sábado, 30 de abril de 2011

Exposições de Arte parte IV

Retorno mais uma vez com informações maneiras sobre as exposições que estão ocorrendo em Brasilia. Até agora tivemos exposições que não ficaram nada a dever com as que ocorrem no eixo Rio-São Paulo. Tivemos Tarsila do Amaral, Fernando Botero, Hélio Oiticica somente nestes ultimos cinco meses.

Agora trago informações de uma exposição que aguardo à muito tempo: Islã, Arte e Civilização. Está exposição estará nos dias 26 de abril até o dia 3 de julho. Isto é, você tem três meses para ir ver obras históricas dignas de museu etnográfico em terra brasiliense. As pessoas costumam reclamar que não vêem exposições como está por aqui e 'danam a meter pau' na arte contemporânea. Quero só ver a disculpa que as pessoas irão arrumar para não verem está bela exposição.

O CCBB reuniu um acervo que constam de livros antigos, pedaços de palacios e esculturas em pedras datadas do século IX até o XIV. Este periodo é rico em informações porque foi nestes tempos que o islamismo expandiu-se no Ocidente e em partes da Asia e da África.

Os artistas islamicos priorizam a escrita e trabalham com ela na arte do arabesco e formas geometrizadas com requinte e detalhismo. Podemos ver também a importância da religião na vida deles, desde lindas iluminuras das paginas do Corão, até a uma lápide. Na exposição também, são mostrados astrolábios, e livros cientificos escrito pelo sábio Avicena. O que prova uma civilização com um teor intelectual muito grande. Um exemplo é os estudos matemáticos dos arabes que usamos até hoje.

Com os conflitos no Égito e os fatidicos casos de terrorismo, vale apena ir ver está exposição. Quem sabe tiramos assim o nosso preconceito em relação aos islamicos!Deixo como dica de leitura um livro que comprei a pouco tempo chamado 'Combatentes de Alá' da Editora Larousse e escrito pela cientista politica Ayesha Jalal. O livro conta a história da Jihad e como um conceito religioso foi sendo deturpado até virar uma simbololia terrorista.Vale a pena ler!

Cinema X Literatura: a visão do diretor de cinema sobre um mito


O cinema... um passaporte para um outro mundo! Uma máquina do tempo que nos leva ao passado e o futuro em forma de imagens que se movimentam diante de nossos olhos. Os atos heróicos, o romance e o drama que batem forte ao coração. Gosto muito de cinema. Amo a sétima arte e costumo sempre que posso ver pelo menos uns três ou cinco filmes no final de semana. Dificilmente encontrei alguem que não gostasse de ver um filme. O cinema é cultura! É diversão!

Porém, nem sempre podemos levar a frase 'que uma imagem vale mais que mil palavras' a sério, ainda mais se não sabemos do que a imagem se trata. Fui ontem assistir ao filme do 'deus do trovão' Thor. Gostei muito: tinha efeitos bacanas, uma história legal, atores bons...só que tinha um único problema. Muitas pessoas podem não saber quem foi Thor. E aí o que é para ser diversão pode virar erro de conhecimento.
     
O filme trata de um super-heroí que foi inspirado na mitologia nórdica. Se você nunca ouviu falar da mitologia nórdica precisa conhece-la para não assistir ao filme e achar que tudo aquilo é  verdade. Thor é uma divindade escandinava que dominava os céus e por isto, era o deus do trovão. Seu pai Odin (wotan) era um deus que adorava combates e guerras e por vezes era muito cruel com a humanidade. O irmão de Thor, Locke, era o deus dos trapaceiros e controlava a grande serpente que um dia consumiria a Terra. Segundo as lendas escandinavas o  mundo seria destruido com a fatidica batalha entre Midgard ( a Terra) e Asgard ( o mundo dos deuses) provocada por Locke e os terriveis gigantes de gelo (seres que habitavam a Terra antes dos homens e dos deuses). Este dia seria chamado de Ragnarok (uma especie de apocalipse da mitologia nordica).

