteve em seu próprio funeral ou contatou demônios que queriam sua alma. A crença de cada um fala por si mesmo!

 


sábado, 9 de maio de 2015

Interestelar, Mad Max, Automata: O Futuro Sombrio nas Telas


O futuro... Quem nunca imaginou como seria o amanhã? Prever com antecedência  o que virá, seja as catástrofes ou as coisas boas da vida? Quem sabe inventar a bendita máquina do tempo que pirou a cabeça do escritor cyfy H. G. Wells e influenciou outros tantos contos e filmes? A humanidade passa boa parte do seu tempo pensando no que virá no outro dia muito mais do que no presente.
E isso é ruim (perguntaria você do outro lado da tela)? Claro que NÃO! Se pensarmos bens foi o desejo de prever o futuro que fez o homem realizar feitos antes impossíveis como voar e criar o computador, por exemplo.

O interessante é que muitas previsões (com suas devidas proporções de erros e probabilidades de acertos) acabam realmente acontecendo. No cinema então... Grandes filmes já nos mostraram o que poderia vir a acontecer e que no fim aconteceu. Quem não se lembra de quando criança ao assistir a Star Trek  e ver os personagens se comunicando com aparelhos que pareciam os celulares atuais? Ou as videoconferências que já apareciam em filmes como Perdidos no Espaço? Ou o super computador que o Batman tinha na batcavena no seriado dos anos 60 com todas as informações do mundo sem mesmo antes existir a internet?
Recentemente assisti a dois filmes que me fizeram pensar em como o cinema imagina o nosso futuro. A maioria dos filmes atuais já debate o esgotamento do planeta devido o uso exagerado dos recursos naturais o que antes, aliás, nem era pensado. Ainda mais que nos filmes de ficção dos anos 50, 60 e 70 a bola da vez eram os conflitos nucleares.

Com o fim da guerra ideológica entre comunismo e capitalismo, os autores de ficção e cineastas resolveram focar em temas como o fim da humanidade por meio do mau uso do planeta pelo homem. Para a geração atual o tema da ecologia está onipresente e ainda mais com a crise hídrica em nosso país. Mas me lembro de quando criança ao assistir ao seriado do herói japonês Spectroman ouvir o narrador falar que 'num futuro próximo o ar, a água e tudo o mais seriam letais para o homem' devido a poluição de dejetos que contaminam o solo. Quem diria que o Spectroman estava certo!? Olha a dengue e os virus matando milhares de pessoas pelo mundo!

Interestelar e o aquecimento global
O aquecimento global é um dos temas do filme do diretor inglês Christopher Nolan (Batman Begins). A terra ficou coberta de poeira e a falta de chuva levou as plantações a baixa produção em um futuro bem próximo. O mundo regride tecnologicamente ( a Nasa deixou de existir) e a história de que o homem visitou a lua é vista como um mito. Porém, um astronauta aposentado (Matthew McConaughey) é solicitado para uma experiência secreta e única: encontrar um novo planeta para os humanos! Para isto o astronauta abandona a família e ruma para um buraco negro (que acreditam servir como ponte para outros planetas e dimensões).Além do tema ecológico o filme também analisa a viagem no tempo por meio das teorias de Einsten e Isaac Newton de forma brilhante.

Robôs como ameaça ao homem
A velha briga entre homens e máquinas já existia no cinema desde Metrópolis e Exterminador do Futuro e Matrix. Mas em Automata do diretor Gabe Ibañez e estrelado por Antonio Banderas, a ameaça não são robôs e sim, o homem. Em um futuro pós aquecimento global e com baixa população, corporações criam robôs empregados para ajudar os poucos humanos que vivem no planeta. Seguindo os protocolos que foram criados pelo escritor Isaac Asimov e que inspirou filmes (Eu Robô e Homem Bicentenário) as máquinas servem os homens até que uma delas passa a agir por conta própria. Os seres humanos começam então a ver as máquinas como uma ameaça. Um dos melhores filmes que discutem o que é afinal o ser humano e o existencialismo.

A luta pelo combustível em Mad Max
Mad Max foi o primeiro filme de ficção que assisti quando moleque na velha Tela quente nos anos 80. O filme de George Miller e então estrelado por Mel Gibson, já trazia o discurso do aquecimento global e a falta de comida. Para piorar, tudo começou quando os governos entraram em crise pela uso abusivo do petróleo. As já conhecidas guerras entre ocidente e oriente pelo ouro negro e os desastres ecológicos levaram a humanidade ao caos. O mundo regrediu a grupos bárbaros que andam no deserto com carros feitos de sobras de sucata e com código moral da lei do olho por olho. O filme dos anos 80 era pessimista em relação ao homem com o ambiente mostrando que toda a humanidade teria um fim de acordo com as atitudes grotescas dos seres humanos.
Para quem gosta de ficção cientifica e bater um papo filosófico estes filmes valem apena assistir.
 