Se a molecada não ir atrás de pesquisar e ler uns bons livros, vai achar que o filme é uma biografia da mitologia nórdica. O que de fato não é! Como eu disse o filme é muito bacana, contudo, ele não retrata a mitologia de Thor como ela realmente é. O mesmo aconteceu no filme 300 e no Furia de Titãs: o personagem do Xerxes foi um conquistador muito sábio e propagador do mundo persa e não um afeminado cheio de percings como no filme dos 300. Na mitologia grega Perseus morre de forma trágica após combater o Craken e não fica com a Io, uma ninfa que nem sequer consta na historia original grega.
     
Em outras palavras, podemos assisitir a estes filme e nos divertirmos com eles. Porém, temos que ter cuidado e não leva-los como fato histórico. Os diretores costumam dar uma visão pessoal as estas histórias e as vezes retiram muitas informações em troca da diversão. Por isto, assista ao filme e leia os livros para comparar.

sábado, 23 de abril de 2011

Sessão Sai Capeta: fenômenos sobrenaturais

"Existe muito mais entre o Céu e a Terra, que possa abarcar toda a vã filosofia." Esta frase dita pelo celebre escritor William Shakespeare evoca muitas questões em nossa mente. A primeira delas é que nunca podemos afirmar algo com total certeza e outra é que tudo pode ser possivel ou na pior das hipoteses impossivel de ocorrer. Quanto a primeira questão é só lembrar da Idade Média, quando a Igreja afirmava com todas as forças que a terra era o centro do universo. Depois que Galileu Galilei percebeu que talvez o mundo fosse esférico e não achatado como pensava o clero, as coisas mudaram. Não podemos ridicularizar a Igreja por isto, ainda mais que ela usava a Biblia, fonte de saber incontestável da época, como base para as suas afirmações.
   
Alguns dias atrás encontrei em um sebo um livro que li quando era adolescente (nem faz tanto tempo assim) que se chamava 'Eram os deuses astronautas'. No livro o autor defendia que as grandes civilizações como a egipcia e a sumeriana teriam tido contato com extraterrestres. O que explicaria o avanço dessas civilizações em épocas remotas. Hoje a teoria de Erich von Däniken são motivo de piada no seio acadêmico entre os estudantes de história e arqueologia. Mas, não podemos dizer que ele estivesse errado, já que, culturas como os sumerianos e até mesmo aqui os Astecas e Maias ainda possuem fatos obscuros não solucionados.
O que pode ser que tudo seja possivel, pois nenhum possibilidade deve ser ignorada.
 
No meio de tantas possibilidades existe os chamados fenômenos sobrenaturais. Sim! Aqueles eventos que costumamos pensar que são estranhos e porque não dizer assustadores, por fugirem do que chamamos de racional ou lógico. Um desses fenômenos que mais me chama a atenção são os chamados estigmas. Feridas abertas que surgem do nada na palma das mãos e na planta dos pés dos que dizem ouvir e ver Deus. O promeiro estigmata conhecido foi São Francisco de Assis. Ele não realizou nenhum milagre em vida (não curou doentes, não fez aleijados andarem e nenhum cego enxergar) porém, após a sua morte seu corpo ficou marcado pelos estigmas: as feridas que sangravam constantemente mesmo após a sua morte. Estas marcas segundos os estudiosos são semelhantes as feridas que Jesus Cristo sofreu durante a crucificação. Podendo ser assim no individuo que as possui uma prova de fé e amor em Deus.

Outro fenômeno são as possessões, que hoje em dia viraram motivo de chacota devido aos filmes de exorcistas e aos pastores picaretas que aparecem na televisão. A Igreja leva este assunto muito a sério, pois ela procura evidências cientificas para saber se uma pessoa está realmente possuida ou não. Muitos casos de possessão são na verdade perturbações mentais como esquizofrenia e paranóias. Por isto, antes de levar algum pseudo possuido ao pastor deve-se leva-lo promeiro a um psiquiatra. Existem registros que datam dos Evangelhos passando para a Idade Média destes fenômenos com ou quase nenhuma explicação cientifica satisfatória.
     
Outro caso interessante é a da Transcomunicação: pessoas mortas que se comunicam com as vivas através de aparelhos eletrônicos. Este fenomeno apareceu primeiro na Alemanha na década de 40 e depois surgiram varios casos semelhantes em outras partes do mundo. Aqui no Brasil temos o caso da psicografia, na qual, um individuo (o médium) usa seu corpo como instrumento de comunicação entre os vivos e os mortos relatando o mundo além através da escrita.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Monografia de pós-graduação: Das palavras de Dante ás imagens de Bosch

Prometi mostrar aos que acompanham o meu blog o minha monografia de pós-graduação. Nas minhas primeiras postagens enviei somente a introdução. Agora mostro um pouco mais desta monografia apresentando o primeiro capitulo:

               CAPITULO I


               IDADE MÉDIA


1.1-Das trevas para a luz

A Idade Média é um período na história que sempre causou calorosos debates. Houve uma época em que somente o século XIII era foco de estudos: cruzadas, Inquisição e poder desmedido do clero. Segundo estudiosos como Hilário Franco Junior autor do livro A Idade Média: Nascimento do Ocidente (1986) a Idade Média Central (séc. XII e XIII) e a Baixa Idade Média (séc. XIV e XV) deixaram mais registros que a chamada Primeira Idade Média (séc. V e VI). As Cruzadas e a Peste Negra entraram para a história e simultaneamente levaram a Idade Média a ser conhecida como uma era de obscurantismo e ignorância.
Estudiosos como o norte-americano William Manchester (2004) esmiuçaram uma Idade Média desprovida de glamour ou de fantasia a qual o homem contemporâneo e os românticos do século XIX cultuavam. Nos livros de História e nas escolas e universidades, a Idade Média era uma ‘Idade de Trevas’, como bem ressaltava o poeta Petrarca (1304-1374). Com o tempo, contudo, outros estudiosos como Jacques Le Goff (2008) e o próprio Franco Junior procuravam não analisar a Idade Média com a visão iconoclasta do homem contemporâneo e sim como ela poderia ter sido.
Mas a questão seria a Idade Média ou como os historiadores a veem? Alguns historiadores como Marc Bloch (2002) ressaltam que uma ‘história mal entendida’ pode obscurecer fatos importantes e assim levar a descrédito fatos relevantes. Deve ser por isto que a Idade Média tem uma fileira de historiadores que a amam ou a odeiam. Parece que durante um período odiar ou ‘demonizar’ a Idade Média era o mais correto.
Logicamente que a Peste Negra é uma mácula na história deste período, assim como a Inquisição e as Cruzadas. O que não se pode esquecer é que o eurocentrismo, a visão do europeu como um macro universo onde tudo gira ao seu redor, ainda vigente nos livros de história foi quem potencializou estes fatos, transformando fenômenos que assolaram a Europa durante o século XIII e XIV em calamidades de escala globais, dignas das pragas do Egito bíblico. O mesmo eurocentrismo acabou por criar uma aura de romantismo, onde o mítico e o ilusório passaram a predominar. É neste momento que entram os contos de fadas, os monstros e as aventuras cavaleirescas em busca de relíquias sagradas. Mas como entender a discrepância entre o mágico e um não tão glamouroso mundo medieval?
O ponto talvez seja entender que a história (como disciplina) não deve se prender a datação de fatos, como se tudo girasse em torno de um finalismo (a partir de uma origem) onde o historiador deveria chegar. Por isto, perguntas como ‘o que?’, ‘onde?’, ‘quando?’. Para Bloch o historiador sincronizaria fatos não para simplesmente catalogar, mas, para ver o porque dele ter acontecido, verificando a ação do homem no tempo, algo que é continuo e não estático no espaço-tempo.
No caso específico da Idade Média, a compreensão da mentalidade medieval precisaria de estudos e formações específicas. Segundo o teórico Patrick Gadner em Teorias da História (1984) o desenvolvimento da inteligência humana passaria por três estados teóricos de formulação intelectual: o estado teológico, o metafísico e o científico. Estes três estados gerenciariam métodos distintos na qual a intenção é entender o espírito humano e como este sonda a sua trajetória na história.
No estado teológico a investigação do homem está voltada para a ação da natureza, mas, o finalismo desta ação seria desencadeado por fenômenos sobrenaturais, esta ação sobrenatural seria arbitrária e explicaria tudo que está no universo. O nível metafísico é uma ampliação do nível teológico, onde o comportamento humano e suas ações além da natureza seriam resultados de forças de entidades ou personificações abstratas do agir humano. O terceiro e último estado seria o científico. O espírito humano percebe que não poderá chegar ao sentido final do fenômeno, porém, por observação de dados e reprodução destes percebe como ocorre o processo que leva um fenômeno a acontecer.
Se seguirmos o raciocínio de Gadner, o homem grego estaria no estado metafísico, com seus deuses tão humanos e tirânicos. Nós homens da contemporaneidade estaríamos no estado cientifico, algo iniciado com os humanistas do século XIV. Então o homem medieval estaria inicialmente no estado teológico, mas, também no estado científico, como uma transição entre ambos. 
De certa forma o pensamento de Gadner demonstra uma ideia evolutiva bem europeizante, na qual o homem ocidental passaria por todas estas etapas e assim chegaria ao seu auge no científico. Uma ideia cientificista, que esquece que muito do pensamento metafísico e teológico encontram-se na história das sociedades em que a cristandade era fortalecida e ainda continua. O pensamento científico que Gadner transparece iluminista propõe que todo o pensamento teológico e metafísico será abandonado com a evolução cultural e científica do homem. Porém, como o tempo demonstra o avanço tecnológico e científico não quer dizer um afastamento do teológico e nem muito menos do metafísico, já que o não controle de eventos naturais como terremotos, vulcões em erupções e maremotos fazem o homem evocar a ideia de ira divina algo hierofânico, muito forte da Idade Média.
Para se entender alguns termos como Idade Média e ’Idade das Trevas’, temos que relembrar fatos, mais precisamente no século XIV, quando os humanistas estavam resgatando os valores greco-romanos na Arte e na Literatura. Segundo Le Goff (2008) o termo Idade Média (media tempora) teria sido utilizado inicialmente pelo poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374) seria como dizer, que uma era chegava ao seu fim. Mas, a ideia de Idade Média tinha outras informações contidas:

 Os homens disso que chamamos Renascimento tinham o sentimento de que a Idade Média era um obscuro período intermediário entre a Antiguidade e o presente que vivia, no qual o culto das letras, da arte, reaparecia. Idade Média: no espírito daqueles humanistas, tratava-se de uma expressão pejorativa (LE GOFF, 2008, p.
Para os renascentistas os avanços sociais e científicos no período entre os séculos XII e XIV eram incipientes. Mais tarde os iluministas do século XVIII, diriam que foi uma época de estagnação intelectual. A historiadora e socióloga Elisa Byinton em seu livro Projeto Renascimento (2009), ressalta que o grande diferencial entre o homem da Idade Média e o humanista estava que o último teria a consciência de tempo, o que para o camponês medieval era um pensar estranho. Sua vida seria um fenômeno espacial linear, ele tinha uma vaga lembrança de um passado remoto e folclórico, mas, o seu futuro para ele não existia, o presente era o agora e terminaria com a sua morte indo de encontro ao Paraíso ou ao Inferno de acordo com as suas ações terrenas e um senso de tempo sazonal, pois era vítima das agruras da Natureza. Porém, a visão humanista que via a Renascença como uma ruptura com a Idade Média também não era correta: “Hoje pensamos que na história não há cisões tão drásticas nem determinadas com tanta precisão e tendemos a valorizar os elos entre os momentos consecutivos, assim como a consciência critica da continuidade histórica. As pesquisas do último século desmistificaram a idéia de ‘Idade das Trevas’ e se dedicaram a identificar os inúmeros vínculos entre Idade Média e o Renascimento”. (BYINTON, 2009, p. 09).
O homem medieval era guiado pela teologia da Igreja, que como uma bússola indicava segundo sua visão estreita sobre o mundo, o seu lugar no tempo. Além da própria visão linear que começava com o surgimento de Adão e terminava no Juízo Final, havia também a visão circular na qual o homem era vítima da Natureza e o tempo escatológico que como uma afirmativa ao tempo linear tinha Deus como motor motivador da existência e seu encontro final com ele no fim da vida.
  Este foi o fator primordial para os iluministas do século XVIII verem a Idade Média como um período de estagnação intelectual: o poderio da Igreja que detinha os livros e tratados filosóficos em suas cátedras enquanto a maior parte da população trabalhava para manter os feudos e os ducados sem nenhum contato direto com a literatura (a taxa de analfabetismo entre os camponeses era muito alta). Segundo William Manchester (2004, p. 21) o analfabetismo era uma característica comum deste período. Por um lado o acesso à leitura era restrito por outro, alguns avanços tecnológicos estavam aparecendo, principalmente no campo, onde a maioria da população se encontrava.
A invenção do moinho que facilitaria a irrigação das plantações ocorrido nos países baixos e o uso de boi no arado no lugar do cavalo aumentou o trabalho e os rendimentos no campo fizeram os feudos crescerem e assim aumentar as construções de cidades e castelos ao redor deles. Como bem coloca o historiador Jean Verdon em um artigo intitulado Camponeses heróis medievais (2008, p. 38).
 O camponês era um homem de poucas posses, tinha uma habitação paupérrima sem nenhum luxo e nem saneamento básico. As vilas ficavam distantes das cidades e as estradas nem sequer existiam somente meras trilhas. Com tantas dificuldades sociais e financeiras a maior parte da população dependeria da religião como elo de ligação com a civilização enquanto sua mão-de-obra servisse ao rei, o duque e ao clero. (continua)