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sessão Contos Bizarros: O Filho Acorrentado


Foi no interior de Manaus que se espalhou a história de seu João Neto. Homem do campo e que vivia longe da cidade. Seu João era baixinho, de nariz grande e com uma cicatriz aparente na face, também era coxo e tinha surpreendentemente braços musculosos. Com tal aparência parecia difícil que ele viesse arrumar um par algum dia.
Por sorte casou com dona Toninha, que assim como seu João Neto, não era lá muito bonita, porém era muito prestativa e como dizem no interior 'bastante trabalhadeira'. O casal vivia em uma casa simples com poucos moveis e tendo como protetor um cachorro magro e fedorento de nome Sultão.
Os dois tiveram 7 filhos, todos meninos, e todos morrendo um por um de forma trágica. Somente o sétimo filho sobreviveu. Os poucos vizinhos que os conheciam nunca viram o seu filho, e até achavam que o casal estava inventando-o, já que ninguém o tinha visto.
Contudo, era comum perto da casa deles ouvirem gritos e barulhos estranhos. A quem diga que podia ser um fantasma, para alguns podia ser um cão do mato ou coiote, e na pior das hipóteses uma onça.  Os gritos às vezes, pareciam insuportáveis e de tão assustadores que muitos caçadores se comprometeram a ir caçar a suposta fera.
Seu João Neto estranhamente desconversava sobre o assunto. Dizia que nunca ouviu barulho nenhum. Nem um pio de coruja ele ouvira próximo de sua casa. Muitas vezes ficava irritado com as perguntas sobre o assunto. Sua mulher, mais calma, era quem conversava, mas de forma quase que mínima para não chamar a atenção do marido rabugento.
De vez em quando, seu João andava pelas redondezas encima de seu pangaré magrelo e cheio de moscas. Com espingarda na mão ele também carregava um saco pesado. Dentro do saco levava coelhos e capivaras mortas. Com certeza o velho gostava de carne de coelho, poderia pensar a comunidade. Mas será isto mesmo?
Claudomiro era um vaqueiro da região que tinha pouco mais de 20 anos. Costumava pescar no rio próximo a casa de seu João Neto e achava que o velho escondia alguma coisa. Percebia que seu João voltava com o saco cheio de bichos mortos e os levava para um celeiro nos fundos da casa. Ficava quase que 50 minutos lá. Enquanto o velho ficava no celeiro os estranhos barulhos e gritos aconteciam. Depois o velho saia e trancava o celeiro com montes de cadeados e medeiras na porta.
O que será que acontecia nesse celeiro? Com esta dúvida Claudomiro resolveu investigar a casa do seu João. Um dia o rapaz esperou o velho e sua mulher saírem de casa. Mal os dois cruzaram a estrada de chão para fora da propriedade, Claudomiro correu para a casa deles.
Sorrateiramente o rapaz entrou na casa e não viu nada de interessante: duas cadeiras, uma mesa, uma geladeira velha e em uma estante improvisada, uma TV antiga. Satisfeito com que  viu Claudomiro resolveu ir ao que lhe interessava: o celeiro.
Olhou o celeiro e viu que tinha muitos cadeados prendendo a porta. Voltou a casa e não encontrou nenhum molho de chaves. Pensou em como poderia abrir a porta e teve que improvisar uma chave com um arame enferrujado.
Com muito esforço destrancou todos os cadeados e então pode abrir a porta do celeiro. O rangido da porta assustava e uma escuridão era presente no interior do recinto. Por sorte Claudomiro tinha um esqueiro e o acionou para poder enxergar no breu.
A luz iluminou de forma que o rapaz enxergava penumbras e tentava identifica-las. Viu que tinha um armário velho de ferro e o chão batido estava com manchas que pareciam ser de sangue. Também havia ossos espalhados no chão (provavelmente dos bichos mortos que seu João trazia). Sentiu um fedor de podre forte no lugar e quase o vaqueiro vomitou.
De repente algo lhe chamou a atenção: uma enorme corrente estava se mexendo. O vaqueiro deu um engulho e com medo começou a imaginar o que estava preso nela. Tentou focar o objeto com o esqueiro e viu uma figura encolhida gemendo.
Com medo o vaqueiro pegou um canivete que escondia na cintura e se preparou para o pior. Quando levantou o objeto perfurante viu que a figura era um menino de talvez uns 10 anos. A criança soluçava baixinho. Claudomiro ao mesmo tempo que ficou assutado teve raiva em ver uma criança acorrentada em um ambiente daqueles.
O vaqueiro então disse em voz baixa ao garoto:

-Calma menino! Eu vou tirar você dessa corrente.

Quando o vaqueiro iria cometer a ação levou uma paulada na cabeça. Quem desferiu o golpe foi seu João Neto que estava atrás sem ele perceber.
Claudomiro ficou tonto e não entendendo o que estava acontecendo ensaiou um ataque ao velho. Porém, para a sua surpresa o menino o agarrou por trás. O menino tinha uma força descomunal e Claudomiro só percebeu que estava perdido quando viu que a criança tinha  a aparência monstruosa de hibrido mitológico de humano e caprino.
Seu João Neto apenas assistia a cena: seu menino mordendo e dilacerando o pobre rapaz que foi salva-lo. O velho sorriu e então falou:

-Por hoje você já teve seu jantar, meu filho!

Nunca mais a comunidade viu Claudomiro. Dizem que ele saiu da cidade, mas a verdade foi outra. Até hoje na pequena comunidade do interior de Manaus se ouve os estranhos gritos e barulhos mata à dentro.