sábado, 16 de abril de 2011

Foto arte II: A fotografia e percepção


Assim que iniciei este blog, uma das minhas primeiras postagens foi sobre a fotografia. Mais precisamente da foto artistica. Hoje em dia graças cada vez mais a nossa situação financeira estável ( não ficamos ricos ainda mas, pelo menos podemos comprar artigos de consumo antes não acessiveis as classes C e D) e a tecnologia cada vez mais prática pode-se fazer trabalhos fotográficos dinânimos. É lógico que nem todo usuário de uma Kannon pode se tornar um Sebastião Salgado, já que antes da máquina o cidadão tem que ter um olhar sensivel e artistico ( e conhevamos nem todo mundo tem estas qualidades).

Procuro sempre dizer que nenhum desenhista nasce com 'dom' ou algo sobrenatural. É a percepção que em algumas pessoas é mais aflorada que faz a diferença. Se você pegar um caderno de desenho e um lápis e começar a retratar os objetos que tem em casa, com o tempo sua mão vai ficar mais leve e agil. Temos que esquecer que conhecemos o objeto retratado, temos que olhar para ele como se fosse a primeira vez. Dessa forma, sua mente não se agarra a sua memória e você passa a desenhar realmente o que vê.
 
Penso que a mesma coisa é com a fotografia (não sou fotografo profissional nem sou artista). Percebo que quando eu foco a lente da camera para algo que penso ser a primeira vez que estou olhando, as minhas fotos ficam bacanas. Não importa se é uma casa, uma árvore ou animal de estimação. Eu finjo que estou cego e então penso estar olhando o objeto como se fosse meu primeiro contato com ele. Depois eu 'clico' e pronto: a minha visão particular esta lá, que nem um aborigene que pensa que a máquina captura a alma.

Esta ocorrendo no Museu Nacional da Republica a exposição 'Fotografia em Revista', onde as principais revistas da Editora Abril da década de 60, 70, 80 e 2000, mostram a história registrada pelo olhar aguçado de fotografos nacionais incriveis. O acervo é tão vasto e bonito que relembrei o tempo em que meu pai tinha a assinatura da Veja quando eu era moleque. A exposição vai ficar de 17 de março a 24 de abril.
   

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A questionável função da arte como documento histórico

A arte é o meio que o homem encontrou para expor a suas verdades. Digo 'verdades' porque não existe uma que seja absoluta, total, que abarque todas as nossas perguntas. Estava dando recentimente uma aula sobre a arte cristã primitiva e como as imagens ajudaram a propagar o cristianismo no Ocidente para os meus alunos do segmento da EJA.
 
Com eles pude analizar o quanto a imagem de Cristo mudava de acordo com as necessidades da Igreja. Nos primeiros anos das perseguições aos cristãos no período de Imperadores como Nero, Diocleciano e Constantino; o Messias aparecia sem barba e mais jovem feito nas paredes das catacumbas de Roma.
Depois no período românico o Cristo já aparece com barba e cabelos lisos. Apartir do século XIV em diante fixa então no incosciente colietivo o Jesus com traços europeus com nariz fino, olhos verdes e cabelo e barba bem ao estilo de astro de rock.
A questão é que não se tem muitos dados históricos sobre o Cristo, e nem sequer na Biblia fala-se de sua aparência. Aliás, A vida dele é envolta de mistérios e duvidas que a ciência até hoje procura respostas. Então, como podemos usar as pinturas sobre ele como documento histórico se a maioria das obras feitas ocorreram anos e décadas depois de sua morte? A resposta é:: não podemos! É um erro usar as imagens feitas para a Igreja como um testemunho do que ocorrera no período cristão, por mais que os artistas tenham usado os evangelhos como base para as suas obras, no fim existe uma adaptação é uma visão pessoal de quem fez a obra e de quem a encomendou.

Outro caso interessante é da obra 'O grito do Ipiranga' feita por Pedro Américo. Esta obra é usada em muitos livros de história como um documento histórico, quase que uma fotografia do dia da Independencia do Brasil. Porém, Pedro Américo não estava no dia em que Dom Pedroassinou o tratado de independencia com a Metropole e a cena do grito nem de fato ocorreu ( tudo foi mais discreto e sem alarde). Inspirado nas pinturas romanticas de Delacroix, Pedro Américo fez uma versão de cavalaria toda cheia de imponência e heroismo.

Outro fato curioso é o painel 'Primeira missa' de Vitor Meireles. O quadro foi feito na França quando o pintor estava estudando arte em Paris. Assim como Pedro Américo, Vitor Meireles romantizou um fato na qual não havia presenciado e usando como base alguns trechos da cartade Pero Vaz de Caminha. O resto foi imaginação e técnica.

No fim poucas obras podem ser usadas como um documento. Elas podem representar o pensamento de alguem sobre um fato de uma época mas não a verdade pura e absoluta. Das poucas obras documentais eu cito sempre a de Hans Holbein e os 'Embaixadores franceses' está sim, uma obra de cunho documental que serviu como prova da politica no periodo do século XV, exaltando a relação da renascença pós-reforma protestante.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Performance: O corpo como suporte artistico

Durante toda a história do homem em busca de expressar o que sentia e pensava, ele necessitou de suportes físicos para tal tarefa. Começou com as paredes das cavernas desenhando o mundo que o cercava com gordura animal e pedras trituradas. Depois ele moldou as rochas criando armas, utensílios domésticos e por fim usando seu próprio corpo como referência para fazer esculturas e monumentos.

Depois ele como um químico foi experimentando novos meios de fazer tinta e de fixar seus desenhos nas paredes de seus templos e palácios. Surgia a tempera, o mosaico, vitrais e depois a tinta á oléo. Quando a tinta começou a ser comecializada pelas industrias os artistas passaram a não mais ter que passar pelo processo de fazer os seus pigmentos. O acesso a telas de linho já prontas também ajudou o já trabalhoso dia-a-dia do artista.
   
No meio do século XVIII aparece Daguerre e sua proto-máquina de fotografia. As pessoas já não sentiam aparentemente a necessidade de contratar um pintor para fazer seus retratos. Era só fazer pose e pronto sua imagem estava quimicamente gravada em um papel fotográfico. E o artista? Muitos reclamaram da máquina como um inimigo mortal, outros começaram a usar a máquina como um processo de criação ( um esboço da imagem que se queria pintar como fazia-se antes com o desenho) com Degas que usava os angulos da máquina como inspiração.

O tempo passou e os artistas não mudavam muito de tema. O lance era retratar paisagens, naturezas mortas ou pessoas. O que mudava era a forma (impressionismo, pós-impressionismo, cubismo...) e assim a arte caminhava. Em 1917, o pintor francês Marcel Duchamp cansado da pintura e do suporte tradicional, desenvolve a ante-arte: pega um urinol de banheiro publico masculino, assina e o manda para uma galeria de arte. Parecendo uma 'brincadeira de moleque', Duchamp jogava na cara da história da arte, que ela precisava se reiventar para continuar relevante.
Após décadas as sociedades passam por transformações essenciais ( a mulher assume o mercado de trabalho, surgem as primeiras grandes guerras,a industria se fortalece e surgem os centros urbanos aglomerados e as filosofias estruturalistas e pós-estruturalistas aparecem nas universidades). Outro ponto é o surgimento do mass media representado pela tv, o jornal e o rádio. Para onde iria o artista em meio a tantas transformações? Poderia ele continuar a retratar paisagens e naturezas mortas?

Com a tv e seus suportes eletrõnicos surgia a video arte, mas antes dela veio a performance. Na performance o artista é o suporte substituindo a tela de pintura. artistas como a ucraniana Marina Abramovicht e o norte americano Vito Aconti, trouxeram a interação de artista e público questionando quem realmente faz a arte:  a arte existe somente pelo artista que faz a obra ou pelo público que a contempla? A arte é somente escultura e pintura?
  
Atualmennte a performance e a video arte andam conectadas e por vezes não sabemos onde começa uma e termina a outra. Pegando o processo iniciado por Duchamp de que qualquer material pode ser artistico, muitos artistas usam desde sucatas e até a internet para criar e questionar a arte. Um exemplo no Brasil é do grupo Corpos Informáticos que usam performances ao vivo com internet e tv.

sábado, 9 de abril de 2011

Quadrinhos de Terror: quando ter medo era bom


Falei recentimente do que chamei de 'quadrinhos da era de ouro'. Aí puxei de memoria outros quadrinhos que gostava. A pouco tempo comprei uma edição especial do personagem de terror adulto Constantine, também conhecido como Hellblazer, da editora Panini da linha Vertigo. Esta linha de quadrinhos pertence a DC Comics a detentora do Super Man e do Batman.

Bem... depois de ler Hellblazer comecei a recordar os gibis de terror que lia na infância. Como toda criança eu tinha medo do monstro bicho papão e de lugares escuros. Também tinha pesadelos após assistir filmes que continham cenas de violência como 'Sexta Feira 13' e o 'Exorcista'. Ironicamente, adorava ler gibis que tinham estorias de lobisomens e vampiros.
    
Costumava folhear as revistas da extinta e saudosa Editora Bloch. A minha preferida era a 'Capitão Mistério', onde as estorias do Drácula e sua filha Mirza eram publicadas. Um dos desenhistas preferidos e que já comentei era o Eugênio Colonnese. Era ele quem ilustrava as estorias do Conde Vlad Tepes, sempre usando o erotismo como valvula de escape, desenhando mulheres esculturais e semi nuas.

Outro desenhista que fazia estorias bacanas era o Shimamoto. Assim como Colonnese, ele desenhava estorias de terror na maioria sobre zumbis com um forte apelo erótico. Estes gibis eram em preto e branco e tinham roteiros até simples mas, todos feitos por artistas nacionais. Aliás, como a tradição de fazer super herois era dos americanos os nossos artistas brasileiros conseguiam espaço no dificil mundo editorial desenhando e escrevendo estorias de terror.

A primeira linha de terror que veio para o Brasil veio dos EUA. A revista 'Contos da Kripta' era um derivado em forma de quadrinhos de um seriado norte americano. Esta revista serviu de base para que desenhistas e roteiristas podessem criar suas estorias e assim desenvolver um gênero que na maioria das vezes era mais voltado para o publico adulto que para o infantil.
Durante os anos 70 e 80 estas revistas junto com o 'Conan o Bárbaro' e a revista 'Heavy Metal' fizeram uma revolução nos quadrinhos ao mostrar que gibi não era somente entretenimento de garoto. Infelizmente nos anos 90 as revistas de terror praticamente sumiram das bancas. Hoje em dia o melhor exemplo de quadrinho de terror e Hellblazer e Walking Dead e algumas reedições dos trabalhos do já falecido Colonnese.
 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O pior dia para a Educação


Ontem as 9:00h da manhã o Brasil recebeu uma das piores noticias de sua história. Em plena euforia de crescimento econômico, em busca de uma estabilidade, de redução de pobreza e de um número cada vez maior de jovens ingressando em universidades, de repente tudo caiu por terra com a morte de doze crianças por um psicopata que atacou uma escola no Rio de Janeiro.
O choro da presidenta da Republica simbolizava o olhar perplexo de uma sociedade que mesmo tendo um alto índice de violência seja em acidentes automobilisticos ou em assaltos, não esperava presenciar um massacre em uma escola. São raro os casos de massacre em escolas no nosso país e costumamos ver isto na tv nos EUA.
No fim do ano passado o Rio de Janeiro passou por uma espécie de 'lavagem de roupa suja' com a policia invadindo os morros e expulsando os traficantes. Depois surpreendentimente houve a cheia do rio que desabrigou e tirou muitas vidas quase que como um tsunami. Mesmo assim o carioca ainda teve otimismo e pulou o Carnaval.
Agora um jovem desajustado de 24 anos, ex-aluno de sua escola destrói o sonho e a vida de milhares de estudantes e suas familias. Como reagir a isto? Como pensar depois de um ato como este? Ontem voltei do trabalho e fui dormir tentando não pensar no que ocorreu no Rio de Janeiro (mas não deu).
Sou um professor e confesso que imaginei o que eu faria se estivesse na mesma situação dos demais colegas de profissão do Rio. Tenho muita preocupação com os meus alunos e sempre espero o melhor para eles. Fico imaginando o que cada um fará de sua vida ao termino do curso. Nunca a gente espera que algo ruim possa acontecer. Mas as vezes a realidade é bruta e cruel demais.

Daqueles estudantes mortos, quantos não poderam mais jogar bola com os amigos, brincar de videogame, assistir a filmes ou ir para o parque.? Quantos futuros medicos, policiais, professores, enfermeiras, cantores, jogadores de futebol o nosso país perdeu naquele massacre?
Não quero julgar o suicida que matou as crianças, porque não sabemos como ele vivia em grupo e nem sabemos como a familia lidava com ele (em muitos casos os transtornos mentais são geneticos). Podemos sim, como responsaveis por futuras sementes questionarmos o quanto estamos realmente interagindo com os nossos filhos e alunos e dando a  eles amor e valores de importancia mais de cunho humanistico que material.